Um
velho sábio mineiro, o ex-governador Magalhães Pinto, comparava a
política a uma nuvem: você olha está de um jeito, no minuto seguinte
olha de novo e está de outro jeito. Mas a nuvem não se mexe sozinha:
depende do humor do clima, depende da direção dos ventos. Hoje os ventos
sopram para o lado de Bolsonaro. Aliando-se ao Centrão, conseguiu
valiosa estabilidade; mantendo-se mais quieto, reduziu intensidade e
frequência das crises. Os R$ 600,00 mensais do coronavoucher
multiplicaram sua popularidade.
Pode
mudar? Pode. Pode piorar para ele? Pode. Mas pode melhorar. Até 2022
falta muito tempo. Até lá, as boas pesquisas vão mostrando a posição de
cada candidato. A pesquisa XP-Ipespe de agora é clara: pela primeira vez
desde maio de 2019, a aprovação ao presidente (39%) supera a reprovação
(36%). Detalhe: a XP não tem como objetivo influir na eleição. Quer
saber a tendência do eleitor para desempenhar sua função, orientar
investidores. E este é o quinto levantamento consecutivo em que aumenta a
aprovação ao Governo e se reduz a reprovação. Reduz-se também o apoio a
um possível candidato que já foi quase unanimidade: a nota dada a
Sergio Moro pelos eleitores caiu de 6,5 para 5,7; a de Bolsonaro subiu
de 4,7 para 5,1. Moro é apontado, em geral, como o maior adversário de
Bolsonaro num segundo turno.
Ainda
em favor de Bolsonaro: 60% acham que o pior da pandemia já passou
(antes, eram 52%). O temor é inimigo de quem está no comando.
O mundo gira
Mas
nuvem muda para um lado e para outro. Quem se acostumou com o
auxílio-emergência de R$ 600,00 não vai gostar da redução para R$
300,00. Vai gostar menos ainda da redução do benefício a zero, em
janeiro. Pode ser que a Renda Brasil atinja R$ 300,00 e mantenha a renda
dos mais pobres. Mas, embora superior à Bolsa-Família e com mais
beneficiários, terá um cenário em que muitos se endividaram para ampliar
suas casas e ainda têm de terminar as obras. O auxílio-emergencial teve
ótimos efeitos, e não apenas mantendo alimentados os mais carentes.
Manteve gente trabalhando, em especial na construção civil. Deu impulso a
comércio e indústria dedicados ao setor, produzindo e vendendo tijolos,
por exemplo.
Mas o que acontecerá se faltarem alimentos nas prateleiras, ou só aparecerem a preços elevados?
Para lá, para cá
Em
parte, a alta do arroz e do óleo se deve aos bons efeitos do
auxílio-emergência: muita gente manteve o consumo, apesar da falta de
emprego, e muita gente passou a comer melhor. Junte-se isso à exportação
e o preço subiu. A saída é óbvia, tanto do ponto de vista eleitoral de
Bolsonaro quanto da economia do país e da saúde da população: é produzir
mais e formar estoques reguladores, para manter o consumo sem elevar
preços. O agronegócio sabe aumentar a produção. É parte da solução, não
do problema.
Como pagar?
Só
que a Renda Brasil, uma ótima ideia, tem custo. Bolsonaro, numa de suas
raras frases a ter apoio de todos, disse que não vai tirar dos pobres
para dar aos paupérrimos. E de onde vai tirar? Do Judiciário, já se
definiu que não; do Legislativo, também não; do Executivo (o Poder que
paga pior) sai alguma coisa – mas sem mexer em gente fardada. Bancos,
privatizações, só no dia em que o Queiroz responder àquela pergunta.
Bolsonaro vetou a lei que perdoava dívidas de igrejas, mas já disse que
se fosse deputado votaria para derrubar o veto e manter o dinheiro fora
do Tesouro.
Como não pagar
A
melhor forma de evitar impostos é a forma legal: é barata e se estende à
família. O jornalista Helio Schwartsman, da Folha de S.Paulo, fez o
teste: com ajuda de advogados do jornal, R$ 420,00 e cinco dias de
trabalho, abriu a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio. Com esse
tempo e dinheiro, tornou-se imune a todos os impostos sobre patrimônio,
renda ou serviços ligados a suas atividades. Pôde ainda designar seus
sacerdotes, também isentos de impostos, livres do serviço militar, com
direito a prisão especial. Como o objetivo era só fazer a reportagem,
fechou a igreja. Mas quem não quiser pagar imposto nenhum estará
abrigado pela lei brasileira.
Comporte-se
O
tribunal do Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, recebeu
anteontem processo administrativo aberto em 2019 contra a Rumo,
operadora de trens, com recomendação de condenar a empresa e multá-la
por infração à ordem econômica. A empresa foi denunciada em 2016 pela
Agrovia, especializada em transporte de açúcar, por criar dificuldades
às concorrentes que dependiam do uso (pago) de seu monopólio dos
trilhos.
A
Rumo é uma das empresas que mais se beneficiarão do redesenho do Porto
de Santos. Os navios que trazem insumos e recebem produtos de empresas
do mesmo grupo econômico carregarão e descarregarão na ponta de seus
trilhos, sem mais investimentos. Os concorrentes, que recorram à lei.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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