MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Fátima quer que cega veja e Galvão que cadeirante se levante


A Paralimpíada do Rio começou e me esforço para acreditar que, desta vez, como se tratam de jogos realizados no Brasil, a TV dará mais espaço ao evento que de costume. Mas todo holofote tem os seus percalços, e a TV não sabe (ainda) como lidar com os portadores de deficiência. Assim como o restante da sociedade, o meio faz de conta que sabe. Mas quer ainda levar o cego pela mão ao atravessar a rua. Ontem (7), foi dia de Fátima Bernardes cometer uma gafe do gênero. Ao mostrar uma reportagem no "Encontro" sobre futebol de deficientes visuais, Fátima entrevistou um convidado especial, um garotinho de 7 anos que fez um golaço em uma partida. Tudo ia bem até que a apresentadora pediu para o garoto "ver o replay" do gol. "Vamos ver o replay, olha lá!", disse ela ao menino, que não entendeu nada. Os internautas não perdoaram, e tiraram onda do erro de Fátima, dizendo que o "Encontro" era capaz de operar "milagres". Galvão também aprontou uma dessas. Foi durante a final dos 200 metros do atletismo, na Olimpíada. O narrador da Globo pediu para que todos do estúdio ficassem de pé para cantar o hino da Jamaica em homenagem a Usain Bolt, que conquistou o ouro na prova. O problema é que o atleta paralímpico Fernando Fernandes (que é paraplégico) e o velejador Lars Grael, que perdeu a perna em um acidente em 1998, estavam entre os presentes e ficaram visivelmente constrangidos. Os outros comentaristas levantaram, mas se sentaram rapidamente ao perceberem a gafe.
Sejamos justos: Galvão e Fátima não são os primeiros nem serão os últimos a vacilar assim com os atletas paralímpicos. Esses "micos" são totalmente possíveis, e fáceis de entender em uma sociedade que finge que vê os portadores de deficiência. Infelizmente não estamos acostumados a dar o protagonismo à eles, e quando o fazemos, tentamos nos blindar com o olhar do "politicamente correto", da "igualdade", sem nos atentarmos para o básico, o simples: a "deficiência" de cada um. Quando falo do básico, me refiro a dar acessibilidade e condições a todos de ter vida comum. Isso é um direito. Rampas e sinalizações atendem quem tem deficiência, mas também atendem aos idosos, aos engessados, às mães com carrinhos de bebê, aos carrinhos em geral. Como diz meu querido Jairo Marques, um jornalista de primeira, entre o mundo real e esse mundo de "Matrix", um mundo paralelo onde foram enfiados os deficientes, as formalidades não servem para nada. As emissoras agora abrem espaço para os "portadores de necessidades especiais", "portadores de deficiência", mas será que sabem mesmo com quem e sobre quem estão falando? Que porcaria de 'igualdade' é essa que buscamos que não server nem para colocar uma lupa nas coisas? É preferível chamar de "cego", de "surdo", de "cadeirante", mas prestar atenção de fato nas necessidades das pessoas. A TV não está preparada para lidar com a Paralimpíada, mas nós também não estamos. E isso precisa mudar. (Keila Jimenez)

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