A cartilha petista, as vigarices e mais uma vaia para Dilma. Está difícil para a soberana deixar o castelo e andar entre os súditos
O PT decidiu fazer
uma espécie de cartilha (leia post anterior) para enfrentar o embate eleitoral.
Não deixa de ser curioso. A tônica do panfleto é a seguinte: os candidatos de
oposição não teriam “propostas” para o país. Digamos que assim fosse. Não perca
seu tempo, no entanto, tentando saber, então, quais são as ditas “propostas” do
PT. Não existem. Até porque me parece evidente que aquele que governa já reúne
as condições para fazer o que tem de ser feito, não é mesmo? Mais do que propor,
precisa é agir.
- Se Dilma sabe como
devolver a inflação para o centro da meta, por exemplo, por que ela não devolve,
então, a inflação para o centro da meta?
- Se Dilma sabe como
acabar com a roubalheira da Petrobras, por que, então, ela não acaba com a
roubalheira da Petrobras?
- Se Dilma sabe como
responder aos graves entraves existentes na infraestrutura, por que, então, ela
não responde aos graves entraves existes na infraestrutura?
- Se Dilma sabe como
reverter, ou minimizar ao menos, o rombo histórico que haverá nas contas
externas, por que, então, ela não o reverte ou minimiza?
- Se Dilma sabe como
resolver o estado de miséria da segurança pública, por que, então, ela não
resolve o estado de miséria da segurança pública?
A resposta é
simples: ela não faz nada disso ou porque não sabe ou porque o arco de alianças
que a sustenta no poder não permite. Dilma tem uma base de apoio gigantesca.
Ainda que ela venha a vencer a disputa, terá certamente menos apoio no Congresso
do que tem hoje. Querem um exemplo? Um eventual governo Aécio Neves contará com
um PMDB mais unido na base de apoio do que um eventual novo governo Dilma,
embora esse partido vá para a disputa tendo garantida a posição de vice na chapa
encabeçada pela petista.
Restou ao PT, então,
lançar uma cartilha em defesa da presidente dizendo por que os outros não podem
ser eleitos, não por que ela deve ser reeleita. E aí sobram as picaretagens e as
mistificações de sempre, que alguns vigaristas intelectuais já estão tentando
transformar em teoria política.
A defesa da
independência do Banco Central — ou de um Banco Central independente das
injunções políticas, que é o mínimo que se pode esperar da autoridade monetária
— foi transformada, na cartilha petista, numa suposta ação “antipovo”. A
afirmação de que um presidente da República não pode ser refém da popularidade é
lida como a defensa de “medidas amargas” contra os pobres.
Assim, pergunta-se:
qual é a proposta do PT? Mais uma vez, investir na falsa polarização entre “nós”
e “eles”; entre os supostos defensores do povo e seus algozes. Não sei, não…
Tenho a impressão de que esse discurso já não cola mais com tanta facilidade. Ou
vamos ver.
Vaia
Neste sábado, a presidente Dilma foi à abertura da 80ª edição da Expozebu, em Uberaba, Minas Gerais. Quando seu nome foi anunciado, explodiu uma sonora vaia. Aqui e ali, leio que se trata, afinal, de um “reduto” do senador Aécio Neves (PSDB), candidato do PSDB à Presidência. É, não deixa de ser.
Neste sábado, a presidente Dilma foi à abertura da 80ª edição da Expozebu, em Uberaba, Minas Gerais. Quando seu nome foi anunciado, explodiu uma sonora vaia. Aqui e ali, leio que se trata, afinal, de um “reduto” do senador Aécio Neves (PSDB), candidato do PSDB à Presidência. É, não deixa de ser.
Mas e a vaia havida
na festa promovida pela CUT, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo? Não se pode
chamar, creio, de “reduto tucano” um evento patrocinado pela central que atua
como um dos tentáculos do PT. E, no entanto, os petistas não conseguiram fazer
um miserável discurso. A chuva de garrafas, latas e bolas de papel não permitiu.
A cada vez que alguém pronunciava o nome de Dilma, era vaia na certa. O mesmo se
deu na manifestação organizada pela Força Sindical.
Então vamos ver:
Dilma vai ao ar em rede nacional de rádio e TV na quarta, anuncia bondades, e é
sonoramente vaiada na quinta. O PT praticamente a oficializa como candidata na
sexta, e tome mais vaia no sábado.
A máquina de
difamação do petismo sempre foi muito poderosa — não é de hoje. Vem lá dos
tempos em que era um pequeno partido de oposição. A Internet multiplicou muito o
seu poder. Mas me parece que, desta feita, as pessoas já estão um tanto mais
precavidas.
A imprensa e
o “Paradigma Louis Renault”O PT
parece andar sem ideias. Em sua cartilha, a imprensa apanha mais uma vez,
tratada como o verdadeiro partido de oposição do Brasil. Os petistas consideram
que noticiar as lambanças na Petrobras ou os vínculos de André Vargas e
Alexandre Padilha com o doleiro Alberto Youssef é “coisa de oposição”? Não! É
coisa do inquérito da Polícia Federal.
Mas sabem como é a
boca torta. Lembram-se de Louis Renault, o capitão de polícia corrupto do filme
“Casablanca”? Ao dar uma ordem a seus subordinados para apurar os responsáveis
por um assassinato — e com o intuito de proteger Rick, seu amigo —, dispara uma
frase que ficou famosa: “Round up the usual suspects” — “prenda os suspeitos de
sempre”.
O jornalismo
independente está entre os “suspeitos de sempre” do petismo. O paradigma de
honestidade do partido é aquela gente que vive pendurada nas tetas das estatais
e da verba oficial de publicidade. Os petistas parecem acreditar apenas na
“honestidade intelectual” que tem um preço.
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