Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em vários jornais - surrupiada aqui, via Chumbo Gordo:
Tanto o eleitor
reclamou dos mesmos de sempre que foi atendido: nosso presidente da
República, na viagem de Temer, é Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Já
não é um dos mesmos, embora seja filho do fluminense César Maia. No
lugar de Maia, a presidência da Câmara, um político novo em folha: André
Fufuca. Se o caro leitor não sabe quem é, vai continuar não sabendo. Cá
entre nós, não faz falta. Deixando o cargo, Fufuca volta ao limbo, ao
lado de deputados como Cabuçu, Petecão, Carimbão, Salame, Chapadinha,
Junior Marreca e Kaio Maniçoba. Todos bem pagos por nós.
Os novos não são
problema: se não têm o que mostrar, são baixo clero para sempre. O
problema é que os mais antigos e experientes, bem mais conhecidos, têm
muito o que mostrar. Dois dos ministros de Temer, Geddel Vieira Lima e
Henrique Alves, estão presos. Outro ex-ministro, Romero Jucá, é alvo de
14 inquéritos no Supremo. Oito ministros têm desempenho inferior: Blairo
Maggi, Bruno Araújo, Aloysio Nunes, Moreira Franco, Helder Barbalho,
Eliseu Padilha, Marcos Pereira e Gilberto Kassab estão sob investigação
no Supremo. Seu assessor e amigo próximo Rocha Loures está em prisão
domiciliar. Seu ex-assessor Tadeu Filippelli está solto, mas em maio
passou alguns preso. Todos foram amplamente citados em delações
premiadas. E o próprio Temer só não corre – agora – o risco de
impeachment porque a Câmara negou autorização para investigá-lo.
Tá faltando um
Há ainda um político
não tão próximo de Temer, mas seu aliado, que também enfrenta
dificuldades: Eduardo Cunha, preso em Curitiba.
Questão de título
O problema é que,
seja experiente, seja novo, seja cabeça-branca ou cabeça-preta (e onde é
que localizariam o deputado catarinense Esperidião Amin?), parece que o
político, para conquistar notoriedade e poder, não precisa ter
currículo: basta exibir o prontuário.
Vai, volta…
Temer assumiu a
Presidência da República, há pouco mais de um ano, prometendo colocar em
ordem as contas, reduzir o número de ministérios, eliminar gastos. O
que fez: deu generosíssimos aumentos a servidores já bem pagos, elevou a
meta do déficit fiscal, mandou alugar um Boeing, maior que o AeroLula,
para suas viagens, não dispensa nem a hospedagem no hotel mais caro de
cada país que visita. Anunciou o fim do Ministério da Cultura, o
Ministério da Cultura continua firme e forte. Mandou adaptar o Palácio
da Alvorada, a residência oficial, para a segurança de uma criança, seu
filho Michelzinho, e em seguida decidiu não se mudar para lá.
… adia
A última iniciativa
dessas foi mudar o tipo de uso da Renca, reserva na Amazônia para
mineração de cobre. A Renca era herança do regime militar: 47 mil km²,
do tamanho do Espírito Santo, reservados desde 1984 à pesquisa de
minérios e mineração. Como deveria ser tocado por estatais, o projeto
encruou. Temer o abriu para a iniciativa privada. Como de hábito, a
comunicação oficial falhou. Passou para o público que Temer tinha
liquidado uma reserva ambiental, para ajudar mineradores estrangeiros a
lucrar com a devastação. Não era, mas Temer ainda deu dois recuos: 1)
trocando o decreto por outro mais claro; 2) criando prazo de 120 dias
para estudar o assunto. Daqui a quatro meses, quem vai se lembrar disso?
Dez vezes Joaquim Barbosa
Depois de longo
silêncio, o ministro aposentado do Supremo Joaquim Barbosa volta a
tratar de temas nacionais. Disse ao jornal Valor:
1 – Em nenhum país do mundo o presidente continuaria no cargo depois das acusações que Temer sofreu.
2 –Temer deveria ter a honradez de deixar a Presidência.
3 – É favorável às
reformas propostas pelo Governo Temer, mas acha grave que sejam
conduzidas por um Governo não respaldado pelo voto.
4 – Defende campanhas eleitorais mais curtas, com financiamento público “moderado”.
5 – Lula não deveria ser candidato. “Vai rachar o país ainda mais”.
6 – Não é candidato, mas percebe seu potencial. “Por onde vou as pessoas me abordam. Há potencial, mas não incentivo isso”.
7 – A denúncia contra Michel Temer é muito mais grave que as que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.
8 – Um político que
elogiou: Paulo Hartung, PMDB, governador do Espírito Santo. “Se eu
entrasse nisso (política), iria chamá-lo".
9 – O país foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos que reduziram as instituições a frangalhos.
10 – Parlamentarismo
é, para esses políticos, a maneira de perpetuar-se no poder e se
proteger. E já foi rejeitado duas vezes pela população.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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