Artigo de Michael Brendan Dougherty, publicado pela National Review e traduzido para a Gazeta:
Eu sabia que estava tentando o destino quando disse, há uma semana,
que a iminente nomeação de Joe Biden e a pandemia do COVID-19 haviam
esfriado a política dos EUA durante o ano eleitoral. Mal sabia eu que
dias depois estaríamos fazendo analogias com o ano de 1968. O
assassinato de George Floyd por um policial de Minneapolis deixou
pessoas de todos os espectros políticos indignadas. Até o presidente
Trump, em sua maneira cínica, expressou sua raiva pela injustiça do
ocorrido.
Como as autoridades de Minneapolis demoraram a prender o policial que
colocou o joelho no pescoço de Floyd até ele morrer, nunca poderemos
saber com perfeita certeza moral se os tumultos da noite anterior
tiveram um papel importante em sua prisão. Mas duvido que sim.
Devemos considerar os tumultos nos Estados Unidos uma revolução? A
ideia defendida por alguns de nossos intelectuais - a de que os
distúrbios podem inspirar mudanças sociais positivas - é
extraordinariamente fraca. Por quê? Porque os manifestantes não fazem
reivindicações políticas coerentes e não justificam e direcionam sua
violência de acordo com essas reivindicações. Isso explica por que as
únicas realizações políticas que os tumultos geralmente podem
reivindicar são pogroms [Nota do Tradutor: pogroms eram os ataques
violentos anti-semitas promovidos na Europa]. Os protestos não
contribuem muito para reformar, mas podem exilar e expulsar povos
inteiros com medo. Os tumultos não são uma ferramenta para combater a
opressão, são uma opressão em si mesmas. É por isso que tanto veneno
retórico é trocado entre o movimento democrático em Hong Kong, que
sustenta que é um movimento pacífico, e o Partido Comunista Chinês, que
insiste em reprimir o “motim”.
Fui acusado de um duplo padrão ou falta de caridade. Eu escrevi um
livro no ano passado que romanceou a história da Revolta da Páscoa de
1916 na Irlanda, um conflito de uma semana entre nacionalistas
irlandeses e o governo do Reino Unido e da Irlanda bem no meio da
Primeira Guerra Mundial.
E é verdade que a Revolta da Páscoa se transformou em um evento
terrível para Dublin, muito mais terrível do que qualquer coisa que
esteja acontecendo nos Estados Unidos hoje. Grande parte do centro da
cidade foi incendiada. Isso infligiu mais dificuldades às famílias dos
soldados da Primeira Guerra Mundial. Centenas de não-combatentes e
muitas crianças morreram na guerra urbana resultante, que ainda contou
com um incêndio desastroso. Esses são os custos morais mais graves, e
todos os revolucionários devem pesar o mal proveniente de suas ações.
Mas, assim como os honcongueses se esforçam para se distinguir como
manifestantes, e não promotores da balbúrdia, os líderes da revolução
trabalharam duro para se distinguir como revolucionários, e não como uma
simples turba.
Primeiro, eles defenderam a justiça de suas ações contra a Inglaterra
em termos políticos. Mesmo durante os combates, eles pediram aos
dublinenses que deixassem de criar tumultos, pois isso prejudicaria a
causa. Eles usavam uniformes para a batalha. Quando se renderam,
marcharam para as mãos de seus captores. Os líderes aceitaram suas
sentenças de morte como se tivessem ganhado medalhas. Ao fazer isso,
eles não apenas impressionaram seus inimigos britânicos, mas
conquistaram seus próprios compatriotas.
Vimos manifestantes na América tentando fazer a mesma distinção nas
últimas noites. Nas mídias sociais, existem muitos vídeos virais de
manifestantes associados ao Black Lives Matter exigindo de outros
manifestantes que parem de se envolver em atividades violentas ou
criminais. Por quê? Porque eles temem que isso desonre sua causa. A
namorada de George Floyd implorou para que a violência parasse, pois
acredita que isso iria entristecê-lo.
A falta de governança, como a brutalidade policial e a indiferença à
justiça, pode e leva a tumultos e manifestações violentas, porque o
colapso da confiança entre a autoridade e os cidadãos cria uma
oportunidade para o mal e para pessoas sem escrúpulos. E, em casos
extremos, a falta de governança pode levar à revolução, porque cria uma
oportunidade para uma criatura muito mais rara, que é politicamente mais
experiente e disciplinada.
Mas há um enorme abismo entre manifestantes que exigem que a polícia
esteja sujeita ao mesmo estado de direito que o cidadão e os
manifestantes que detestam a polícia porque são criminosos que lucram e
dominam os fracos apenas quando há ilegalidade.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário