Oito em cada dez candidatos a uma vaga não têm perfil adequado. Confira os erros mais comuns nos currículos
Mônica da Silva tem apenas o segundo
grau, mas viu no jornal uma vaga para administrador de empresas e
decidiu mandar seu currículo. Vai que cola? A personagem é fictícia, mas
a historinha é muito familiar para recrutadores e gestores de RH.
Segundo uma pesquisa recente do site Trabalhando.com, 82% dos candidatos
enviam currículos a esmo, mesmo sem ter o perfil da vaga. São desvios
que vão desde um simples pré-requisito ignorado (como falar inglês) até o
limite de se candidatar a uma vaga em outra área de formação.
“Se você coloca um anúncio no jornal procurando um
presidente para a empresa, exigindo que o candidato fale eslovaco
fluente, basta disponibilizar um e-mail e vai aparecer até currículo de
padeiro na sua caixa”, exagera Marcio Lopes, sócio-diretor da
consultoria Organiza. “A maioria das pessoas não tem estratégia para
buscar emprego. Querem qualquer coisa que aparece pela frente”, critica.
Segundo ele, isso gera um desgaste desnecessário
para quem está recebendo esse currículo, pois a pessoa vai ter a árdua
missão de garimpar os candidatos dentro do perfil e, no final, os
currículos fora do padrão têm grandes chances de acabar no lixo.
No caso da Organiza, Marcio garante que guarda
alguns, que acha que podem ser aproveitados no futuro, mas esta não é a
regra. “A gente até tem um banco de dados, mas acabamos não dando
atenção e, quando o cliente solicita um candidato com aquele outro
perfil, acabamos abrindo outro processo. Aquele currículo não é
aproveitado”, revela Tacianne Rios, supervisora de psicologia do
Sinebahia.
Segundo ela, se o candidato não tiver o perfil da
vaga solicitada, nem adianta perder tempo. “Tem uns que mandam o mesmo
currículo para várias vagas: vendedor, operador de caixa, costureira.
Enviam para qualquer área. É preciso que eles foquem”.
Pesquisa
Para chegar ao resultado, o site Trabalhando.com
acompanhou durante dois meses (fevereiro e março) mais de 2 mil vagas de
estágio e de emprego, e avaliou 6.272 currículos. A gerente de
recrutamento e seleção do site, Carmen Benet, tem seus palpites para o
alto número de candidatos ‘para-quedas’, como essas pessoas costumam ser
chamadas pelo mercado.
“Fazem isso porque desconhecem como é o trabalho de
quem recebe o currículo. Acreditam que mandando para todas as vagas a
possibilidade de conseguir alguma coisa é maior”, acredita. Para ela, a
prática é um tiro no pé. “Ele se expõe no mercado. Quem pega o currículo
pensa: ‘poxa, será que ele não percebeu que precisa ter tal
requisito?’”
Entre os casos mais comuns na empresa, ela cita
alguns que vão desde o cidadão que, sabendo que a vaga exige inglês
fluente, se candidata tendo apenas o intermediário, até o graduado em TI
que acha que pode ser gerente de Bens de Consumo.
Sócia-diretora da consultoria Tegon, Luciana Tegon
também tem história para contar. “Uma vez, recebemos um currículo de uma
moça que era enfermeira, só que a vaga era de diretor médico, cuja
habilitação no CRM era um requisito essencial para o exercício da
posição”.
No caso da empresa, isso não chega a ser um
problema, pois a Tegon utiliza uma ferramenta que aplica filtros e
seleciona apenas candidatos que atendem aos requisitos. “Infelizmente, é
uma prática comum os candidatos inscreverem-se em posições que muitas
vezes nada têm a ver sequer com sua área de atuação. É um sintoma que
percebemos, mas, em nosso caso, é algo em torno de 40%”, contabiliza.
A diretora da Oportunidade RH, Rafaela Oliveira,
lembra que, além de atrapalhar o recrutador, a falta de foco prejudica o
próprio candidato. “Às vezes, a pessoa tem até um currículo bom, mas
não sabe o que quer e vai para uma área que não tem nada a ver”, diz.
Para ilustrar, ela cita os estudantes de áreas promissoras, como
engenharias, que acabam procurando emprego na área de call center por
achar que têm mais chances, ou que vai ganhar dinheiro mais rápido que
procurando estágio.
“Aconselho que ele esqueça os benefícios imediatos e
foque na carreira, no aprendizado. Vai ser muito mais vantajoso a longo
prazo”, orienta. Quando aparecem esses candidatos com bons currículos
para empregos simples demais, ela já sabe que terá um retrabalho poucos
meses depois. “Eles não duram muito tempo. Entram, ficam dois, três
meses e acabam saindo. E então a empresa vai ter que buscar um novo
profissional no mercado”, descreve.
A
prática não é perda de tempo e energia apenas para o setor de Recursos
Humanos, mas também para o próprio profissional, já que permanecer
poucos meses no emprego é algo malvisto pelo mercado. “Se você conta que
ficou dois meses em uma empresa e três na outra, o entrevistador pode
te considerar instável”.
Omitir idade e não atualizar os contatos são erros frequentes
Mandar currículo para a vaga errada é equívoco
grave. Mas existem erros ainda maiores, que impedem de conseguir um
emprego, mesmo mandando o documento para a vaga certa. A esta altura,
você já deve ter passado o olho pelo sofrível currículo da moça
imaginária da página ao lado. E com certeza não deseja seguir o seu
exemplo.
Entre os erros mais comuns, o sócio-diretor da
Organiza, Marcio Lopes, enumera alguns. O primeiro é: só mande foto se a
empresa pedir. Ainda assim, evite caras, bocas e poses. “É cada uma que
recebo aqui... só faltam dar beijinho no ombro”, ri o empresário, que
tem passado maus bocados com outro problema comum.
“Tem duas semanas que estou catando quatro caras,
porque os contatos estavam desatualizados. Se você é perfeito pra vaga,
mas está com os contatos desatualizados, pode perder a vaga”, avisa.
Outra dica de Lopes é evitar endereços de e-mail
informais demais. Fazer um novo e-mail não custa nada e evita o
constrangimento de o mundo corporativo saber que você também atende pelo
pseudônimo de ‘binhogostosão25’. E-mails informais também são vistos
como desabonadores pela supervisora do Sinebahia, Tacianne Rios.
Ela acrescenta à lista omitir informações como a
idade ou o período em que trabalhou em cada uma das empresas listadas.
Mentir e tentar enrolar o recrutador também não são boas estratégias.
“Tem uns que listam cursos que já foram trancados, ou dizem que têm
informática básica, mas só sabem mexer no Facebook. Nunca fizeram nenhum
curso”, exemplifica Tacianne.
Outra coisa quase inacreditável, porém muito comum,
segundo a supervisora, é colocar coisas vagas, como “ser feliz”, no
campo de objetivo profissional. E se você organizou as experiências
anteriores em ordem cronológica, saiba que está fazendo isso errado.
Isso porque o recrutador está mais interessado em suas experiências mais
recentes. Comece por elas e em seguida liste as outras em ordem
decrescente.
Para a sócia-diretora da consultoria Tegon, Luciana
Tegon, o maior erro que se pode cometer é elaborar um currículo pobre,
com pouca informação. “Nos passa a mensagem que o candidato é
preguiçoso”, explica.
Para fazer um bom currículo, ela aconselha que, além
de seus dados pessoais, você faça detalhamento adequado de sua
formação, cursos que fez, empresas que trabalhou, cargos, períodos
trabalhados, um breve histórico de suas atividades em cada experiência
profissional. Para ela é importante colocar uma pretensão salarial e ter
uma boa carta de apresentação.
Construção civil, saúde e TI estão entre carreiras mais promissoras
Agora que você já sabe como fazer o currículo,
informe-se também sobre que área deve focar. Segundo os especialistas,
as mais promissoras são as de Tecnologia da Informação (TI), construção
civil e saúde.
“Com a modernização do país, sistemas, serviços de
saúde e infraestrutura estão disparados em demanda e consequentemente
pagam mais. Atenção especial a todas as carreiras ligadas e
especializadas na era do pré-sal, que também prometem para os próximos
anos”, aconselha Luciana Tegon, sócia-diretora da consultoria Tegon.
Tacianne Rios, do Sinebahia, acrescenta que as
carreiras de técnico em edificação e engenheiro são bastante
promissoras. “Mas telemarketing sempre tem vagas e gerente comercial
paga muito bem, em media R$ 5 mil”, diz.
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