O
lulopetismo sempre odiou São Paulo e suas "elites" - e tanto mais odeia
porque nunca conquistou o governo do Estado. Não será com esse Padilha,
vaiado no Dia do Trabalho, que tomará o Estado, cuja capital é, de fato,
"a mais brasileira das cidades do Brasil". Aliás, o próprio falastrão
de São Bernardo jamais teria existido sem São Paulo. Artigo de J. R.
Guzzo na edição impressa da Veja ("Brasil brasileiro"):
Voltou a
ser moda no mundo político brasileiro falar mal de São Paulo;
aparentemente, essa velhacaria parida pelo ressentimento e pela
demagogia foi incluída de novo na caixa de ferramentas dos heróis da
nossa vida pública. Para muitas estrelas do PT é uma tentativa de
enfiar-se no coro contra as elites inventado pelo ex-presidente Lula
num desses repentes de inspiração – que só ele tem para criar inimigos
imaginários, em cima dos quais pode jogar a culpa de tudo sem citar o
nome de ninguém. São Paulo, segundo essa visão, seria o covil mais
perigoso das “elites brasileiras” de hoje. Trata-se, também, de um alvo
multiuso. Serve tanto para o infeliz deputado André Vargas como para o
senador José Sarney. Serve para governadores calamitosos, que tentam
explicar seus fracassos inventando que São Paulo fica com “todos os
recursos do país”. Serve para a defesa de qualquer corrupto – estão
sendo “linchados”, costumam dizer, porque combatem “os interesses da
elite paulista”. Serve para rebater denúncias contra aberrações como a
compra da refinaria de Pasadena ou a construção da refinaria Abreu e
Lima, próxima ao Recife; tais denúncias, dizem os suspeitos, são armadas
por elitistas de São Paulo, que querem “privatizar a Petrobras” e não
se conformam com o avanço industrial de Pernambuco.
Junta-se à
tropa, agora, o governador do Acre, Tião Viana, que acusa São Paulo de
abrigar elites culpadas pelo triplo delito de preconceito, racismo e
tentativa de “higienização” contra imigrantes haitianos. Recentemente,
uma secretaria do governo paulista havia reclamado que em três dias
vieram do Acre para São Paulo três vezes mais haitianos do que nos
últimos três anos – todos com passagens entregues por funcionários do
governo acriano, incapaz de lidar com a massa de imigrantes do Haiti que
vem se acumulando em seu território. O governador, um servidor opaco do
médio clero do PT, estava apenas aplicando o velho golpe dos
grão-senhores que reinam nos fundões mais atrasados do Brasil:
combater a miséria através da exportação dos miseráveis. Mas não
resistiu à tentação de enfiar na história a “elite paulista”,
embrulhando com palavrório “ideológico” o que é uma simples trapaça para
esconder sua inépcia.
Esse
gigante da luta de classes, como alguns ainda podem se lembrar, é o
mesmo senador Tião Viana que em 2009 tentou empurrar para o Senado
Federal uma conta de 15 000 reais que sua filha gastou com ligações no
celular durante uma viagem particular de duas semanas ao México; só pôs a
mão no bolso para devolver esse dinheiro aos cofres públicos depois que
o caso foi revelado pela imprensa. Os outros militantes anti-São Paulo
não estão muito acima. Até caciques do PT, como o secretário paulistano
de Transportes, já chegaram a afirmar que “São Paulo é a cidade mais
reacionária do Brasil”. O ex-deputado cearense Ciro Gomes, nascido em
São Paulo, é outro que gosta de bater bumbo nessa banda. Tempos atrás,
veio com uma teoria bem estranha. Pelo que deu para entender, ele acha
que São Paulo “não é bem o Brasil”; seria uma espécie de território
estrangeiro, habitado por gente que talvez nem devesse ter pleno direito
à nacionalidade brasileira, por lhe faltar “brasilidade”. Esse tipo de
devaneio, comum entre políticos do Nordeste, talvez venha da impressão
de que São Paulo é o bairro dos Jardins, o único que conhecem. O
deputado poderia passar uma ou duas horas num dos outros 500 jardins que
há na cidade. Poderia ir, por exemplo, ao Jardim Peri-Peri ou ao Jardim
Quá-Quá; teria oportunidade de verificar, então, se está ou não no
Brasil.
São
Paulo, gostem ou não, é a mais brasileira das cidades do Brasil –
nenhuma outra, nem de longe, é o lar de tantos brasileiros vindos de
outros estados. Tem 3 milhões de habitantes nordestinos, mais que
qualquer cidade do Nordeste. A eles se somam os filhos, netos e bisnetos
das massas vindas do Norte – os verdadeiros paulistanos de hoje. “Elite
branca”, na cidade onde milhões de moradores formam a maior mistura de
etnias de todo o Brasil? A cidade mais reacionária do país? São Paulo é
onde o Brasil descobriu, com os imigrantes estrangeiros, que existia
algo chamado “trabalho”. Foi em São Paulo que o Brasil ouviu pela
primeira vez a palavra “greve”, e os senhores da corte no Rio de Janeiro
ficaram sabendo de uma novidade revolucionária – a de que um
trabalhador era um ser diferente de um escravo, precisava ser pago e
tinha direitos. O ex-presidente Lula nunca teria existido sem São Paulo;
não é com Acre ou Ceará, esses paraísos de progressismo político onde a
“elite branca” já foi varrida do mapa, que se constroem mudanças assim.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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