De acordo com
dados da SSP, Porto Seguro teve 121 homicídios dolosos em 2013, enquanto
a segunda colocada, Eunápolis, registrou 70
Nas fotos dos turistas que passam por
Porto Seguro, Extremo Sul da Bahia, o que geralmente aparece são as
praias e as festas que fazem da cidade — junto com seus distritos — o
segundo destino mais procurado por quem visita o estado, atrás somente
de Salvador. No entanto, Porto Seguro está cheia de outras marcas,
espalhadas por paredes e muros. São pichações e rabiscos com siglas das
facções criminosas Campinho (CP) e Mercado do Povo Atitude (MPA), que
disputam espaço na base da violência.
“Rapaz,
aqui os bandidos às vezes dão um tempo. Mas quando um acha de matar o
outro, não tem quem segure. É morte demais”, resume um morador do
Complexo do Baianão, que abrange uma série de bairros populares, foi
berço da facção MPA e conta desde 2013 com uma Base Comunitária de
Segurança da Polícia Militar. No Baianão, estão por toda parte as
pichações da MPA, que, segundo a polícia, tem ligações com o Primeiro
Comando da Capital (PCC), facção criminosa paulista que já atua em
outros estados, fornecendo armas e drogas.
Pichações e rabisco com as siglas das facções criminosas (Foto: Reprodução)
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As
marcações territoriais são tão comuns que podem ser encontradas até num
“passeio” com a ferramenta Google Street View, que possibilita visões
em 360° de boa parte das ruas do complexo. As siglas da rival Campinho,
por sua vez, são vistas facilmente pela principais vias de Porto Seguro e
até mesmo no acesso à praia de Arraial d’Ajuda, perto da balsa que leva
à localidade.
Em março, ao assumir a
23ª Coordenadoria de Polícia do Interior (23ª Coorpin), sediada em
Eunápolis, a delegada Valéria Chaves definiu o combate ao tráfico de
drogas como prioridade na região, que vai abrigar duas delegações
durante a Copa do Mundo. A Suíça ficará em Porto Seguro e a Alemanha vai
se instalar no vilarejo de Santo André, na vizinha Santa Cruz
Cabrália.
“Já estamos com
investigações em curso, levantando informações e vamos ter operações
para prender líderes desses grupos. Esse é o nosso foco, pensando
principalmente nos moradores e também nos turistas, porque a cidade terá
um grande movimento na Copa”, diz Valéria.
Divisão
Um dos responsáveis pelo enfrentamento a estes grupos, o delegado titular de Porto Seguro, Delmar Bittencourt, explica como as facções dividem as forças. A Campinho está espalhada pelo centro, nas áreas próximas ao Rio Buranhém e ao aeroporto. Além disso, detém o controle do comércio de entorpecentes nos famosos distritos de Arraial, Trancoso e Caraíva.
Um dos responsáveis pelo enfrentamento a estes grupos, o delegado titular de Porto Seguro, Delmar Bittencourt, explica como as facções dividem as forças. A Campinho está espalhada pelo centro, nas áreas próximas ao Rio Buranhém e ao aeroporto. Além disso, detém o controle do comércio de entorpecentes nos famosos distritos de Arraial, Trancoso e Caraíva.
A facção não tem um comando centralizado e seus
nomes mais fortes, na avaliação de Bittencourt, estão presos. São os
irmãos Jadiel da Silva Medino, o Marrocos, e Jabes da Silva Medino, o
Big Mel. Já a MPA, apontada como maior e mais violenta, comanda o crime
na parte alta da cidade, onde está o Baianão. “A geografia dificulta
nossas ações, porque eles ficam no alto e todos os acessos são visíveis.
E tem uma área de mata fechada para onde os bandidos fogem quando a
polícia chega”, argumenta Bittencourt.
Criada no bairro Mercado do Povo, que compõe o
Baianão, a MPA é liderada por André Márcio de Jesus, o Buiu, Ás de Copas
do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Ou seja,
pela hierarquia das cartas, trata-se do segundo bandido mais procurado
pela polícia baiana.
“Ele não fica
aqui. Ele vem, passa as ordens e vai embora. Estamos mapeando seus
movimentos e vamos prendê-lo”, garante o delegado. Buiu é acusado de, em
novembro de 2011, após a morte de um comparsa, ter ordenado ataques
que resultaram em lojas saqueadas, caixas eletrônicos destruídos e
ônibus incendiados. Numa demonstração de poder, ele chegou a pagar um
carro de som que circulou por Porto Seguro “convocando” criminosos para
os ataques.
Dias depois, a polícia
esteve perto de prendê-lo, ao invadir uma fazenda onde ele se escondia,
na zona rural de Ilhéus, região Sul do estado. Na operação, quatro
integrantes do bando de Buiu foram mortos e sua mulher foi presa, mas
ele conseguiu fugir.
Mortes
Com Buiu ainda livre à frente da MPA e membros da Campinho também atuando, a disputa entre criminosos vai somando vítimas. “Houve momentos de a MPA não querer ninguém do centro da cidade no Baianão. Se entrasse, morria, porque é área do grupo rival”, revela Bittencourt. Mesmo levando em conta que Porto Seguro tem a maior população entre as cidades que formam a Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) 35 — 141 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE —, é notável a diferença para os vizinhos em número de mortes.
Com Buiu ainda livre à frente da MPA e membros da Campinho também atuando, a disputa entre criminosos vai somando vítimas. “Houve momentos de a MPA não querer ninguém do centro da cidade no Baianão. Se entrasse, morria, porque é área do grupo rival”, revela Bittencourt. Mesmo levando em conta que Porto Seguro tem a maior população entre as cidades que formam a Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) 35 — 141 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE —, é notável a diferença para os vizinhos em número de mortes.
De acordo com dados
da SSP, Porto Seguro teve 121 homicídios dolosos em 2013, enquanto a
segunda colocada, Eunápolis, registrou 70. Porto Seguro teve ainda cinco
lesões corporais seguidas de morte. Na região, as estatísticas só
apontam mais um crime deste tipo no ano passado, em Cabrália. Dentre os
crimes contra a vida registrados na Aisp 35 em 2013, Porto Seguro só
perdeu a dianteira em uma modalidade: foram três latrocínios (roubos
seguidos de morte), contra cinco em Eunápolis.
Na
análise junto às três cidades baianas que ficam logo acima no ranking
populacional, PortoSeguro ultrapassa todas em mortes. Alagoinhas,
Teixeira de Freitas e Barreiras têm cerca de 150 mil habitantes cada. Em
2013, elas registraram, respectivamente, 80, 84 e 54 homicídios
dolosos. Ainda não estão disponíveis dados oficiais deste ano, mas
Delmar Bittencourt garante que as mortes estão caindo, principalmente
depois da operação Cruz de Malta.
Em
fevereiro, 17 suspeitos de tráfico e homicídios foram presos na sede e
nos distritos de Arraial, Trancoso, Vera Cruz e Pindorama. Todos,
segundo o delegado, pertencem a uma das duas facções. Os moradores
torcem mesmo para que a criminalidade seja contida. As queixas partem
até de quem, de certa forma, lucra com as mortes, como o dono de uma
funerária. Em anonimato, ele disse: “Em dez funerais que recebo, oito
são assassinatos. Isso tem que parar”.
Supostos bandidos usam redes sociais para demonstrar poder
Além de espalhar suas siglas para marcar território
pelas ruas de Porto Seguro, membros (ou supostos membros) das facções
criminosas travam uma disputa no ambiente virtual. Nas redes sociais, há
dezenas de páginas com exaltação da criminalidade, gritos de guerra e
postagens de fotos de armas e drogas e ameaças aos bandidos do grupo
opositor.
Bandidos compartilham fotos em rede social (Foto: Reprodução/Facebook)
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As
páginas são relativamente novas, todas criadas a partir do segundo
semestre do ano passado, e os textos ali publicados carregam, em sua
maioria, uma série de erros gramaticais. Numa postagem feita no início
deste mês, um usuário identificado como Pikeno MPA escreveu: “Ta brabo
pra vcs comedias do campinho Se atravessar
num vai ter vez não. MPa sempre no comando”. Outro
usuário, que posta suas mensagens com a alcunha Campinho CP, respondeu
no mesmo dia: “Avisa pros mpa que noixx ta tipo cosmo e damiao nois ta
mandado bala pra geral... porto ta dominado”.
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