Haverá anti-comunismo em Portugal? Sim, mas não o suficiente. É um
fenômeno residual. Não chega para nos compararmos com o que de melhor se
faz lá fora. José Diogo Quintela para o Observador - a mesma leniência ocorre no Brasil, onde persistem agremiações de trogloditas ideológicos como PCdoB et caterva:
Nos últimos dias, tenho lido bastantes comentários sobre a Festa do
Avante, classificando as críticas ao PCP como anti-comunismo. Dizem que,
em Portugal, se persegue o PCP por tudo e por nada. Gostava muito de
acreditar nisso, infelizmente não sou capaz. Não consigo ser tão
optimista. Por mais fé que tenha na capacidade do povo português, este é
um daqueles parâmetros em que ainda não estamos ao nível dos países
mais desenvolvidos. Haverá anti-comunismo em Portugal? Sim, mas não o
suficiente. É um fenómeno residual. Não chega para nos compararmos com o
que de melhor se faz lá fora.
O anti-comunismo é mais uma daquelas ideias feitas sobre as
maravilhas de Portugal, repetida para nos sentirmos bem connosco. São
falsas, mas afagam o ego. Como quando garantimos que temos as praias
mais bonitas do mundo ou o melhor marisco. Queríamos ser anti-comunistas
de renome, mas a realidade é muito diferente. O anti-comunismo que
temos (que existe e que até pode ser bom, atenção!) é escasso e
completamente ofuscado pelo mais abundante pró-comunismo.
Por exemplo, no domingo assisti, num canal de notícias, ao discurso
de encerramento da Festa do Avante. Enquanto Jerónimo de Sousa falava,
iam passando notícias em rodapé. Uma delas dizia: “Hong Kong – Polícia
detém quase três centenas de manifestantes”. Isto é, a polícia de Hong
Kong, sob as ordens do Governo chinês, controlado pelo Partido Comunista
da China, convidado da Festa do Avante, deteve 300 manifestantes a
favor da realização de eleições.
Ou seja, ao mesmo tempo que o PCP aparenta ser um partido político
como qualquer outro, é compincha de um partido político que não é como
qualquer outro, na medida em que a China não permite qualquer outro
partido além do PC local.
Quando os comunistas portugueses se queixam de serem perseguidos (ou
quando não comunistas portugueses apontam uma suposta perseguição ao
PCP), esquecem-se que o PCP é julgado por um critério muito mais lasso
do que o que é aplicado aos restantes partidos. Há menos de dois meses,
António Costa foi criticado (e bem) por ter visitado Viktor Orbán e não
lhe ter falado de Direitos Humanos. Tal como o PSD e o CDS são
criticados (também bem) por conviverem pacificamente com o Fidesz,
partido de Orbán, na bancada do PPE. E como o Chega é criticado
(novamente bem) por se dar com a insalubre Frente Nacional. A diferença é
que qualquer um destes partidos, por pouco recomendáveis que sejam, tem
ainda de internar várias centenas de milhares de uigures em campos de
concentração e esterilizar à força mulheres dessa etnia, antes de poder
ser comparado ao PC da China (para só referir uma das suas últimas
façanhas). Ao lado dos chineses, o Fidesz e a FN são meninos de coro.
Tudo bem que são meninos que cantam o Hino da Mocidade portuguesa, mas
ainda assim são meninos. Apesar disso, a censura social sobre PS, PSD,
CDS e Chega, pelas más companhias que cultivam, é muito maior do que a
aplicada ao PCP por confraternizar com um partido com um cadastro tão
sujinho que a única parte limpa é que se refere a limpezas étnicas.
Atenção, não havia só artistas chineses no Avante. A Festa contou com
mais convidados ilustres. Também marcaram presença o MPLA (cleptocracia
angolana de segunda geração), a Associação Yuri Gagarin (antiga
Associação Portugal-URSS, grémio de louvor à ditadura soviética), a
Frente Popular para a Libertação da Palestina (sociedade recreativa
integrante da lista de organizações terroristas da União Europeia), a
Associação Amizade Portugal-Cuba (alguém que diga aos comunistas
portugueses que quando um cubano está ao nosso lado, não é por ser nosso
amigo, é porque tem fome e não se consegue levantar para ir embora) e
uma trupe chamada “Solidariedade com a Venezuela”, cujo nome completo
deve ser “Solidariedade com os senhores que fazem a vida negra ao povo
da Venezuela”. No fundo, uma equipa de sonho, espécie de galácticos das
malfeitorias. Presumo que todos tenham participado nas celebrações dos
150 anos de Lenine. Devem ter soprado as velas. E os cubanos levaram-nas
para casa, que dão jeito quando falta a luz.
Portanto, quando o PCP se vem queixar dos ataques de que é vítima na
comunicação social, é fácil explicar que não tem razão. Qualquer
criancinha de 12 anos pode demonstrá-lo através de um desenho. O que é
um paternalismo irritante, bem sei. Possivelmente, foi por isso que, em
Hong Kong, uma menina de 12 anos foi presa
pela polícia de choque enquanto comprava tintas para um trabalho
escolar. Não fosse pintar ofensas para o Partido Comunista da China.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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