Postado em 03/03/2018 10:20 DIGA BAHIA!
Com
a decisão dos Estados Unidos de sobretaxar as exportações de aço e
alumínio em 25% e 10%, respectivamente, a indústria brasileira teme
perder espaço não só no país norte-americano, mas também no próprio
mercado interno. Representantes das principais indústrias siderúrgicas,
ouvidos pela Agência Brasil, avaliam que os demais
países afetados pela medida buscarão destinar suas vendas a outros
consumidores, o que resultará numa forte pressão comercial sobre as
empresas que produzem e empregam no Brasil.“São dois problemas a partir dessa decisão. O primeiro é perder o principal mercado de exportação [EUA], e o segundo é que aquele aço russo, coreano, japonês, chinês que vai buscar outros mercados, e a indústria local será alvo [de concorrência]”, avalia Alexandre Lyra, presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, que reúne as principais empresas do setor.
Ao todo, 32% do aço exportado pela indústria brasileira tem como destino os Estados Unidos. Com isso, o país figura como o segundo maior exportador para o mercado norte-americano, com 4,7 milhões de toneladas embarcadas em 2017. Só perde para o Canadá, que exportou 5,8 milhões de toneladas ano passado.
Entre os 10 os maiores exportadores de aço para os EUA, além de Brasil e Canadá, estão outros parceiros tradicionais do país, como Coreia do Sul (3º), México (4º), Japão (7º) e Alemanha (8º). Países como Rússia (5º) e Turquia (6º) também figuram na lista dos principais exportadores do produto. A China, apesar de ser apenas a 11ª exportadora de aço para os EUA, reponde por 50% da produção mundial e tem uma capacidade instalada ainda maior, de mais de 400 milhões de toneladas, o que poderia inundar os mercados de todos os países com o produto.
O presidente da Abal teme exatamente o efeito que a sobretaxa na exportação de alumínio deve ter no deslocamento do mercado doméstico pela indústria de outros países. “A primeira coisa que tem que ser feita é monitorar o que pode acontecer com nossas importações. A indústria brasileira compete bem com os EUA e a Europa. Com a China, é mais complicado, estamos falando de subsídio cruzado, uma realidade completamente diferente”, observa.
A indústria do aço também deve rever o crescimento de 4% nas vendas que estava previsto para este ano no mercado doméstico. “Essa reviravolta [sobretaxação do aço pelos EUA] vai abrir um flanco para a nossa importação em termos de concorrência com outros países e vamos ter que ver como nos proteger”, afirma Alexandre Lyra, do Instituto Aço Brasil.
Reações
Anunciada na quinta-feira (1º) pelo presidente norte-americano Donald Trump, a sobretaxa para as importações de aço e alumínio pelo país deve começar a valer na próxima semana, com a edição de um decreto. Em resposta, o governo brasileiro afirmou que ainda espera chegar a um acordo com os EUA para evitar que o país seja incluído na aplicação das tarifas. Caso isso não seja possível, o Brasil deve questionar a elevação das tarifas em foros globais. “O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses nesse caso concreto”, informou, em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
O principal argumento do governo brasileiro e da indústria é que 80% da exportação de aço do país para os EUA é do produto semiacabado, que chega lá para ser reprocessado pelas indústrias do país e se tornar matéria-prima para o setor automobilístico, militar, de petróleo. “O aço brasileiro não destrói emprego nos EUA e ainda complementa a cadeia produtiva deles”, explica Alexandre Lyra.
Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão norte-americana de impor sobretaxas ao aço e alumínio é “injustificada, ilegal e prejudica o Brasil”. “Se adotadas, as medidas vão afetar US$ 3 bilhões em exportações brasileiras de ferro e aço e US$ 144 milhões em exportações de alumínio. Isso equivale a uma massa salarial de quase R$ 350 milhões e impostos da ordem de R$ 200 milhões”, ressaltou a entidade, em nota.
As indústrias de aço e alumínio empregam mais de 200 mil trabalhadores no país. Em nota, as principais centrais sindicais do país manifestaram repúdio à decisão e afirmam que farão atos e manifestações em diversos locais. “O anúncio da medida causa enorme preocupação de que, se a taxação for confirmada, as exportações brasileiras de aço e alumínio serão afetadas, com diminuição da produção e, consequentemente, dos empregos no Brasil. A intenção é preservar milhares de empregos que serão perdidos na cadeia produtiva do setor e a cota de exportação”, diz um trecho da nota.
Agência Brasil
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