O que se vê, hoje, nas grandes metrópoles americanas e em seus entornos, é o resultado das políticas falidas do Partido Democrata, cujos prefeitos administram 18 das 20 cidades mais violentas do país. Flávio Quintela para a Gazeta:
A
câmera de vigilância da estação de metrô ao lado captou a terrível
cena. Um homem caminha em direção a uma viatura de polícia e, de
repente, começa a atirar nos dois policiais que estão dentro. Após
efetuar vários disparos, sai correndo. Os policiais – ela com 31 anos de
idade; ele, com 24 – foram gravemente feridos e passaram por cirurgia
no último sábado à noite. Continuavam em estado crítico até o momento em
que este texto foi escrito.
No
domingo de manhã, o presidente Donald Trump tuitou: “Se eles morrerem,
pena capital com julgamento rápido para o assassino. É a única maneira
de parar com isso!”
Embora
esteja certo quanto à pena merecida pelo atirador caso os policiais
venham a falecer, Trump está errado quanto à maneira de “parar com
isso”. “Isso” é muito mais complicado. O que se vê, hoje, nas grandes
metrópoles americanas e em seus entornos, é o resultado das políticas
falidas do Partido Democrata, cujos prefeitos administram 18 das 20
cidades mais violentas do país (as outras duas são administradas por
políticos atualmente sem partido). Duas das maiores joias americanas
perecem pelo mesmo motivo: em Nova York, que nas mãos de Rudy Giuliani
viu os índices de criminalidade despencarem, abundam assaltos à mão
armada, espancamentos, tumultos e violência de rua; em São Francisco,
uma das cidades mais bonitas do mundo, mendigos defecam e drogados
espalham hepatite em algumas das quadras mais valorizadas dos Estados
Unidos. Outras metrópoles famosas, como Los Angeles, Seattle e
Minneapolis, enfrentam um momento delicadíssimo de convulsão social. E o
que dizer de Chicago, em que 18 pessoas foram mortas de forma violenta
nas 24 horas do dia 7 de junho passado? Esse foi o dia mais violento dos
últimos 60 anos na cidade que costuma contar o número de assassinados
por fim de semana sempre com dois dígitos.
A
única coisa em comum em todos esses lugares é o partido que os governa.
Os democratas de algumas décadas atrás, que defendiam os trabalhadores e
se assemelhavam ao que os trabalhistas são no Reino Unido, não existem
mais. Quer dizer, alguns ainda existem, mas são ignorados pela direção
do partido. Nas últimas duas décadas, as alas mais radicais têm dado as
cartas e ditado a agenda democrata. E, justamente, por isso, movimentos
como Black Lives Matter e Antifa têm florescido e ganhado robustez,
mesmo operando sobre princípios revolucionários, racistas e totalmente
opostos ao espírito de liberdade e justiça que norteou os fundadores da
nação na confecção da Constituição e da Carta de Direitos. A verdade é
que temos hoje, agindo de dentro do país, duas organizações terroristas.
Desde
quando Hillary Clinton referiu-se aos eleitores de Trump como “um bando
de deploráveis”, o “nós contra eles” vem se acirrando dia após dia nas
manifestações políticas da sociedade americana. Ainda que a grande
imprensa faça parecer que o país está praticamente em guerra civil,
convém grifar a frase anterior, que é chave para se entender o que
ocorre hoje na América: há uma polarização dura e extremada na imprensa,
nas redes sociais, nos movimentos políticos, no engajamento dos
influenciadores e na condução dos dois partidos que dividem o comando do
país. Essa polarização, no entanto, não está presente no dia a dia das
pessoas, pelo menos na grande maioria das cidades americanas. Em outras
palavras, as pessoas não deixam de interagir umas com as outras de
maneira positiva apenas porque uma gosta do Trump e a outra não, ou
porque uma é democrata e a outra é republicana. Nunca é demais lembrar,
no entanto, que é sempre a minoria barulhenta que movimenta as notícias e
os acontecimentos, deixando um rastro de ódio e ressentimento por onde
passa. E essa minoria é manobrada pelos movimentos como os citados
acima.
Mas
voltemos ao início deste texto. Os policiais. Se existe uma classe
respeitada pelo americano médio, é a dos policiais. Uma pesquisa
bastante recente do Gallup, feita com 36 mil pessoas, mostrou que menos
de 15% dos americanos não gosta da polícia. Os resultados por etnia e
por orientação política são também interessantes: apenas 22% dos negros
acham que a polícia deveria ter seu financiamento cortado (eufemismo
para “acabar com a polícia”) e, mesmo entre eleitores registrados como
democratas, esse número não passa de 27%. Pesquisas como essa apontam
para uma realidade que parece não ser perceptível às esquerdas da
atualidade: no geral, a população não apoia a maioria de suas políticas e
propostas, pois elas têm pouca ou nenhuma conexão com os problemas
reais das pessoas reais – as cidades citadas no terceiro parágrafo são a
confirmação empírica dessa última afirmação. No linguajar político
moderno, estamos falando do “efeito bolha”.
Se
os democratas insistirem no radicalismo identitário e na defesa de uma
agenda que só encontra reverberação nos núcleos mais “progressistas” de
seus bunkers eleitorais – e não me parece que eles tenham a menor das
intenções em mudar o rumo de suas campanhas –, o resultado das eleições
de novembro apontará para a reeleição de Donald Trump. O atual
presidente tem ganhado apoio até mesmo de fatias inesperadas da
população. No sul da Flórida, por exemplo, a insistência dos prefeitos
de condados majoritariamente democratas em manter as crianças fora da
escola mostrou-se um tremendo tiro no pé, e a proporção de latinos com
intenção de voto republicano tem crescido substancialmente. O recado é
simples: as pessoas precisam trabalhar e para isso precisam que seus
filhos estejam na escola. Novamente, fica claro que os democratas
perderam a conexão com a classe trabalhadora.
Aliás,
acho muito pertinente fazer uma rápida reflexão sobre o voto latino
antes de encerrar essa análise. Muito se fala sobre os imigrantes
latinos virem para os Estados Unidos para buscar sustento do governo e
viver de programas de renda mínima. Nada poderia ser menos verdadeiro. A
grande maioria deles trabalha duro e tem exemplos abundantes de amigos
ou conhecidos que conseguiram atingir patamares de renda e bem-estar
inimagináveis em seus países de origem. Quando um imigrante atinge o
tempo de residência necessário para se naturalizar, é bem provável que
tenha vivido e trabalhado pelo menos cinco anos sob o jeito americano de
ser e de crescer economicamente. São esses os imigrantes que votam. E o
jeito como essas pessoas vivem tem muito mais a ver com o que os
republicanos defendem. Esse fato, aliás, é a base da minha crítica à
política imigratória deste governo, que tem sido incompreensivelmente
dura com os imigrantes que buscam sua permanência dentro da legalidade e
respeitando todo o longo processo ao qual são submetidos hoje. O
Partido Republicano deveria pensar nessas pessoas como futuras cidadãs, e
não como gente que está vindo de fora para piorar o país.
Enfim,
é nesse ambiente que teremos mais uma eleição para o cargo de homem
mais poderoso do mundo. É muita coisa acontecendo, mas tudo parece
convergir para um mesmo fenômeno. Análises que não forem feitas levando
em consideração o que acontece fora da bolha progressista têm grandes
chances de valerem menos que um título do governo venezuelano em muito
breve.
BLG ORLANDO TAMBOSI

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