Kirsty Hayes, embaixadora do Reino Unido em Portugal, afirma em artigo publicado no Observador
que o local do ataque terrorista em Londres não foi um acaso: "às
portas do nosso Parlamento, o mais antigo do mundo, símbolo dos valores
que mais prezamos – liberdade, democracia, liberdade de expressão e
estado de direito":
Como
muitos sabem, nasci em Aberdeen e sinto um grande orgulho em ser
escocesa. Sou também uma grande entusiasta de Portugal e adoro viver na
linda cidade de Lisboa. E, claro, os diplomatas são, quase por
definição, intrinsecamente itinerantes. Mas se alguém me perguntar qual a
cidade que considero a minha casa, responderei Londres. É lá que tenho
vivido durante a maior parte da minha vida adulta — onde estudei e onde
comecei a trabalhar nesta área de que tanto gosto. Foi em Londres que
comprei a minha primeira casa — em Lambeth, uma zona com uma grande
comunidade portuguesa e, agora, um vice-presidente de Câmara português.
Foi também em Londres que nasceu um dos meus filhos.
Esta
semana, os nossos pensamentos e orações têm estado, naturalmente, com
aqueles que foram afectados pelos ataques em Westminster, com os seus
amigos e com as suas famílias. O terrorismo, infelizmente, é uma ameaça
global, e não podemos esquecer que países como por exemplo a Nigéria ou o
Paquistão, sofrem todos os anos atentados terroristas numa escala quase
inimaginável para nós na Europa. Mas não podemos negar que, quando
estas coisas acontecem próximo, têm um impacto maior sobre nós. Neste
caso, o meu Ministério — o Foreign Office — onde trabalham centenas de
colegas meus, situa-se a poucos metros do local dos ataques. Há alguns
anos, eu percorria diariamente aquele caminho para o trabalho a pé com
os meus dois filhos pequenos num carrinho.
O local
do ataque não foi escolhido ao acaso, às portas do nosso Parlamento, o
mais antigo do mundo, símbolo dos valores que mais prezamos – a
liberdade, a democracia, a liberdade de expressão e o estado de direito.
É um símbolo, respeitado e admirado por todos aqueles que prezam a
liberdade e, por isso, um alvo para aqueles que rejeitam estes valores.
Mas, como a primeira-ministra deixou claro, qualquer tentativa para
destruir estes valores através da violência e do terror está condenada
ao fracasso.
Algumas
das imagens que vimos dos ataques são naturalmente chocantes. Mas as
imagens que vão ficar na minha memória são diferentes. A da incrível
coragem das nossas forças de segurança que, nas palavras da
primeira-ministra Theresa May, “correram em direcção ao perigo ao mesmo
tempo que encorajavam as pessoas a fugirem na direcção contrária”.
Desconhecidos a confortar feridos. O nosso secretário de Estado Tobias
Ellwood a arriscar a própria vida para tentar salvar a vida de Keith
Palmer, pai, marido, antigo militar e dedicado agente da autoridade, que
foi morto pelo atacante. Keith Palmer ficará na história da cidade de
Londres como um verdadeiro herói, que morreu a fazer o trabalho que
amava e a proteger os londrinos. O nome do atacante, como os de outros
que no passado tentaram quebrar o espírito da nossa cidade e da nossa
sociedade, serão rapidamente esquecidos e ignorados.
Infelizmente
Londres já não é estranha a ataques terroristas. Graças ao excelente
trabalho das nossas forças de segurança, que impediu treze planos de
terroristas nos últimos anos, este foi o primeiro grande ataque desde os
terríveis atentados de 7 de Julho de 2005. Mas nos anos 70, 80 e mesmo
90, os londrinos foram sujeitos a uma persistente campanha de terror
perpetrada pelo IRA com inúmeros atentados por toda a capital. E claro,
no início dos anos 40, a aviação alemã bombardeou a cidade com 160 mil
toneladas de bombas, matando mais de 40 mil pessoas.
O “blitz
spirit” e “Keep Calm and Carry On” (slogan que surgiu nessa altura)
foram postos à prova novamente esta semana. Através do profissionalismo
da nossa polícia e da insistência da nossa primeira-ministra em que não
cederemos nem seremos derrotados por aqueles que defendem o ódio e o
terror. O hashtag #wearenotafraid e a proliferação de mensagens nos
placards nas estações de metropolitano, são mais um exemplo desse
espírito. Mas ficou evidente acima de tudo na normalidade dos dias que
se seguiram aos ataques. Os cafés, ruas e restaurantes de Londres estão
cheios de gente. No momento em que escrevo este artigo, milhões de
pessoas embarcam em aviões e comboio com destino a Londres – e aí
viverão dias fantásticos. Cada acto quotidiano é uma vitória do nossos
valores. Nas palavras de Theresa May são “a melhor resposta ao
terrorismo”.
O facto
das pessoas directas afectadas por este trágico ataque serem de pelo
menos onze nacionalidades diferentes, reflecte a singular natureza
multinacional e multicultural da cidade de Londres. Enche-nos de orgulho
verificar que tantos cidadãos nascidos noutros países vêem, também,
Londres como a sua casa. Como acontece por exemplo com as várias dezenas
de milhar de portugueses que vivem em Londres, uma comunidade
maravilhosa e vibrante, que contribuem grandemente para a vida e a
economia do nosso país.
Na
quinta feira à noite vi as reportagens sobre a vigília em Trafalgar
Square onde homens e mulheres de diferentes comunidades, diferentes
nacionalidades, diferentes religiões e credos, estavam lado a lado,
demonstrando firmeza, unidade e esperança. Esta é a sua Londres. Esta é a
minha Londres. Esta é a Londres de Keith Palmer. E irá perdurar para
sempre.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário