A festa em homenagem à Rainha das Águas, Iemanjá, será neste domingo,
dia 2 de fevereiro. Mas, os primeiros presentes e agradecimentos
começaram a ser oferecidos desde às primeiras horas desta sexta-feira 31
Foto: Romildo de Jesus / Tribuna da Bahia
Por: Lício Ferreira
A festa em homenagem à Rainha das Águas, Iemanjá, será neste domingo, dia 2 de fevereiro. Mas, os primeiros presentes e agradecimentos começaram a ser oferecidos desde às primeiras horas desta sexta-feira 31, e uma das pessoas que encontramos próximo à Casa do Peso dos Pescadores com toda essa disposição foi a carioca Tatiana Cavalcante, que considera a festa do Rio Vermelho uma manifestação popular e religiosa muito linda e de muita força espiritual.
“Gosto dessa energia que as pessoas têm por ela, especialmente, pelo respeito e reverência à sua imagem. Acho que é uma cultura popular, que deve ser preservada e mantida, além de ser valorizada. Acabei de fazer agora, a entrega do meu singelo presente. Dei flores! Fiz, de uma forma antecipada, mas domingo estarei aqui. Escolhi, esta sexta-feira, para fugir da confusão que se instala no dia. Porque eu não sei se teria a mesma calma como tive para conversar melhor com ela. Essa intimidade que eu tenho com Iemanjá é algo que não tenho como explicar. É uma identificação; uma troca limpa de energia e de conexão. Costumo fazer coisa igual, quando estou no Rio de Janeiro. Todavia, aqui tem um outro contexto e uma energia bem melhor”.
DEFESA
Como toda pessoa esclarecida Tatiane Cavalcante defende o patrimônio como uma força natural. “Acho que o Estado e as pessoas precisam valorizar ainda mais esta festa e fazer com que esse evento seja sempre cada vez melhor. Ele agrega em diferentes fatores, não só na fé, como na religiosidade e na economia do lugar, sendo importante para todo o mundo”, dispara sob forte emoção.
Ao seu lado, a paulista Renata Alvim ampliou a visão apaixonada de carinho e respeito às nossas tradições culturais e religiosas. “Vim de São Paulo, especificamente, para ver a festa. É sempre a esperança que o povo brasileiro tem nos seus deuses, nos seus santos para ajudar a gente a crescer; a viver as adversidades e os absurdos que vivemos ultimamente. Eu venho pouco tempo à Bahia. Praticamente três ou quatro vezes por ano. Porque a felicidade que esse povo baiano tem; essa garra que o povo baiano tem; essa certeza de vida, de vocês, é uma coisa emocionante. A força e a alegria do povo baiano é que me faz vir sempre a essa terra maravilhosa e me dá uma boa renovada de vida. Volto para São Paulo sempre renovadíssima. Meu presente eu vou oferecer a Iemanjá neste sábado e agradecer muito por tudo que me aconteceu nos últimos tempos; pelos baianos que conheci; pela minha família linda; e, por tudo o que conquistei até hoje. Vou só agradecer . Não tenho, realmente, nada a pedir desta vez !“.
VONTADE
Outra paulista, que chegou ao local por volta do meio-dia e que freqüenta centros de Umbanda nos falou: “Eu tinha muita vontade de vir a esta festa no Rio Vermelho. É a minha primeira vez. Meu presente eu farei entrega, neste sábado, na presença dos meus cinco bons amigos, que me acompanham nesta viagem à Bahia”, antecipou Amara
Lemos. Já na saída da Casa do Peso, na sua simplicidade de baiano, Abilídio Neto também nos falou. “Esta é uma tradição de muitos anos, que vem dos nossos ancestrais, e que cresce cada vez mais a cada ano, apesar das intolerâncias religiosas de alguns. Eu acho que é preciso que os órgãos públicos dêem uma maior atenção a essa tradição. Não só para divulgar com intuito comercial, mas também de falar ao povo e estimular a nossa cultura. Ensinar aos que vêem depois da gente para que eles entendam a importância desta festa, que freqüento desde que me entendo por gente. Hoje, eu tenho exatos 72 anos completos. E vim agradecer a Iemanjá, tudo o que ela fez por mim e meus familiares. Mas no domingo estarei aqui cedo, para entregar meu presente”.
PRESENTES
Presente esse e de outros milhares de pessoas que serão entregues na Casa do Peso dos Pescadores, entre flores e perfumes de todos os tipos para a dona da festa. A partir desse sábado, eles serão levados até alto mar pelas embarcações conduzidas por pescadores como Nilo Silva Garrido. “Ela (Iemanjá) é que nos dá total proteção, quando vamos ao mar. Antes de entrarmos nos barcos – o que faço há 35 anos – eu e meus companheiros pedimos licença a ela”. Nilo –como seus companheiros esta comemorando por antecipação, a decisão que está sendo anunciada, neste sábado, pelo prefeito ACM Neto, transformando a festa do povo em patrimônio imaterial. “Essa decisão foi muito importante para todos nós pescadores. A gente está sabendo que a festa não vai mais sair da nossa mão uma coisa que já tentaram tempos atrás”.
A novidade nos foi passada pelo gerente de promoção cultural da fundação Gregório de Mattos (FGM), Felipe Dias Rego que estava organizando a solenidade. “A Festa de Iemanjá do Rio Vermelho será Patrimônio Cultural de Salvador. Neste sábado a Prefeitura promove um ato solene, às 10h. A partir de agora, ela está inscrita no “Livro do Registro Especial dos Eventos e Celebrações”. O pedido de tombamento foi feito pela Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia e teve o apoio da Colônia de Pescadores, responsável pela realização da festa e declaração de anuência do Presidente da Colônia de Pescadores, responsável pela realização da festa.
REGISTRO
Ainda segundo o gestor cultural, o Registro Especial do Patrimônio Imaterial pela Prefeitura Municipal de Salvador, foi por meio da lei 8.550/2014, e se constitui em ação de valorização e reconhecimento da Festa de Iemanjá do Rio Vermelho, que acontece desde os anos 20 do século passado, reforçando a fé no culto afro-brasileiro. “O registro protege a manifestação na medida em que garante o compromisso de apoio, divulgação e a produção de conhecimento e documentação acerca da manifestação”.
Pelo documento, a partir de agora, cabe a FGM o compromisso de produzir um Plano de Salvaguarda com os detentores e produtores da Festa, visando seu fortalecimento, além da produção de conhecimento, divulgação e documentação acerca da manifestação que se destina a promover ações de apoio para que os saberes e fazeres ligados à manifestação sejam preservados e transmitidos. Será elaborado com os pescadores, responsáveis pelo presente de Iemanjá. O objetivo do Plano é formar um coletivo deliberativo, com representantes de detentores e produtores, para implementar as ações que devem ser buscadas, bem como o prazo: curto, médio ou longo.
Nilo Garrido e seus companheiros estão felizes porque sabem que nesse final de semana há muito o que comemorar. Eles vão fazer dezenas de viagens ao mar para levar os presentes de todos os tamanhos e grandezas apenas com um único objetivo: homenagear a Rainha do Mar, a Deusa das Águas e de outras infinitas definições e devoções.
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