Planalto dedicou-se, sim, à barganha mais descarada; oposição logra dupla vitória
Nem
tudo na forma como Eduardo Cunha conduziu as negociações sobre o
processo contra ele próprio no Conselho de Ética e a denúncia contra
Dilma foi cálculo bem ou malsucedido.
Vamos ver.
Lembram-se daquele rito que ele havia estabelecido? Previa que deputados
poderiam recorrer caso ele arquivasse a denúncia contra Dilma. Os
governistas apelaram ao Supremo, e os ministros Teori Zavascki e Rosa
Weber concederam liminares contra o tal rito.
O deputado
fez o óbvio: retirou a sua proposta. Afinal, os dois ministros acabaram
lhe conferindo poder absoluto na matéria. Com a ajuda involuntária e
burra da base do governo.
A sua
situação pessoal se deteriorou, ele foi levado ao Conselho de Ética e
passou a usar, então, o poder que lhe foi concedido para cuidar também
da sua sorte. Reitero: governistas e dois ministros do Supremo lhe deram
a mão, ainda que sem querer.
A oposição
acabou se saindo bem duplamente do imbróglio. E explico por quê. Antes
que as acusações contra Cunha se adensassem e que as evidências contra
ele se tornassem escancaradas, houve, sim, uma parceria política —
legítima, note-se, que não previa troca de qualquer natureza.
Quando a
posição de Cunha se tornou insustentável, deu-se o rompimento político
com o presidente da Câmara, e os oposicionistas, independentemente do
que fizesse o deputado, declaram que votariam contra ele no Conselho de
Ética. E votaram!
Ou por
outra: recusou-se a troca, o toma-lá-dá-cá, que passou a ser exercitado
pelo PT. Lula desembarcou em Brasília para cuidar pessoalmente do
assunto, na linha: “Agora chegou o profissional”.
Jaques
Wagner e Ricardo Berzoini, seus braços no governo, passaram a empreender
a negociação com Cunha. Logo, ao contrário do que diz a presidente
Dilma, quem levou a barganha até o limite foi o PT. Quem se ofereceu
para salvar Cunha em troca da recusa da denúncia foram Lula e dois
ministros seus — vale dizer: também a senhora presidente da República.
Pressentindo
o tamanho do estrago, o PT entrou em campo para anunciar, então, que
não aceitava o que classificou de chantagem. Vejam o tamanho do
desarranjo: enquanto os ministros petistas e Lula negociavam com Cunha
em nome do governo, setores do partido repudiavam a negociação.
A oposição acabou ficando no melhor dos mundos: vê a denúncia contra Dilma aceita e vota contra Eduardo Cunha.
Que bando de trapalhões há no Planalto! Que gente patética!
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