MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Marcas que saíram do quadrado


O setor privado no Distrito Federal tem aumento recorde e quinze empresas locais já espalham sua grife pelo país

  VEJA.COM| por Clara Becker

Alexandre Guerra, CEO da Giraffas: ícone do made in Brasília
Investimento inicial: R$ 1 milhão /  Faturamento mensal: R$ 150 000

Brasília carrega uma série de estereótipos. No imaginário nacional, por exemplo, a cidade parece um grande ajuntamento de funcionários públicos. De fato, em termos proporcionais, a quantidade de servidores na capital é três vezes maior do que a média do país. Sozinho, o Distrito Federal abriga 289 000 deles, segundo pesquisa feita em junho deste ano pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) - um número correspondente a 22,3% da população empregada.

Embora os dados acima sejam contundentes, o clichê cada vez mais se distancia da realidade. A mesma pesquisa do Dieese mostra que 52,4% dos assalariados da capital atuam na iniciativa privada, um recorde histórico. A diferença entre os dois setores também nunca foi tão grande por aqui. Até o início da década de 90 cada um deles empregava cerca de 30% da mão de obra. Constavam 230 000 funcionários no segmento privado e 205 000 no público. Os outros, em sua maioria, eram autônomos ou atuavam na informalidade.

Visto sob outro ângulo, nos últimos vinte anos o número de empregados do setor privado triplicou no DF, enquanto o montante da área pública cresceu apenas 40% no mesmo período. Esse salto dos negócios já deixa marcas bem visíveis na economia da região. Para algumas empresas brasilienses e do entorno, nosso quadrilátero no mapa ficou pequeno. Quinze delas apostaram na expansão por meio do sistema de franquia e extrapolaram as divisas do DF. Essas grifes revelam ao país uma faceta empreendedora dos brasilienses que vai além dos ministérios, Congresso e grandes estatais.

Atualmente, as franquias - o modelo de negócios que começou com a fabricante das máquinas de costura Singer, nos Estados Unidos, em meados do século XIX - crescem em ritmo acelerado no Brasil. A ponto de três unidades franqueadas serem abertas por hora no país. Os interessados buscam vantagens atraentes, como menor risco para quem não tem experiência no comércio, linha de crédito facilitada e retorno mais rápido do que em negócios independentes. Para o franqueador, significa expandir a marca com o capital de um investidor. O valor a ser desembolsado pelo franqueado varia entre 20 000 e 3 milhões de reais.

A lanchonete Giraffas, nascida na cidade em 1981, integra o hall de clássicos made in Brasília, junto com tesourinhas, agulhinhas e os monumentos de Niemeyer. Com 400 unidades espalhadas pelos 26 estados da federação e outras seis no exterior (cinco lojas próprias em Miami e uma em Orlando), ela é, também, o maior símbolo do franchising brasiliense.
“Devemos tudo à grande projeção que tivemos na cidade. Crescemos graças ao consumidor local”, diz Alexandre Guerra, CEO da empresa e filho do fundador, Carlos Guerra. Aos 19 anos, o pai do empresário voltou de um intercâmbio nos Estados Unidos fascinado com as franquias de fast-food e abriu a sua versão candanga, com a ajuda de amigos, na Universidade de Brasília (UnB). O sucesso foi tamanho que ele não chegou a concluir o curso de engenharia elétrica para dedicar-se ao empreendimento.

Flavio Oliveira e sua mulher, Dodora Salomão, também eram estudantes na UnB quando abriram a escola BSB Musical. Há 27 anos, no primeiro dia de operação, em uma salinha na Asa Norte, conseguiram uma única matrícula. Mas não desanimaram. A escola de música ocupa hoje um prédio de 800 metros quadrados, na mesma região. Em 2005, eles foram pioneiros na franquia de escolas de música e hoje lideram o ramo no país. Têm outras doze unidades franqueadas na capital. Fora do DF, estão presentes em Goiânia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Quando a carioca Márcia Leta quis abrir uma franquia de escola de música no Rio de Janeiro em 2007, eles eram a única opção. “Alguns alunos acham estranha a sigla BSB. Eu digo que significa ‘bom som brasileiro’ ”, conta, rindo, a empresária. Oliveira cogitou mudar o nome da empresa. “Peguei a inicial da minha mulher e a minha. Deu DF, de Dodora e Flavio. Aí, desisti”, brinca.

Para Ricardo Camargo, diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o número de franquias brasilienses ainda está aquém do potencial da cidade. Como receptora, Brasília figura entre as dez maiores. Já como exportadora, aparece lá no fim da fila. Belo Horizonte, por exemplo, tem 140 marcas no mercado. São Paulo, com 1 200 empresas, concentra 55% do setor.




 
Segundo dados da ABF, das quinze franquias brasilienses, oito estão no ramo da alimentação. O número distingue a cidade do restante do país. Na média nacional, apenas 20% das franquias enveredaram pela gastronomia. Além do Giraffas, o tradicional Marietta pode ser encontrado por brasilienses fora da capital. Marcas mais recentes como Sushiloko, Quiznos Sub, Brasil Vexado e Xis Gaúcho engrossam a lista.

No ramo da construção, a Dr. Marido despontou em 2007 fazendo reparações e pequenas reformas domésticas. Agora, suas 37 franquias estão distribuídas por treze estados, do Acre ao Rio Grande do Sul.

A perfumaria Lord e a clínica de estética DauHaus se preparam para conquistar o resto do Brasil. Trata-se das primeiras no ramo de beleza a expandir seus mercados pelo modelo de franquias.

Cristina Castro é professora da UnB e responsável pela coordenação da Escola de Empreendedores. Ela assegura que Brasília se curou da “síndrome do funcionário público”. Na universidade, muitos alunos não querem estar perto do poder nem trabalhar em estatais. Preferem empreender. A escola atende mais de sessenta departamentos e forma 1 400 alunos por semestre. “Há 25 anos, quando a minha mãe lecionava lá, havia apenas uma sala. Hoje, temos um prédio. Nossas turmas estão lotadas”, diz.

O superintendente do Sebrae-DF, Antônio Valdir Oliveira, afirma que tem travado uma verdadeira guerra para mostrar aos brasilienses que vale a pena empreender. Pelo visto, ganhou algumas batalhas. Em 2010, ele recebeu 72 000 pedidos de orientação. Dois anos depois, o número saltou para 176 000. Já o total de inscritos em palestras e cursos promovidos - alguns deles para franqueados e franqueadores - subiu de 15 000 para 45 000. “Temos de despertar para a vida que existe além do estado. Até porque o governo não tem como absorver esse povo todo”, resume. Se continuar assim, Brasília ainda poderá ser conhecida não apenas como um lugar de pioneiros e funcionários públicos, mas também de empreendedores.


João Márcio Moreira

Com 26 franquias, a BonaSecco deve ganhar mais quarenta até o fim do ano


Investimento inicial: R$ 300 000 / Faturamento mensal: R$ 50 000

João Márcio Moreira foi servidor público até o dia em que seu tino empresarial falou mais alto. Em 2007, inaugurou a primeira unidade da lavanderia BonaSecco, na 112 Sul. Para ele, a melhora no poder aquisitivo, a redução no tamanho dos apartamentos, o acúmulo de afazeres e empregadas domésticas com salário e diária cada vez maiores contribuíram para o sucesso da empresa. Em 2008, a primeira franquia foi aberta no Amazonas. “Nos lugares quentes é onde mais há edredons para lavar. O uso do ar-condicionado é intenso”, conta. Em Brasília, ternos e vestuário formal estão no topo da lista. O empresário aprendeu na prática e nos estudos a lavar qualquer coisa: de becas de juiz a vestidos de noiva. “Já lavamos até fantasias de ursos gigantes para um grupo de teatro”, lembra. Dinheiro ele garante que não lava. Os bolsos com notas, cartões, joias e crachás esquecidos dentro são sempre verificados antes do processo de limpeza.


Ennius Muniz

A meta da perfumaria Lord é atingir 100 lojas em cinco anos


Investimento inicial: R$ 170 000 / Faturamento mensal: R$ 90 000

Há 52 anos em Brasília, Ennius Muniz orgulha-se de ter visto a W3 ser asfaltada. Arquiteto de formação e empresário do ramo da construção civil, foi seguindo um conselho do ex-ministro Delfim Netto que ele comprou a Lord, em 1980. “O ministro dizia que era bom diversificar os investimentos, e a minha filha gostava de perfumes. Comprei uma perfumaria”, diz. Criada em 1964, a Lord vivia um período de decadência naquela época, vítima das mudanças de pacotes econômicos. Quase com a mesma idade de Brasília, ela reconquistou a liderança no Distrito Federal e agora quer operar em escala nacional. Há 33 anos à frente da empresa, que vende produtos para as classes A, B e C, Muniz diz ter experiência para repassar aos seus franqueados e revela uma curiosidade: “No Iguatemi, vendemos mais frascos de 50 mililitros; em Taguatinga, saem mais os de 100. A classe C compra um perfume ao ano e parcela em três, quatro vezes”. E sentencia: “O perfume não é supérfluo. Algo que é utilizado todos os dias não pode ser supérfluo”.


Rafael Costacurta

O brasiliense mata a saudade da cidade quando vai ao Marietta em outros estados


Investimento inicial: R$ 330 000 / Faturamento mensal: R$ 80 000

Em 1982, o curitibano Edson Costacurta era funcionário da Eletronorte e recebeu uma boa quantia devida pela estatal. Não teve dúvida quanto ao que fazer com o recurso extra. Iria empreender. A ideia de uma lanchonete com sanduíches leves foi inspirada nas casas de suco cariocas. Sem saber, Costacurta antecipou-se à tendência saudável que marcaria a década seguinte. O negócio deslanchou apenas com a abertura da segunda loja, no Conjunto Nacional. Só aí Costacurta abriu mão da estabilidade do serviço público e se tornou empresário em tempo integral. Agora, sua rede está presente em todos os shoppings da cidade e em outros quatro estados. “O Marietta faz parte da história de vida de muitos brasilienses. Vimos muitos casais namorando, depois casados e hoje eles voltam com os filhos, alguns bem crescidos”, diz Rafael Costacurta, filho de Edson, que também cresceu e trabalha nos negócios da família. Quem não faz parte dela é a Marietta: o nome é fictício.



Anderson Silva

A Dr. Marido tem mais de 30 000 clientes apenas no DF


Investimento inicial: R$ 25 000 / Faturamento mensal: R$ 25 000

Quando Anderson Silva abriu a Dr. Marido, em 2007, o conceito de marido de aluguel ainda não era bem difundido no DF. “Nas noites de sexta, nossos telefones estouravam de tocar. Eram mulheres ligando do bar. Até tirávamos o aparelho do gancho”, conta Silva. Técnico em edificações, ele já trabalhava com reformas no dia em que sua mulher assistiu a um programa na televisão que mostrava maridos de aluguel nos Estados Unidos. Os dois resolveram adaptar a ideia ao cerrado. No início, Silva ia pessoalmente fazer os reparos. “Tirei coruja de coifa e instalei presentes de casamento de um casal que já tinha se mudado fazia catorze anos. O marido reclamou quando me viu, mas depois gostou e me chamou de novo”, lembra. Durante a seca, haja portas e janelas para desemperrar. Quando volta a chover, as chamadas são para ver telhados. Até hoje, os clientes pedem para ele ir. Mas, agora, Silva não sai mais do escritório, em Santa Maria, de onde coordena as 37 franquias abertas em todo o país. “A empresa tem crescido a um ritmo de 100% ao ano”, comemora.




O paraíso das redes 

O alto poder de compra na capital atrai grifes de peso


O Boticário do Taguatinga Shopping: Brasília é o segundo mercado da perfumaria

Se Brasília exporta marcas, há também franquias do Brasil inteiro que querem se instalar na capital. O Distrito Federal abriga 2,8% de todas as unidades franqueadas do país, ficando atrás de nove estados. Apesar de não ter uma posição de destaque no ranking geral, o DF é o segundo mercado mais importante do país para marcas de peso como O Boticário, do setor de cosméticos, e Morana, do ramo de bijuterias - ambas figuram na lista das maiores redes brasileiras. O motivo? O alto poder de compra dos moradores. Brasília tem o terceiro maior índice de potencial de consumo (IPC) do país, cálculo usado pelo setor privado para aferir perspectivas de mercado. “Aqui há pessoas com dinheiro para instalar uma unidade e gente disposta a consumir produtos de preços altos. As empresas de fora estão descobrindo isso”, explica Antônio Valdir Oliveira, superintendente do Sebrae-DF. É o caso da marca de lingerie Hope. Desde 2005, ela instalou três lojas na cidade. Até o próximo ano, pretende abrir mais cinco. Além de buscar a alta renda, a Hope está de olho no hábito do brasiliense de consumir nos shoppings. Isso faz com que uma empresa de fora, pouco afeita à capital, entre mais facilmente no mercado. “Em qualquer outra cidade é preciso estudar qual é o melhor local para instalar uma loja. Aqui, os shoppings passam esse dado para você”, conta Fábio Figueiredo, diretor de franquias da Hope. Não é à toa que 50% das lojas, nos dezessete shoppings do DF, são de marcas franqueadas. Mas nem só as marcas novas e com pouca expressão querem crescer em Brasília. O Boticário ainda vê espaço para expandir os negócios entre nós. “Existe uma tendência de regionalização dos bairros. Os consumidores querem consumir próximo à sua residência”, avalia Paulo Salomão, diretor de vendas da empresa.
por Olívia Meireles


Cinco passos para conquistar a primeira franquia

O que deve ser feito para expandir os negócios sem prejudicar a marca     

1º - Entrar em um negócio com rentabilidade comprovada

A experiência adquirida no setor em que atua é um grande diferencial da marca. O desenvolvimento de uma franquia inicia-se com a formatação de um modelo pronto para ser replicado. Todo o conhecimento deverá ser transmitido, com precisão, ao franqueado. Isso inclui desde o fluxo de caixa e o treinamento dos funcionários até a indicação dos produtos de limpeza da loja.

2º - Apoio

Deve-se buscar uma consultoria especializada no modelo de negócio para identificar as oportunidades e os desafios do setor. Para determinar se o negócio é franqueável, é preciso verificar a demanda do mercado pelos produtos ou serviços, as tendências do segmento, a concorrência, o público-alvo, as principais estratégias de atuação da empresa e sua avaliação interna, especialmente a capacidade de produção e expansão. O Sebrae-DF oferece cursos e palestras para orientar os franqueadores.

3º - Planejamento

Com os dados da pesquisa em mãos, é importante traçar o plano estratégico da relação entre investimento e retorno. Deve-se decidir sobre as questões onde (quais regiões), como (de que forma se pretende atrair investidores) e em quanto tempo (quantas franquias se pretende inaugurar ano a ano). O plano de expansão precisa condizer com a capacidade de produção e distribuição da empresa.

4º - Estrutura

O franqueador precisa montar uma estrutura profissional para assessorar o franqueado. Cada um deles - sem exceção - deve passar por treinamentos que envolvem teoria e prática, além de ter acesso a manuais da franquia.

5º - Relacionamento

É necessário participar de feiras e exposições para ganhar visibilidade. Muitas pessoas interessadas em abrir o próprio negócio visitam esses eventos - o que aumenta a chance de vender a primeira franquia.

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