MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Cadeirante vai realizar sonho de intercâmbio sete anos após acidente


Brasileira de 31 anos ficou paraplégica após acidente de carro em 2006.
Ela vai para Boston neste sábado (3) e relatará a experiência em blog.

Flávia Mantovani Do G1, em São Paulo

Michele Simões, de 31 anos, que ficou paraplégica em 2006 (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)Michele Simões, de 31 anos, que fará intercâmbio em Boston  (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)
Desde que ficou paraplégica após um acidente de carro em 2006, a estilista Michele Simões, de 31 anos, batalha diariamente para recuperar parte das funções que perdeu. Durante os primeiros quatro anos, ela não conseguia nem ficar sentada. Hoje, após muita reabilitação, já se locomove em sua cadeira de rodas, mas ainda precisa de ajuda para se deslocar em lugares não planos e para outras funções do dia a dia.
Michele em viagem à Argentina (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)Michele em viagem à Argentina
(Foto: Michele Simões/Arquivo
pessoal)
Neste sábado (3), Michele vai dar um grande passo nessa luta por autonomia: partirá para um intercâmbio de dois meses na cidade de Boston, nos Estados Unidos. Suas aventuras serão contadas em um blog, o Guia do Viajante Cadeirante.
A viagem é um sonho antigo, que teve que ser adiado após uma conversão errada de um amigo no trânsito. Michele, que tinha 24 anos, estava deitada no banco de trás do carro e quebrou a coluna.
Recém-formada em design de moda em Londrina (PR), ela havia se mudado para São Paulo dois meses antes e planejava juntar dinheiro para estudar inglês fora do país.
“Eu já trabalhava, me sustentava, me virava sozinha e, do dia para a noite, virei um bebê. Tinha que pedir para alguém me ajudar em tudo”, descreve. Michele conta que sempre quis conhecer o mundo, mas não achou que conseguiria tão cedo. “Eu não conseguia nem tocar minha cadeira, imagina morar fora.”
Além de perder as funções da perna, Michele não conseguia controlar a urina nem ficar sentada. Contava com a ajuda de cuidadoras noite e dia, além do auxílio de sua irmã, que foi morar com ela, e do namorado, com quem havia começado a sair pouco antes do acidente e que está ao seu lado até hoje.
Eu trabalhava, me virava sozinha e, do dia para a noite, virei um bebê. Precisava de ajuda para tudo"
Michele Simões, sobre a época em que ficou paraplégica após o acidente
Após fazer reabilitação diariamente durante várias horas – em casa e em clínicas de São Paulo e de Campinas --,  Michele teve uma evolução maior a partir do quarto ano do acidente.
Agora, resolveu testar “até onde vai sua independência” com essa viagem.
Boston foi a cidade escolhida por ter ruas planas e acessíveis para pessoas com deficiência. Porém, ela teve que desistir dos planos de ficar em casa de família ou em alojamento estudantil porque não conseguiu garantia de que encontraria acessibilidade nesses locais.
Decidiu, então, morar em um hotel ligado à sua escola de inglês. “Quero ter mais segurança.  É a primeira viagem que estou fazendo”, diz.
Preparativos e planos
Na verdade, Michele já havia viajado uma vez após seu acidente. Passou cinco dias na Argentina com seu namorado, mas não gostou da experiência. “Foi terrível, porque lá não tem adaptação nenhuma, ele tinha que me carregar para todo lado”, diz.
Sempre quis conhecer o mundo e estudar fora, mas não achei que iria conseguir tão cedo"
Michele Simões
Desta vez, o namorado vai passar um tempo com ela nos EUA, mas ela garante que vai seguir boa parte de sua rotina sozinha, até para ter material para o seu blog – no qual pretende contar sobre a sua rotina, compartilhar os desafios que enfrenta como cadeirante e os passeios que fará por “cada cantinho” de Boston.
Ela quer ainda visitar um centro de design que cria produtos para pessoas com deficiência e um centro de reabilitação ligado à Universidade Harvard. “Se eu compartilhar isso com outras pessoas, acho que posso ajudar muita gente”, afirma.
Nos preparativos da viagem, ela está tendo que se preocupar com novas questões: comprar uma sonda de urina específica para usar durante o voo, pedir à companhia aérea uma cadeira de rodas mais estreita para se locomover nos corredores do avião, alguém para ajudar no embarque, no desembarque e para recolher a bagagem, por exemplo.
Michele Simões (Foto: Michele Simões/Arquivo pessoal)Michele vai relatar seus desafios
em um blog (Foto: Michele
Simões/Arquivo pessoal)
Ela também está levando remédios para tomar durante dois meses e uma mala só com sondas e outros utensílios. Para ter menos dores, fará alguns exercícios de reabilitação em seu quarto.
Um de seus maiores desafios será se locomover sozinha nas ruas, ainda mais tendo que falar em outro idioma. Michele está treinando com seus fisioterapeutas para dar conta do recado.
“Hoje eu não consigo nem descer na minha calçada porque ela é íngreme, tem uma parte quebrada, e além disso tem um degrau no meu próprio prédio. Outro dia fui até o shopping com meus pais e foi uma aventura, quase caí varias vezes. Dá um certo medo porque vai ser tudo novo”, diz.
Mas ela acha que dividir sua experiência no blog vai ajudá-la nesse caminho. “Não estou tentando ser exemplo de nada, mas quero compartilhar uma coisa que para mim é um desafio”, diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário