Alexei Navalny saiu do coma na Alemanha e Maria Kolesnikova entrou na
cadeia em Belarus, estado vassalo da Rússia - e tudo lembra a velha
URSS. Vilma Gryzinski:
Vladimir Putin e seus minions, dos quais o mais folclórico é o
bielorusso Alexander Lukashenko, estão vivendo dias arriscados. Para
Putin, o risco maior é de constrangimento.
Alexei Navalny
saiu do coma induzido no qual estava desde ser envenenado com o agente
químico Novichok e pode, eventualmente, relembrar detalhes de como
sofreu o atentado político.
Vivo e consciente na Alemanha, onde recebe tratamento médico, ele é
um problema maior para seus anfitriões: Angela Merkel tem que achar um
meio de condenar, com fatos concretos, a barbárie do envenenamento de um
oposicionista, sem colocar em risco o gigantesco projeto do gasoduto
que aumentará a injeção de energia limpa num país com poucos recursos
energéticos.
O despertar de Navalny, ainda sem informações sobre as sequelas, coincide com a captura de Maria Kolesnikova, alçada a principal figura oposicionista da Belarus.
Os protestos em massa no país são uma espécie de prévia do que
poderia um dia acontecer na Rússia: um líder com grande apoio popular
eterniza-se no poder e vai gastando seu capital político, restando-lhe a
máquina de repressão – e as costas quentes, em virtude da relação de
vassalagem com a Rússia putinesca.
Maria Kolesnikova é uma das três mulheres que se viram alçadas a
líderes da oposição de um movimento que foi crescendo espontaneamente,
com a raiva despertada pela cara de pau com que Lukashenko fraudou a
última eleição presidencial e ainda se deu por vencedor com 80% dos
votos. As outras duas são esposas de candidatos que precisaram fugir.
Kolesnikova, que é flautista e maestrina, foi dirigir a campanha de
um dos oposicionistas que fugiram por causa da repressão e acabou como o
nome mais conhecido, ainda no país, do movimento dissidente
relativamente espontâneo. Na segunda-feira, 7, testemunhas viram quando
foi capturada por agentes em trajes civis. Agora, “reapareceu”, detida,
na fronteira com a Ucrânia.
Em vários sentidos, Kolesnikova e os outros oposicionistas ameaçados
também estão na conta de Putin: Lukashenko, hoje, vive do apoio da Mãe
Rússia. A interferência chega ao ponto em que jornalistas bielorrussos
da televisão oficial que entraram em greve contam ter sido substituídos
põe equipes vindas da Rússia.
País que muda de nome geralmente tem uma história complicada e a
Belarus, antiga Bielorrússia – ou Rússia Branca, uma referência ao fato
de nunca ter sido invadida pelos mongóis, como vários vizinhos – pagou
seu preço em sangue.
Foi anexada pela Polônia, transformada em satélite pela União
Soviética, controlada oficialmente pelos soviéticos no começo da guerra e
invadida pela Alemanha nazista, sobrevivendo com terra arrasada numa
escala quase inimaginável.
Quando o comunismo, contrariando todas as expectativas, desmoronou na
Europa Oriental, o país virou exceção: manteve, já como república
independente, o mesmo esquema de economia estatizada. Evitou a derrocada
econômica que foi tão terrível na Rússia – mas também não se
revitalizou como aconteceu com outros ex-satélites.
Ex—líder da juventude comunista e oficial do Exército soviético,
Lukashenko colocou-se à sombra da grande Rússia e se transformou num
ditador de opereta, do tipo que toma decisões idiossincráticas e frauda
eleições consistentemente para se perpetuar no poder.
E, se der, transmiti-lo ao filho de 16 anos, Nikolai, que arrasta
para compromissos oficiais desde pequeno e não tem mãe conhecida. Kolia
toca piano, posa com armas e, como o pai, joga hóquei no gelo. Faz
sucesso entre as meninas.
Com o apoio de Putin, Lukashenko dificilmente será removido do poder.
As manifestações de protesto são enormes e pacíficas, sem nada do
estilo maximalista que derrubou o governo pró-russo na Ucrânia.
A Ucrânia, justamente, junto com a Polônia e os países bálticos –
todos os que se sentem mais ameaçados pela Rússia – clama por sanções da
União Europeia contra Lukashenko pela palhaçada eleitoral.
Alemanha, França, Itália e Holanda são contra. Ou seja, não haverá
sanções mirando o chefão. Exceto, talvez, se as “mulheres contra
Lukashenko” começarem a aparecer envenenadas depois do chá letal com
assinatura russa.
Está aí, quase que miraculosamente vivo, Alexei Navalny para provar
que imensas reservas de gás praticamente dão imunidade a Vladimir Putin.
E e seus minions, como Lukashenko, aproveitam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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