MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Professor, caneta e livro, antídotos da manipulação

Ranulfo Bocayuva A TARDE

"Um jovem que não protesta não me agrada... É preciso ouvir os jovens, dar-lhes lugares para se expressar, e cuidar para que não sejam manipulados". As serenas e sábias declarações do papa Francisco, no Rio, nos instigam a todos, pais, professores, jornalistas, políticos e cidadãos de modo geral, a repensarmos prioritariamente o inestimável papel da educação na vida do jovem, independentemente de seus sonhos, origens e crenças.
Que seja na escola, que ainda é inacessível a 57 milhões de crianças no mundo, ou nas ruas, para exigir serviços públicos essenciais ao cidadão, o jovem precisa ser ouvido, assim como precisa de atenção tanto educacional, como também humana, social e política.
"Guerras e pobreza afetam 28,5 milhões de crianças do nível primário em países do Saara africano, do sul e oeste africano e em estados árabes. As meninas, que totalizam 55%, são as piores vítimas", informa o relatório de julho do Programa Educação para Todos da Unesco.
Irã, Nigéria, Mali, Líbia e Síria passaram a integrar, em 2013, a lista de 32 países com conflitos armados registrados, entre 2002-2011.
Não podemos ignorar a valiosa contribuição da jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai, cuja impactante frase "uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo"  emocionou a ONU, em 12 de julho (dia em que completou 16 anos). Ela é o exemplo vivo (graças aos deuses) da argumentação do papa sobre o risco de manipulação, no caso dos talibãs afegãos, que proíbem o acesso das meninas à educação. Malala, que foi ferida no ano passado junto com outras duas colegas quando se dirigia de ônibus para sua escola, foi tratada na Grã-Bretanha e está de volta ao seu país.
Você pode inclusive participar da Iniciativa Global de Educação (globaleducationfirst.org), apoiando os trabalhos do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Os extremistas têm medo das canetas e dos livros. O poder da educação os amedronta. Eles têm medo das mulheres. O poder das mulheres os amedronta. Estas são as razões pelas quais eles matam as professoras e destroem as escolas", disse Malala.
Felizmente, Malala não está sozinha. Há outros exemplos notáveis do poder de transformação pela educação, como o da menina queniana da tribo Maassai Kakenya Ntaiya (ted.com).
Guerra e pobreza continuam sendo o principal obstáculo à educação básica de qualidade e acabam causando trabalho escravo, discriminação contra o sexo feminino, falta de escolas, obrigando a comunidade internacional a dobrar seus esforços para garantir que todas as crianças e adolescentes tenham acesso à educação até 2015, uma das principais metas do programa Objetivos do Milênio da ONU (objetivosdomilenio.org.br).
Mas não basta somente ler, escrever e contar. O jovem deve se preparar para entender e assimilar valores capazes de transformar a sociedade em mais humana, cooperativa, tolerante, pacífica e inclusiva. E somente a educação básica de qualidade pode criar vigorosos valores, práticas e condutas de respeito ao bem comum, à natureza e à diversidade. Noções de imprevisibilidade, criatividade e auto-organização também devem ser incorporadas nas práticas de ensino, dizem especialistas.
Estes novos desafios exigem mudança rápida e radical na forma como agimos em relação à dignidade do ser humano. Sim, mudanças são possíveis quando o sistema de educação estimula visão ética global. Experiências deste tipo, em Gana e na Índia, por exemplo, mostram que é possível enraizar novas visões de mundo na juventude.
Como demonstrou, anteontem, o Atlas dos Índices de Desenvolvimento Humano no Brasil, as regiões mais pobres no Norte e Nordeste continuam sendo as mais violentas e carentes de serviços de educação e saneamento. Há trabalho prioritário a fazer nestas áreas e os governantes sabem.
O papa também deve ser ouvido quando diz que o mundo não pode ser movido pela lógica da ganância e do lucro. Seria fundamental que os líderes transformassem palavras em ações concretas. Os jovens merecem.
Ranulfo Bocayuva l Jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário