A falta de confiança na economia brasileira fez com que os investimentos despencassem no início de 2016, com uma queda de 17,5% no primeiro trimestre deste ano frente ao mesmo intervalo de 2015. O freio na injeção de recursos agravou o quadro recessivo e é uma das principais causas para a redução de 5,4% no Produto Interno Bruto (PIB) no período. Com o resultado, o país completa oito trimestres consecutivos de resultados negativos na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou seja, dois anos sem crescer, em uma intensa recessão. 

Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação entre o primeiro trimestre de 2016 e o último de 2015, a retração foi de 0,3%. No acumulado em quatro trimestres, 4,7%. “As estatísticas das contas nacionais confirmaram que, no primeiro trimestre, como resultado essencialmente de desenvolvimentos domésticos, teve continuidade a mais intensa recessão de nossa história”, disse o Ministério da Fazenda, em nota. Por “desenvolvimentos domésticos” entenda-se um eufemismo para a forte crise política que vem contaminando a economia nos últimos meses. A queda acumulada em 2015 foi de 3,8%. 

Boa parte da dificuldade para melhorar o desempenho da economia nacional tem explicação no baixo nível de investimento. Foram aportados R$ 249 bilhões no primeiro trimestre deste ano, menor valor desde o segundo trimestre de 2012 (R$ 243,77 bilhões). “É um ciclo vicioso. Quando a economia está em recessão, os investimentos reduzem. E sem investimentos, a economia não reage”, afirma o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen. 

No primeiro trimestre, a indústria teve o pior desempenho dentre os demais, com queda de 7,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2015. A indústria de transformação, segmento que inclui automotivo e siderurgia, foi o braço mais afetado, com retração de 10,5%. “São os aportes que fazem a economia girar. Eles aumentam a demanda por máquinas equipamentos, alavancam a construção civil e a demanda por aço, por exemplo”, explica o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso Leão. Por consequência, geram empregos.

Outra justificava para o mau momento da economia brasileira é o encolhimento do mercado consumidor. No primeiro trimestre deste ano, comparado com o mesmo período de 2015, o consumo das famílias caiu 6,3%. Para tristeza do setor de serviços, que recuou 3,7% na mesma base de comparação. O comércio retraiu 10,7%.

"As famílias estão mais cautelosas por causa do risco do desemprego. As altas taxas de juros e a inflação reduzem mais ainda a demanda, dificultando melhora no setor”, afirma o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Guilherme Almeida. Até o clima serviu como uma “pedra no sapato” da economia brasileira. Intemperanças climáticas, como seca em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, jogaram para baixo os resultados da agropecuária, com uma redução de 3,7%. “Culturas como arroz e milho sofreram forte interferência do clima no Brasil”, afirma a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso. (Com agências)

Apenas o setor agropecuário deve fechar  o 1º trimestre no azul em Minas Gerais
O Produto Interno Bruto (PIB) mineiro deverá apresentar uma retração ainda maior do que o Brasil. Espera-se que apenas a agropecuária do Estado tenha resultado positivo. Mas indústria e comércio tendem a apresentar quedas mais acentuadas do que a média nacional.  No caso da indústria, a queda será maior no Estado por causa da estrutura dependente de setores estruturantes, como mineração, siderurgia e construção. Isso quer dizer que, se os demais segmentos têm desempenho ruim e investem menos, a demanda pelos produtos mineiros cai.
“É uma característica regional sofrermos mais quando a economia brasileira vai mal”, afirma o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso Leão. O comércio vai a reboque. “Se a indústria produz menos, ela demite mais. Se isso acontece, as pessoas compram menos. Assim, comércio e serviços retraem”, afirma o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Guilherme Almeida.

No caso da agropecuária, segundo a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, o esperado para o Estado é safra recorde, puxada principalmente por milho, soja, sorgo e feijão. Para o fechamento do ano, as projeções de PIB não são positivas nem para o Brasil, nem para Minas. “A recuperação da economia ainda não é para este ano. E, dependendo das medidas adotadas pelo Michel Temer, a crise pode agravar”, afirma o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cláudio Gontijo. Ele acredita que a reversão do pessimismo do empresariado e do consumidor, essencial para uma melhora do quadro econômico, depende do fim da crise política e dos escândalos envolvendo governantes.