Por Folhapress
O ex-ministro Antonio Palocci disse nesta quarta-feira (6) ao juiz
Sergio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou um
"pacto de sangue" no qual a Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 300
milhões em propinas ao PT entre o final do governo Lula e os primeiros
anos do governo Dilma, segundo seus advogados.
O ex-ministro "revelou importantes detalhes dos bastidores e dos
meandros que permearam as relações de poder na transição do governo Lula
para o governo Dilma e como foi essa compra de boa vontade da Odebrecht
em relação ao governo", segundo o advogado Adriano Bretas, um dos
defensores de Palocci.
O ex-ministro foi ouvido na ação em que Lula é acusado de ter recebido,
da Odebrecht, um terreno de R$ 12,4 milhões destinado a ser a nova sede
do Instituto Lula (negócio que acabou não se concretizando) e um
apartamento de R$ 540 mil em São Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que o
petista mora com a família. Segundo os defensores, Palocci não só
confirmou que mediou este arranjo como teve o aval de Lula.
O ex-presidente é acusado de favorecer a Odebrecht em contratos com a
Petrobras. De acordo com os advogados, Palocci afirma ter tentado
dissuadir a Odebrecht de comprar o terreno, mas, diante da insistência
de Lula, foi preciso um jantar na casa do ex-presidente, em São Bernardo
do Campo, para que o ex-ministro os dissuadisse da ideia. Segundo
Bretas, o ex-ministro convenceu os demais de que "era uma operação
escandalosa e poderia expor demais essa situação [o arranjo entre PT e
Odebrecht]".
A reportagem tenta contato com a defesa do ex-presidente.
INSTITUTO LULA
A anotação "prédio IL [Instituto Lula]", alvo principal do processo em
que Palocci foi ouvido nesta quarta-feira, é uma das rubricas da
planilha Italiano. Em delação, Marcelo Odebrecht confessou que usou R$
12,42 milhões para comprar um terreno em São Paulo que se destinaria a
uma nova sede do Instituto Lula.
A mudança, segundo a denúncia, nunca ocorreu devido a problemas
burocráticos, mas o terreno chegou a ser comprado pela DAG Construtora,
uma empresa que teria servido como "laranja" no negócio. Na manhã desta
quarta (6), o dono da DAG, Dermeval Gusmão, confessou ter pago R$ 7,1
milhões pelo terreno e disse ter ficado sabendo, indiretamente, do
interesse de Lula no terreno.
DELAÇÃO
Palocci foi condenado no dia 26 de junho a mais de 12 anos de prisão.
Moro concluiu que o ex-ministro ordenou o repasse de US$ 10,2 milhões da
Odebrecht ao marqueteiro João Santana por meio de depósitos no
exterior.
O pagamento consta na planilha "Italiano", que controlou, segundo a
megadelação dos executivos, desembolsos de R$ 133 milhões (dentro um
saldo total de R$ 200 milhões) que a empreiteira fez de 2008 a 2014 para
atender a pedidos do PT. O montante, segundo a Odebrecht, era parte de
um acordo feito entre Marcelo Odebrecht e Palocci, do qual o ex-ministro
nega a "paternidade" até hoje.
Quando depôs neste processo, em maio, Palocci negou as acusações, mas
insinuou o desejo de fazer delação, se dizendo "à disposição" da Justiça
para dar "fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que
vão ser certamente do interesse da Lava Jato". Na ocasião, o
ex-ministro disse ter omitido alguns nomes "por sensibilidade da
informação".
Poucos dias depois do depoimento, o advogado José Batochio, que
defendia Palocci e é abertamente contra as delações, deixou o cliente, e
o petista passou a negociar um acordo com o MPF (Ministério Público
Federal) por meio de outros defensores. Ao condenar Palocci, Moro não
gostou da postura do ex-ministro, afirmando que as indiretas sobre
delação "soaram como uma ameaça" a investigados para que o ajudassem a
ser solto. O ex-ministro foi preso há quase um ano, em 26 de setembro de
2016, na 35ª fase da Lava Jato.
CONTROVÉRSIA
A Odebrecht sustenta que o dinheiro foi abatido de um montante de
propina de R$ 40 milhões que ficou reservado para uso de Lula ao final
do mandato dele, em 2011. Na última segunda-feira, Marcelo Odebrecht
disse a Moro que Lula sabia da origem suja do dinheiro.
O empreiteiro alega ter pedido ao pai dele, Emílio Odebrecht, que
alertasse Lula para o baixo valor em doações oficiais que o PT receberia
da construtora em 2010. Isso porque ela já vinha bancando demandas do
partido desde 2008 com base no acordo entre Marcelo e Palocci, que
previa o repasse de R$ 200 milhões ao longo dos anos seguintes.
Na sequência, Marcelo diz ter sido abordado por Palocci, que foi tirar
satisfações sobre aquela conversa. Com isso, o empreiteiro concluiu que
seu pai, Emílio, fez o alerta a Lula, que por sua vez comentou o tema
com Palocci; logo, Lula sabia de tudo.
A defesa do ex-presidente, no entanto, chamou a atenção nos autos do
processo para uma contradição entre Marcelo e Emílio Odebrecht. Enquanto
o filho sustenta que a informação chegou a Lula, Emílio disse, em
depoimento neste processo, que nunca falou com Lula sobre isso.
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