Na tarde desta
quarta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que os turistas
devem se sentir seguros no Brasil. À noite, sua ex-mulher e sua filha foram
vítimas de uma tentativa de assalto, em São Paulo (leia post). É claro que a
gente é tentado a fazer a crítica fácil, que, convenham, já vem pronta: “E aí,
hein, ministro? Quer dizer que turista pode se sentir seguro!? Já os
brasileiros…”.
Pois é. Trata-se de
uma crítica tão fácil como errada. Todas as pessoas estão sujeitas a assaltos. A
bobagem que seus respectivos pais ou ex-maridos falam não tem nenhuma relação
com o episódio em si. Os burros e os inteligentes, os bons e os maus, os
esquerdistas e os direitistas, os carnívoros, os vegetarianos e os herbívoros…
Ninguém escapa. Assaltos não existem para aplicar lições de moral, para ser
didáticos ou para punir quem não pensa como a gente. Assaltos existem porque
alguém acha certo tomar na marra o que não lhe pertence. Se o país é viciado em
impunidade e a transforma numa tradição, o que assaltou uma vez o fará muitas
vezes; outros seguirão seu exemplo porque vão considerar que é um jeito fácil de
ganhar a vida. E as consequências são conhecidas — nossas conhecidas.
É claro que falas de
autoridades brasileiras nesses dias são irritantes, beirando a estupidez, a
começar das de Cardozo. Veio a público ontem o número de homicídios no Brasil em
2012: mais de 56 mil. A taxa é de 29 por 100 mil habitantes. Uma aberração! O
país, já lembrei aqui, tem um terço da população da América Latina e Caribe e
responde por mais de metade dos homicídios.
À diferença, pois,
do que diz o ministro da Justiça, o Brasil não é um país seguro: nem para
estrangeiros nem para brasileiros; nem para os que têm pais que falam as coisas
certas nem para os que têm pais que falam as coisas erradas. E olhem que
ex-mulher e filha do ministro transitavam numa das capitais mais seguras do
país. Em qualquer estado governado por seu partido, o PT, o risco é
maior.
Leio que até o
procurador-geral da República, sei lá com que autoridade ou expertise, resolveu
dizer palavras tranquilizadoras aos turistas. Em reunião com empresários, a
presidente Dilma Rousseff afirmou que vai chamar o Exército e que não permitirá
que se encoste um dedo nas delegações estrangeiras.
Tudo isso, no fim
das contas, é meio acintoso quando nos damos conta da desídia do Poder Público,
com raras exceções, em matéria de segurança pública para os nativos, para este
pobre povo de Banânia, que morre às pencas.
Convenham: nem seria
preciso que a realidade se encarregasse de ser tão didática com Cardozo para que
a gente se lembrasse o quanto ele e seu partido não fizeram nessa área. Termos
chegado à Copa do Mundo — e, daqui a dois anos, às Olimpíadas — sem uma lei que
puna com especial rigor pessoas que põem em risco a segurança coletiva é uma
prova de irresponsabilidade.
Menos mau que os
familiares do ministro possam contar com condições especiais de segurança, como
carro blindado e escolta armada. A esmagadora maioria dos brasileiros tem a seu
favor apenas a sorte. Além das palavras tranquilizadoras do ministro da
Justiça.
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