O Estadão, jornal criado pela família Mesquita, censurou o texto de
Fernão Lara Mesquita sobre o combate ao coronavírus (com informações
relevantes sobre essa luta em São Paulo). Reproduzo aqui o texto que
Fernão publicou em seu blog Vespeiro:
Coronavírus sem politicagem
Os números do Sírio Libanes (cerca de 300 casos, 1 morte) e do
Einstein (mais de 400 também com 1 única morte) comparados com os
índices da rede publica indicam que a precocidade do início do
tratamento é decisiva. Com medo do colapso da rede hospitalar, fizeram a
campanha errada no inicio da epidemia para que as pessoas não fossem ao
hospital diante de sintomas leves e esperassem o quadro se agravar.
Agora “elas estão chegando mortas ou quase mortas aos hospitais
públicos”…
Uma nova forma de tratamento rápido, barato, e que livra os pacientes
das UTI’s e dos respiradores, o verdadeiro fantasma das autoridades de
saude publica nesta epidemia, tem sido usado com grande sucesso nos
hospitais privados de São Paulo desde que foi tentada pela primeira vez e
tirou do estado crítico um empresário que viajou com a comitiva de
Bolsonaro para um encontro com Donald Trump no começo de março e voltou
contaminado.
Acompanhe, a seguir, a matéria que O Estado de S. Paulo recusou-se a publicar.
Muito além da cloroquina
Alexandre Fernandes, 44 anos, empresário de Joinville, esportista,
não fumante, sem nenhuma “co-morbidade”, era um dos membros da comitiva
de Jair Bolsonaro na fatídica viagem a Mar-A-Lago, o resort de Donald
Trump em Palm Beach, Florida, no começo de março de que quase todos os
participantes menos os presidentes brasileiro e americano voltaram
contaminados pelo coronavirus.
Fernandes desembarcou no Brasil dia 11 de março, uma 4a feira,
sentindo um certo excesso de cansaço, dor no corpo e um pouco de febre.
Na 5a ligou para seu médico, o imunologista dr. Roberto Zeballos, passou
no consultório em São Paulo e colheu material. Sábado já tinha o
resultado: positivo para coronavirus.
Domingo começou a falta de ar. Fernandes baixou ao hospital Vila Nova
Star para a primeira tomografia. O pulmão estava cheio de manchas. 20%
comprometido. A saturação de oxigênio baixara a 85 quando o normal é em
torno de 98. Além do cateter injetando 1 litro de oxigênio por minuto
nas narinas, passou a ser tratado com remédios para baixar a febre e
antibióticos para prevenir infecções oportunistas.
Segunda-Feira já não tinha forças para comer nem podia passar sem o
cateter de oxigênio na dose de 2 litros por minuto. Na 3a já não tinha
forças para ir até o banheiro sozinho. Na 4a passou a 4 litros de
oxigênio por minuto. Na 5a o PCR, um indicador de imunologia que marca
inflamação a partir do grau 4, chegara a 14 e o jovem saudabilíssimo de
apenas seis dias antes não conseguia erguer o celular para … despedir-se
da família.
“Senti minha vida indo embora”…
Fez a segunda tomo e a imagem que surgiu era sinistra. 80% do pulmão
estava afetado. Foi para a UTI com os médicos discutindo a iminente
entubação, momento a partir do qual a medicina praticamente se rende e
tudo fica nas mãos de deus.
Mas ele escreve reto por linhas tortas.
Antes da decisão final o dr. Zeballos recorre ao dr. Marcelo Amato,
pesquisador de renome internacional e um dos maiores pneumologistas do
Brasil. Vários médicos consultados pelo Vespeiro reputam-no como “um
cientista”. A sorte estava a favor de Alexandre. Amato acabara de ler um
estudo do Hospital Jinyntan, de Wuhan, relatando 201 casos de pacientes
com nível crítico de pneumonia relacionada ao coronavirus tratados com
um novo esquema publicada apenas três dias antes no Journal of the
American Medical Association (aqui).
O que se relata ali é um tratamento controvertido que envolve uma
espécie de “escolha de Sofia” da medicina. Mas o estado de Alexandre era
crítico, a esposa dele também é médica e a proposta, embora
contra-intuitiva, ia na direção de suspeitas compartilhadas por
imunologistas com experiência no tratamento de quadros pulmonares
semelhantes aos do coronavírus. E, agora, tinha o endosso de um dos
maiores especialistas do Brasil. Todos os ingredientes necessários para
uma decisão de risco como aquela estavam reunidos.
Nas primeiras medições da sexta-feira o quadro tinha parado de
piorar. No sábado o PCR retornara a 12 e iniciou-se a redução da
quantidade de oxigênio injetado via cateter. No domingo o PCR tinha
voltado a 8. Na 3a o cateter de oxigênio já não era mais necessário. Na
4a, 25, Fernandes fez a terceira tomografia e nem os médicos acreditaram
no que viram. “Parece que você fez um transplante escondido. Seu pulmão
está cristalino“. A quinta e a sexta seguintes ainda foram passadas no
hospital para seguir com os antibióticos intravenosos até o fim da série
de segurança, proceder o “desmame” dos esteróides e esperar o resultado
do ultimo teste de coronavírus.
Negativo!
Na sexta à noite, 27/3, Fernandes estava em casa festejando com a família.
Como funciona esse tratamento
Os tratamentos com antivirais cuidam de retardar a multiplicação dos
vírus de modo a dar tempo aos organismos infectados para vence-los com o
seu próprio sistema imunológico. No fundo trata-se de uma corrida. O
sistema imunológico leva um tempo para entender o inimigo com que está
lidando mas, se esse inimigo não destruir a pessoa antes pelos danos
colaterais que vai produzindo nos seus órgãos vitais, o mais provável é
que acabará por decifrá-lo e liquida-o.
É isso que explica porque 85% das pessoas que contraem o coronavírus,
ou não chegam a ter sintoma algum, ou conseguem eliminá-lo depois de
passarem por desconfortos não maiores que os de uma gripe. Essa
porcentagem é a daqueles cujos sistemas imunológicos venceram o vírus
“no 1º round”. Só em 15% dos infectados o vírus provocará danos
suficientes para produzir sintomas mais pesados. E destes apenas 5%
evoluirão para o “2º round” onde os sintomas se agravam a ponto de
requerer hospitalização e implicar risco de morte.
O que acontece com essa minoria?
Um pulmão vai à breca ou por infecção bacteriana, ou por inflamação.
Ou pela combinação das duas coisas. Os problemas com o coronavírus são
dois. A facilidade com que se espalha e, principalmente, a velocidade
vertiginosa com que se multiplica dentro dos organismos contaminados.
Por razões ainda desconhecidas o sistema imunológico de alguns
indivíduos, diante da invasão, desencadeia uma reação “exagerada”. São
as chamadas “tempestades de citoquinas” nos pulmões onde passa a
acumular-se um tal excesso de umidade e matérias orgânicas que, mesmo
antes que qualquer infecção oportunista por bactérias chegue a
instalar-se, os alvéolos, bloqueados, não conseguem mais perfazer a
função de tirar oxigênio do ar e injetá-lo no sangue.
Nas pessoas idosas, que convivem com cargas mais pesadas de bactérias
em seus organismos, o pulmão é o primeiro órgão atacado diante de
qualquer fator de aumento de vulnerabilidade. O mesmo acontece com as
chamadas “co-morbidades” ou doenças anteriores. Nos pacientes
enfraquecidos pelo ataque do vírus essas doenças prévias agravam-se até
matá-lo. Daí o tratamento padrão consistir em cobrir o paciente com
antibióticos para estimular seu aparelho imunológico contra as bactérias
e com injeção forçada de oxigênio – por cateter nasal, primeiro; por
respiração mecânica, no extremo – para evitar que uma pneumonia o mate
antes que seu sistema imunológico possa eliminar as bactérias ou vírus
atacantes.
O uso de esteróides ou corticoides para reduzir processos
inflamatórios é evitado nesses casos porque o que essas drogas fazem é,
exatamente, baixar o funcionamento do sistema imunológico, aquele que
combate as infecções bacterianas e, eventualmente, as outras doenças
anteriores do portador do coronavírus.
Ou seja, para reduzir a inflamação arrisca-se agravar as infecções.
O princípio que apoia o uso da hidroxicloroquina no tratamento de
coronavírus é o mesmo que justifica o ataque com esteróides. Embora
essas substancias sejam muito diferentes uma da outra as duas têm efeito
antiinflamatório. Só que a cloroquina é muito menos potente que os
esteróides e tem um séquito de possíveis efeitos colaterais muito maior.
Pode ajudar, portanto, apenas se aplicada muito no início do
tratamento, mas com os riscos todos desses efeitos colaterais, alguns
dos quais podem ser graves.
O ataque com esteróides (metilprednisolona) combinado com
claritomicina funcionou mesmo num caso extremo como o de Alexandre
Fernandes, o primeiro a ser tratado com esse protocolo no Brasil (ha uma
indisfarçável guerra de vaidades de médicos em torno desse
pioneirismo). Depois dele já tirou outros nove pacientes tratados pela
dupla Zeballos e Amato do fundo do poço para a alta em poucos dias. Um
novo grupo de pacientes está sendo tratado dentro desse protocolo, agora
já dentro de técnicas de controle para a produção de um primeiro
“paper” com valor científico a cargo do dr. Amato. A indicação que se
vai impondo é que quanto antes se passar a esse tratamento mais eficaz
ele será.
Não é um tratamento que vá funcionar infalivelmente em todos os casos
– a indicação é para aqueles em que a inflamação dos pulmões é a ameaça
mais premente. Mas outros médicos consultados para esta matéria
recomendam o uso de todos esses recursos juntos em doses que variam de
caso para caso. Desde pelo menos os primeiros dias de abril, apurou o
Vespeiro, inúmeros pacientes vêm sendo tratados com esse protocolo
também no Hospital Sírio Libanês, a começar por um paciente ilustre, o
dr. Roberto Kalil, contaminado pelo coronavirus, como se constata pelo
vídeo acima em que ele menciona que tomou cloroquina mas “o que o salvou
foi o corticóide”.
É um tratamento muito rápido e muito barato, que dispensa UTI’s e
respiradores, os dois pontos mais vulneráveis não só do sistema de saúde
brasileiro como dos de grande parte dos países do mundo. Mais que
qualquer outro fator mais diretamente objetivo, foi o medo do colapso
desses sistemas que levou suas respectivas autoridades de saude publica
às quarentenas que, ao contrário do que se pensa, não curam nem evitam
que a epidemia cumpra seu ciclo (só declinam depois que mais de 50% da
população é infectada e torna-se imune), ou seja, não “salvam vidas”
diretamente, apenas tentam “espalhar” os casos de hospitalização no
tempo.
“Vá logo para o hospital”
O dr. Kalil faz, aliás, um alerta para uma falha de comunicação que
tem tido efeito desastroso. “Procure o hospital ao primeiro sinal da
doença. Não espere os sintomas se agravarem. Isso pode ser a diferença
entre a vida e a morte“. Kalil registra que o Hospital Sírio Libanês
tratou de 300 doentes de coronavirus e só perdeu um, e que o Hospital
Albert Eisntein tratou 400 e também só perdeu um paciente. Mas nos
hospitais públicos a mortalidade tem sido muito mais alta “porque os
doentes estão demorando demais para procurar o hospital“.
“Um número altíssimo já chega morto ou quase morto na ambulância
porque, por medo de que isso apressasse o colapso do sistema público,
foi feita a recomendação errada, no começo da campanha, para que as
pessoas não procurassem o hospital com sintomas brandos da doença.
Fizeram até terrorismo, dizendo que o hospital é o melhor lugar para as
pessoas pegarem o corona. Agora até pessoas afetadas por outras doenças
estão evitando os hospitais até ser tarde demais. É preciso corrigir
urgentemente essa informação“.
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Uma semana atras, dado o potencial
de utilidade pública e salvação de vidas envolvidos, esta matéria foi
oferecida a O Estado de S. Paulo que, por razões alheias ao critério
jornalístico, recusou-se a publicá-la. Neste link
ou pelo email forum@estadao.com você pode dizer à direção do jornal o
que acha dessa decisão. Enquanto isso, repasse-a para o maior numero de
pessoas para vencer o segredo que se queria em torno dela.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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