Carga ideológica e
partidária é entrave para que cursos desse tipo ganhem espaço nas
universidades particulares. Mas isto, diz este blogueiro, não significa
que professores esquerdistas estejam longe das instituições privadas A
reportagem é de Carlos Eduardo Carvalho para a Gazeta do Povo:
A onda de criação de
cursos que tratam o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da
república como um golpe de estado parece estar limitada às universidades
públicas: até aqui, nenhuma instituição particular de ensino superior
está ofertando disciplinas que partem da premissa de que o processo de
impeachment da ex-presidente foi um “golpe”.
A não participação
das universidades privadas na criação desse tipo de curso faz oposição a
um movimento que parece natural em instituições federais e estaduais:
desde que a Universidade de Brasília (UnB) anunciou a criação da disciplina
optativa “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” e foi
duramente criticada pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho, várias
universidades públicas anunciaram a criação de cursos semelhantes, em
solidariedade à instituição brasiliense.
Barreiras
O caráter pouco
científico e carregado de ideologia política parece ser um entrave para
que cursos como esses ganhem espaço em instituições particulares.
“Em uma universidade privada, você precisa conseguir provar que o tema tem alguma relevância para os consumidores: aluno, em universidade privada, é consumidor. Na universidade pública você pode simplesmente desconsiderar os alunos, as necessidades da sociedade, do mercado, e impor uma ideologia”, argumenta Alexandre Magno, consultor jurídico da Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned).
Para ele, a
explicação para a facilidade de propagação de cursos desse tipo é a
apropriação dos espaços de ensino público pela ideologia de esquerda.
“Essa tomada de
espaço foi muito mais aprofundada nas universidades públicas. Existem
partidos políticos e correntes ideológicas muito mais atuantes no ensino
público do que no particular”, afirma.
Já Miguel Nagib,
coordenador da Associação Escola Sem Partido, acredita que a visão
ideológica dos professores de instituições públicas e particulares é
semelhante, mas a estabilidade do cargo de funcionário público permite
que professores de universidades federais e estaduais tenham a
possibilidade de oferecer disciplinas que impõe o “golpe” como o ponto
de partida para o estudo do tema.
“Eles têm a mesma visão ideológica. Mas professores das universidades particulares se sentem mais inseguros em fazer aquilo que desejam; faculdade particular tem dono, então existe o temor de perder o emprego. A estabilidade das universidades públicas é que propicia a audácia de afrontar dessa maneira o princípio do pluralismo de ideias. Os professores das instituições públicas se sentem encorajados a fazer isso porque sabem que nada acontecerá com eles”, argumenta.
Nagib aponta que o
impeachment já vem sendo chamado de “golpe” no meio acadêmico desde
2016, mas argumenta que criar disciplinas que trazem a palavra “golpe”
no próprio nome é um ato de provocação que professores de instituições
particulares não se sentem confortáveis em fazer.
“O título da
disciplina é desrespeitoso com a instituição de ensino e com a
constituição, porque sinaliza claramente qual linha de estudo será
adotada”, diz.
Desconexão com a realidade
Adolfo Sachsida,
doutor em Economia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), classifica esse tipo de curso como um desligamento da
realidade.
Para ele, é difícil
crer que algum aluno de uma instituição particular de ensino superior
concordaria em pagar para ter uma disciplina que foge dos princípios
universitários e cuja bibliografia é duvidosa:
“Na universidade privada provavelmente não haveria alunos e a matéria não seria nem ofertada. Para abrir algo optativo, é necessário um interesse muito grande da instituição, da sociedade ou dos alunos. É preciso ter vínculo com o ensino, a pesquisa ou a extensão. Não me parece que disciplinas como essas tenham vínculo sequer com a realidade.”.
“Espera-se que um
professor use uma bibliografia adequada. Não se pode montar uma
disciplina tendo um blog como base. Um curso que pretende denunciar um
golpe de estado precisa ter uma bibliografia mais sólida”, completa.
Pluralidade
Alexandre Magno
acredita que a universidade, pública ou privada, deve ser plural e não
pode existe pra defender determinadas pessoas, partidos ou ideologias.
“A universidade
existe para produzir e propagar o conhecimento. Esse tipo de iniciativa,
que constrange a liberdade de pensamento dos alunos e torna a
universidade um instrumento de aparelho ideológico, deve ser combatido
judicialmente, mas também precisa ser enfrentado internamente”, afirma.
Magno estranha o fato
de não haver no Brasil nenhuma iniciativa por parte das entidades de
professores universitários para coibir práticas de doutrinação. Segundo
ele, ocorre exatamente o contrário: há uma resistência muito grande dos
professores em admitir que existe doutrinação dentro das universidades
brasileiras.
“O ideal seria uma
sistemática semelhante a existente nos EUA, que desde a década de 40 tem
um código de ética para professores universitários. Esse código é feito
pela associação americana de professores universitários, que inclui a
proibição de doutrinação. Infelizmente, não há nenhum indício de que as
associações de professores no Brasil estejam dispostas a fazer isso, o
que por si só é uma demonstração do aparelhamento que temos hoje nas
universidades”, conclui.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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