Sob os
governos petistas, a cúpula da diplomacia brasileira foi entregue a
militantes, passando a guiar-se mais pelo viés ideológico
(bolivariano-chavista) que pelos interesses nacionais. Militância e
diplomacia são práticas distintas - e a confusão entre ambas só pode
resultar no que se viu com a intromissão no Oriente Médio: puro vexame.
Artigo de Ruy Fabiano no jornal O Globo:
Diplomacia, como se sabe, não é exatamente campo adequado para exercícios de militância.
O
Itamaraty, desde os tempos do Barão do Rio Branco, cultivou o que veio a
se chamar de pragmatismo responsável, o que o tornou considerado nos
fóruns internacionais.
Sendo o Brasil um país ainda periférico, sem grandeza bélica, sempre evitou entrar em briga de cachorro grande.
Seu
ingresso na Segunda Guerra Mundial foi precedido de amplas negociações
com os Estados Unidos, que resultaram na Siderúrgica de Volta Redonda,
na Eletrobras e no consequente up grade em sua infraestrutura
industrial.
Mesmo
assim, só o fez, já na etapa final do conflito, depois de ter navios em
sua costa bombardeados pelos nazistas. Cautela e caldo de galinha não
fazem mal a ninguém. Mas esse era o Itamaraty pré-PT, cujas
linhas-mestras sobreviveram aos mais variados governos, incluindo os da
ditadura militar.
O PT
introduziu na diplomacia brasileira o vírus da militância. O país deixou
de lado seus interesses - comerciais, políticos, estratégicos -,
perdendo mesmo a noção de sua desimportância relativa, e passou a
orientar sua conduta pelo viés ideológico.
A adesão
ao bolivarismo chavista – de cuja gênese o PT participou, via Foro de
São Paulo – o distanciou de parceiros tradicionais, como Estados Unidos e
União Europeia.
Em
compensação, o país passou a apoiar – e financiar – ditaduras, como as
de Cuba e do Sudão, que contabiliza assassinatos numa ordem de grandeza
que supera a soma de diversas Faixas de Gaza. Seus aliados
preferenciais, na geopolítica global, são países como Coréia do Norte e
Irã.
Alia-se a
forças criminosas como as Farc, que mantêm campos de concentração na
selva e vivem do que apuram com sequestros e venda de drogas. O
chanceler de fato, Marco Aurélio Garcia, recusou-se a admiti-las como
grupo terrorista, optando pela expressão oblíqua de “forças
insurgentes”.
É
compreensível, já que suas lideranças sentavam-se lado a lado do PT no
Foro de São Paulo. Grande parte dos assassinatos que ocorrem anualmente
no Brasil – mais de 50 mil, a maioria pobres e jovens – decorre dessa
aliança sinistra, que igualmente supera em muito os até aqui
sacrificados da Faixa de Gaza.
Eis,
porém, que, não satisfeito em protagonizar uma diplomacia pelo avesso no
continente, o Itamaraty decide incursionar pelo Oriente Médio. Lula já
havia aparecido por lá, quando presidente, sustentando que sua
experiência de sindicalista, habituado a negociar, seria suficiente para
clarear um conflito que há décadas desafia as maiores diplomacias do
planeta.
Expôs-se
(e nos expôs) ao ridículo, sobretudo porque, além de não negociar coisa
alguma, optou claramente por uma das partes – no caso, os palestinos.
Eis que agora o ridículo se repete. E, de certa forma, com maior
gravidade, pois a militância diplomática se dá em pleno conflito.
Diplomacia
não comporta amadorismo. O Brasil não integra o grupo de países com
expressão geopolítica, que exercem influência na região e nos fóruns
internacionais. O primeiro dever da diplomacia é o desconfiômetro, isto
é, perceber o seu tamanho. Foi mais ou menos isso que, para nosso
constrangimento, nos disse o porta-voz do governo israelense, ao nos
qualificar de “anões”.
O
conflito de Gaza tem complexidade bem maior que uma negociação sindical.
Não começou hoje e nem se sabe quando, como e se terminará. Apelar ao
cessar-fogo – gesto-clichê que as grandes potências fazem enquanto
buscam uma saída - implica não julgar as partes em conflito.
O
Itamaraty valeu-se do jargão, para, em seguida, condenar apenas uma das
partes, exatamente a que não teve a iniciativa do presente embate.
Militância e diplomacia são práticas que se repelem e, quando se insiste
em misturá-las resulta no que se viu: vexame.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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