A volta das férias de janeiro vai exigir muito mais atenção dos motoristas que trafegam pelas rodovias mineiras. Os temporais dos últimos dias abriram crateras e interditaram estradas. Em um simples descuido, a viagem pode acabar em acidente e até morte. Soma-se a esses obstáculos a previsão de mais chuvas no fim de semana.
Exemplo é a BR-381. Principal ligação entre Belo Horizonte e Vitória, no Espírito Santo, a via acumula armadilhas que podem prejudicar o retorno dos mineiros. Um dos trechos com mais problemas fica na altura do bairro Gorduras, região Nordeste da capital. Após as precipitações, buracos se abriram na pista. Eles são tantos que obrigam condutores a fazer manobras arriscadas para desviar.
Outro ponto de atenção é a MG-133, na Zona da Mata, onde uma cratera de 15 metros se abriu perto de Tabuleiro, por causa de um alagamento em virtude das chuvas. Um carro caiu no local, matando uma mulher na madrugada de quarta-feira. A rodovia está interditada.
O alerta de cuidados foi reforçado com a divulgação, nessa sexta-feira, de pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT). Baseando-se em ocorrências registradas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), o levantamento da entidade aponta que, em Minas, 91 acidentes, com uma média de sete óbitos, são registrados a cada cem quilômetros de estradas.
Fatores
Imprudência, condições inadequadas das pistas e fiscalização insuficiente são as causas de tantas ocorrências, afirmam especialistas. Diretor-executivo da CNT, Bruno Batista defende maiores investimentos para melhorar o estado de conservação das estradas.
Segundo ele, chuva e neblina, por exemplo, exigem rodovias com nível de excelência para o tráfego. “A frota duplicou nos últimos 12 anos, mas a extensão da malha rodoviária não acompanhou essa alta. A infraestrutura disponível é mais demandada, mas não foi preparada para receber um fluxo tão grande”.
Enfatizando a necessidade de reforço na fiscalização, Márcio Aguiar, consultor em transporte e trânsito, considera o excesso de velocidade o maior problema nas vias. “Principalmente quando chove, o perigo é ainda maior”, pontuou.
O especialista diz, ainda, haver falhas no traçado das BRs. “Em Minas, elas são muito sinuosas e já deveriam ter sido duplicadas”.
Na avaliação do diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dirceu Alves, a retirada dos radares ajuda a explicar a gravidade dos acidentes. “Alegaram indústria da multa, mas a perda da vida é muito mais séria. A falta dos equipamentos (religados no fim de 2019) incentiva o desrespeito às leis”, argumentou.
Procurada, a PRF em Minas disse que não iria comentar a pesquisa.
Quatro rodovias consideradas as mais violentas concentram 74% dos acidentes no Estado
A pesquisa CNT indicou, ainda, mais um dado alarmante. Das 24 rodovias federais que cortam Minas Gerais, quatro delas concentram 74% dos acidentes com vítimas. As BRs 381, 040, 116 e 262 são consideradas as mais violentas, de acordo com o estudo divulgado nessa sexta-feira.
Essas vias também detêm o ranking de mais mortes registradas nas ocorrências. Dos 569 óbitos computados no ano passado, 476 foram nelas.
No Estado, as ocorrências mais comuns são colisão (51,8%), saída de pista (21,2%), tombamento ou capotamento (15%) e atropelamento (6,5%).
Custo
Os acidentes geram, ainda, um custo elevado aos cofres públicos. Em 2019, as autoridades alocaram R$ 1,33 bilhão nesses casos.
De acordo com o diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, as cifras levam em conta as perdas materiais e de capacidade de trabalho. Também entram no bolo o custeio de hospitais, com o atendimento às vítimas, e previdência, como pagamento de pensão por morte ou invalidez.
“A manutenção desses números num patamar tão elevado é extremamente preocupante, pois gera um ônus muito alto para a população e para o país. Perde-se muitos jovens, por exemplo. Temos um longo caminho a ser trilhado para melhorar as rodovias, e é preciso agir para que esses números caiam mais rápido”, frisou o gestor.
No Brasil, conforme Bruno Batista, o prejuízo com acidentes no ano passado ficou em torno dos R$ 10,3 bilhões. “Por outro lado, a União investiu R$ 6,6 bilhões para melhorar as estradas. A diferença mostra claramente que é preciso agir rapidamente para mudar esse cenário”.
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(*Colaborou Renato Fonseca)