MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Pandemia: algumas boas notícias, outras nem tanto.


O 'maldito' vai se revelando cada vez mais difícil de enquadrar, mas desde acordo sobre petróleo até controladíssimas reaberturas há pontos positivos. Vilma Gryzinski:

Alguns motivos para começar a semana sem ilusões, mas com um pouco menos de desespero.

1. Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia chegaram a um acordo para limitar a produção de petróleo.

O preço vai subir, lógico, mas no mundo em que vivemos isso é uma boa notícia. A guerra foi iniciada pela Arábia Saudita contra a Rússia e inundou o mercado de petróleo barato exatamente no momento em que começava a crise econômica sem precedentes provocada pela pandemia e a demanda despencava espetacularmente.

Inundar o mercado num momento de derrocada foi altamente prejudicial para todos os produtores, Brasil inclusive. Nos Estados Unidos, o maior produtor do mundo, a indústria do óleo de xisto ficaria simplesmente arruinada.
Agora, os produtores da OPEP Plus vão cortar 10 milhões da produção diária. O acordo é considerado sem precedentes por envolver todo mundo que conta: OPEP Plus, Estados Unidos e outros países do G20.

O acordo indica também que os Estados Unidos, que pareciam aturdidos e até perdidos pelas dimensões cósmicas da crise, estão fazendo o que precisam fazer.

Detalhe: o México só parou de refugar o acordo depois que Donald Trump ofereceu compensar as perdas de produção fazendo cortes nos Estados Unidos (não existe uma empresa nacional de petróleo à qual o presidente americano dê ordens, mas o interesse comum faz milagres).

Donald Trump comemorou em termos trumpianos, claro: “O grande Acordo do Petróleo com a OPEP Plus está fechado. Isso vai salvar centenas de milhares de empregos nos Estados Unidos”.
O acordo é mais uma trégua do que uma solução duradoura. Mas muito, muito melhor do que nada.

2. Trabalhadores de setores não vitais, mas importantíssimos, como construção civil e indústria, retomam atividades hoje na Espanha.

Estes setores haviam continuado ativos mesmo depois do confinamento decretado em 13 de março, mas as horríveis dimensões da epidemia na Espanha, já passando dos 17 mil mortos, levou o governo a determinar a hibernação, a fase em que realmente tudo para, exceto o fornecimento de comida e remédios.

A Itália continua hibernando, mas o governo espanhol decidiu que não dava mais para protelar o “delicadíssimo retorno”.
Delicadíssimo mesmo. Conciliar a necessidade de “achatar” a epidemia e a de salvar o que der de economias devastadas é o problema comum de todos os países afetados pela doença.

A experiência espanhola será minuciosamente escrutinada por todos. Antes de ser superada, nesse terrível campeonato, pelos Estados Unidos, era o país com maior número de mortes em todo o mundo.

O primeiro-ministro, Pedro Sánchez, é de esquerda, o que lhe dá um pouco mais de margem de manobra com sindicatos. Mas, obviamente, tem uma responsabilidade esmagadora. Se houver um aumento significativo de casos, serão debitados nas suas costas.

Os protocolos para os que voltam ao trabalho vão desde a distribuição de máscaras à recomendação específica de que lavem as roupas usadas para trabalhar a temperaturas entre 60º e 70º.
3. Boris Johnson saiu do hospital. Parece anedótico, mas a falta de uma cabeça para coordenar todos os esforços num momento catastrófico, com quase mil mortes por dia, estava pulverizando os esforços do governo.

Sem contar que ele foi eleito exatamente para fazer isso: chefiar um governo – e o da quinta maior economia do mundo.

E o Parlamento manteve a data de reabertura, mesmo em condições excepcionais, para o dia 21. Lembrando que no sistema britânico, o Parlamento é o detentor de todo o poder.

Só o fato de que o país aguentou, nas circunstâncias atuais, uma semana de internação do primeiro-ministro, incluindo três dias de UTI, sem estourar mais ainda do que o inevitável já é positivo.
Mas sem Johnson, parecia estar demorando mais ainda a coordenação do plano para, como na Espanha, o retorno gradual das atividades econômicas.

A Inglaterra ainda está atrás da Espanha em termos de atingir o platô, a palavra mágica do momento, mas os indicadores apontam que vai se aproximando, ao conhecido e trágico preço.

4. A situação em Nova York é a pior do mundo em termos de números brutos.

Em comparação, a Califórnia parece outro país. São 700 mortes até agora – menos do que a metade de um único dia em Nova York.
Com muita coisa para dar errado, incluindo o intenso trânsito da população de origem chinesa, está dando menos errado, considerando-se os padrões atuais.

A densidade populacional muito mais baixa e até o uso intensivo de carros particulares em lugar de transportes públicos, uma caraterística intrinsecamente californiana, são alguns fatores que ajudam a entender um pouco mais as diferenças.

A diferença entre as ordens de confinamento foi de pouquíssimos dias, mas exatamente nos dias que pesaram mais. Começou em São Francisco, em 16 de março. Três dias depois, o regime foi ampliado para toda a Califórnia. No estado de Nova York, veio em 20 de março.

Em matéria de liderança política, os governadores dos dois estados estão quase empatados em popularidade.
Como no Brasil, pelo sistema federativo dos Estados Unidos são os governos estaduais que decretam confinamento, coordenam a assistência médica, erguem hospitais e compram material médico de emergência.

O eloquente e dramático Andrew Cuomo tem 79% de aprovação, um espantoso aumento de 47 pontos. Mesmo em plena mortandade, a população sente que ele está lutando por ela.

Mas o governador da California, Gavin Newsom, tem um resultado melhor ainda: 83% de aprovação. Antes da crise, tinha 42%.

Detalhe intrigante: Newsom membro destacado não da oposição, mas na “resistência” a Trump, tem feito declarações consistentes de agradecimento ao presidente.
“Preciso dizer uma coisa, é um fato. Estaria mentindo aos americanos se não dissesse. Todos os pedidos diretos que ele tinha condições de atender, ele atendeu.”

Trump já retribuiu, dizendo que “estão fazendo um bom trabalho na Califórnia”.

Detalhe mais intrigante ainda: Gavin Newson foi casado com a ex-apresentadora de televisão Kimberly Guilfoyle, a curvilínea e provocadora filha de mãe porto-riquenha e pai irlandês por quem Donald Trump Jr. largou a mãe de seus cinco filhos.

Kimberly e Don Jr. se dedicam em tempo integral ao um PAC, um grupo independente que levanta doações para reeleição de Trump.
Conclusão unânime de raposas políticas: Cuomo e Newson estão alinhando seus cavalinhos para a eleição presidencial de 2024.

E, sim, Don Jr. também tem lá suas ambições.

A cena das covas coletivas na ilha de Hart, em Nova York, mesmo com todas as condicionais – funciona há 150 anos para enterro de corpos não reclamados, não são só vítimas do Covid-19 – são fortes demais, e assim permanecerão, para sustentar a candidatura de um Cuomo? Ou de um Trump?

5. Nunca na história da humanidade houve tantos estudos científicos como agora. Cada vez sabemos mais sobre o novo coronavírus – e sobre seus truques para se replicar e espalhar.
Um estudo feito por 18 pesquisadores alemães, publicano na Nature, levantou uma novidade: o maldito SARS-Cov-2 começa a se replicar na garganta e não nos pulmões, embora isso também aconteça, como se acreditava até agora.

Isso abre a perspectiva de procurar estratégias para interferir antes que infectados comecem a tossir perto de seus semelhantes. Essa forma de contato é muito mais contagiosa do que a pelo toque – abrir uma maçaneta ou tocar num produto na gôndola do supermercado, por exemplo.

Como fazer isso?

Mais uma das perguntas estonteantes dessa pandemia.
“Vencer a pandemia exigiria que as pessoas bloqueassem o meio de transporte preferido pelo vírus – a tosse – antes mesmo que soubessem que são portadoras”, disse o site Daily Beast em reportagem sobre o estudo alemão.

Outra complicação: o processo de produção e atuação dos anticorpos no caso do corona é mais parecido com o de outros vírus como o HIV e o da hepatite C.

Em vez de vacina, exigiria tratamentos com antivirais.

“Os vírus têm uma espécie de gênio maligno que nunca deixa de me surpreender”, comentou o virologista Peter Kolchinsky.

O mundo inteiro procura formas de colocar esse gênio do mal de volta na garrafa. Ou pelo menos limitar sua atuação descontrolada.
 
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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