Como imaginar que a pessoa indicada para o MEC tinha uma vida acadêmica tão fajuta? Percival Puggina:
O Estado brasileiro resfolega sua incompetência. Custa caro, queima
óleo, roda mal e só ocasionalmente completa o percurso. Os episódios
envolvendo a nomeação de Carlos Alberto Decotelli para ocupar o cargo de
ministro de Educação são exemplos claros disso.
Como imaginar que a pessoa indicada para o MEC tinha uma vida
acadêmica tão fajuta? Exatamente porque isso é inimaginável, era
necessário que algum órgão do governo fizesse essa checagem junto às
fontes mencionadas. Obviamente não é ao presidente que cabe investigar
as competências dos membros de sua equipe. Não é ele, tampouco, que vai
informar-se sobre os conceitos de que desfrutam os indicados nos locais
onde tenham desempenhado atividades. Se Decotelli assumir vai prejudicar
o governo e o trabalho a ser feito no MEC.
A natural circulação das informações, num mundo online, rapidamente
descobriu o que, com facilidade, teria sido esmiuçado se alguém tivesse
feito o seu trabalho. Ou não? O ministro não defendeu tese na Argentina e
sua proposta para esse fim foi rejeitada pela comissão. Da tese que
apresentou para o curso de mestrado na Fundação Getúlio Vargas diz-se
que incluía trechos de outras fontes sem dar crédito aos respectivos
autores. Seu pós-doutorado na Alemanha não aconteceu e não foi obtido
entre 2015 e 2017, tendo ele passado três meses por lá em 2016.
Bem espremido, o currículo do professor periga perder ainda mais
substância. Digo isso porque seu pedido de desculpas ao presidente já
deveria ter sido apresentado e essa novela, sob o ponto de vista
administrativo, lançada no cadastro dos acontecimentos exóticos, com
envio de cópia para uma provável futura investigação sobre crimes de
falsidade ideológica. O mais grave de tudo talvez se revele no fato de o
professor Decotelli haver tentado explicar o inexplicável,
aparentemente numa suposta expectativa de assumir o cargo, como se isso
fosse tolerável e as acusações contra ele, desimportantes.
Não são. Exatamente por não o serem, avulta a responsabilidade de
quem deveria fazer a completa investigação antes de autorizar a nomeação
do professor. Das consequências dessa desatenção, nos livraram – à
nação e ao governo – os olhos atentos da sociedade. Imagine os cuidados
de uma empresa privada de 300 mil funcionários (número de servidores do
MEC), para escolher seu CEO e compare com esse disparate!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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