Considerada uma aliada da saúde metabólica, intestinal e imunológica, a Akkermansia muciniphila
representa um novo capítulo no campo dos probióticos naturais. Presente
em até 5% da microbiota intestinal, a bactéria vem se destacando entre
os estudos vinculados ao emagrecimento.
“A Akkermansia muciniphila tem mostrado grande potencial clínico por sua capacidade de fortalecer a barreira intestinal e modular o metabolismo”, conta Paula Molari Abdo,
farmacêutica bioquímica pela USP, diretora técnica da Formularium e
membro da ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), da
SBRAFH (Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar).
Segundo
a especialista em Atenção Farmacêutica pela USP, ao reduzir a
permeabilidade do intestino, a bactéria evita a entrada de toxinas que
provocam inflamações silenciosas, associadas à obesidade, resistência à
insulina e doenças cardiovasculares.
Um estudo publicado na revista Nature Medicine associa a presença da bactéria a um metabolismo mais eficiente. Paula Molari Abdo explica que “estimular a Akkermansia muciniphila
pode ajudar no processo de emagrecimento de forma indireta, mas eficaz.
Ela fortalece a barreira intestinal, reduz inflamações que favorecem o
acúmulo de gordura e melhora a sensibilidade à insulina — o que facilita
o controle do apetite e da glicemia.”
Para aumentar os níveis dessa bactéria no seu intestino, a farmacêutica esclarece algumas dúvidas acerca da Akkermansia Muciniphila.
A Akkermansia muciniphila está presente em até 5% da microbiota intestinal. Quais são os principais benefícios desse probiótico natural?
Presente naturalmente em até 5% da microbiota intestinal, a Akkermansia muciniphila
vem ganhando destaque na ciência por sua capacidade de fortalecer a
barreira intestinal e modular o metabolismo. Ao reduzir a permeabilidade
do intestino, ela evita a entrada de toxinas que provocam inflamações
silenciosas, associadas à obesidade, resistência à insulina e doenças
cardiovasculares.
Estudos
recentes mostraram que sua suplementação melhora a sensibilidade à
insulina, reduz o colesterol e favorece a queima de gordura, com
potencial impacto no controle do peso e da glicemia. Mais do que um
probiótico comum, a Akkermansia representa uma nova geração de
bioterapêuticos — soluções personalizadas baseadas em microrganismos com
ação clínica comprovada.
Quais alimentos ajudam a manter/aumentar sua presença na flora intestinal?
Embora a Akkermansia muciniphila
possa ser suplementada, alguns alimentos e nutrientes ajudam a
estimular naturalmente seu crescimento no intestino. Ela se alimenta de
mucina, uma substância produzida pela própria parede intestinal, mas sua
população aumenta com o consumo de certos tipos de fibras e compostos
bioativos.
Entre
os alimentos mais benéficos estão os polifenóis presentes em frutas
vermelhas, como uva roxa, chá verde e cacau puro. Alimentos ricos em
fibras prebióticas, como aveia, linhaça, alho-poró, alcachofra, aspargos
e banana verde também favorecem sua proliferação.
Do ponto de vista da farmacologia, quais formas farmacêuticas podem ser manipuladas para aumentar a presença da Akkermansia muciniphila?
Hoje já é possível suplementar a própria Akkermansia muciniphila
liofilizada. Ela foi testada em humanos e mostrou bons resultados no
controle da insulina, do colesterol e da inflamação. Na farmácia de
manipulação, a forma mais comum são as cápsulas gastrorresistentes,
que protegem a substância até que ela atue no intestino. Também é
possível desenvolver sachês orais ou outras apresentações, desde que
garantam a estabilidade do ativo.
Além disso, é possível manipular fibras prebióticas e compostos como polifenóis, que estimulam naturalmente o crescimento da Akkermansia no intestino — uma estratégia útil para quem ainda não pode ou não deseja usar a bactéria diretamente.
Essa
combinação de suplementos representa um novo caminho dentro da chamada
bioterapia personalizada, voltada para restaurar o equilíbrio intestinal
e metabólico com mais precisão.
Quais são as principais indicações para a ministração dessas formas farmacêuticas?
A suplementação com Akkermansia muciniphila
ou com ativos que estimulam seu crescimento é indicada principalmente
para pessoas com síndrome metabólica, resistência à insulina, obesidade,
esteatose hepática, inflamações intestinais ou desequilíbrios da
microbiota. Também pode ser útil como apoio em planos de emagrecimento
saudável ou prevenção de doenças cardiometabólicas.
É verdade que a estimulação desse probiótico pode ajudar no emagrecimento? Como?
Sim. Estimular a Akkermansia muciniphila
pode ajudar no processo de emagrecimento de forma indireta, mas eficaz.
Ela fortalece a barreira intestinal, reduz inflamações que favorecem o
acúmulo de gordura e melhora a sensibilidade à insulina — o que facilita
o controle do apetite e da glicemia. Além disso, estimula a liberação
de hormônios como o GLP-1, ligados à saciedade, e aumenta a queima de
gordura (termogênese). Ou seja, contribui para um metabolismo mais
eficiente e menos propenso ao ganho de peso.
Um estudo publicado na Nature Medicine traz alguns dados que confirmam os benefícios da Akkermansia muciniphila para o emagrecimento. Pode comentar esses dados?
Esse
estudo clínico avaliou pessoas com sobrepeso e alterações no
metabolismo, como dificuldade para emagrecer e controlar a glicose.
Durante 3 meses, elas tomaram Akkermansia muciniphila todos os dias.
Os
resultados foram animadores: o corpo passou a responder melhor à
insulina (o hormônio que controla o açúcar no sangue) e os níveis de
insulina em jejum caíram em mais de 30%. Isso significa menos tendência a
acumular gordura e mais facilidade para usar energia de forma
eficiente.
Além
disso, os pesquisadores observaram uma tendência de redução no peso, na
gordura corporal e na medida do quadril. Mesmo que a perda de peso em
si não tenha sido expressiva, o ambiente metabólico ficou mais favorável
ao emagrecimento — com menos inflamação, melhor saciedade e controle do
apetite.
Ou seja, a Akkermansia
pode sim ser uma aliada real para quem busca emagrecer com saúde,
especialmente quando combinada com alimentação equilibrada e mudanças no
estilo de vida.
E sob o ponto de vista da saúde mental? Quais são os benefícios desse probiótico?
Ainda não há estudos específicos com Akkermansia muciniphila
voltados diretamente à saúde mental, mas os cientistas já observam
possíveis conexões. Como ela fortalece a barreira intestinal e reduz a
inflamação sistêmica, há uma expectativa de que possa também influenciar
positivamente o chamado eixo intestino-cérebro — a comunicação entre o
intestino e o sistema nervoso.
Sabemos
que o equilíbrio da microbiota tem impacto no humor, no sono e até na
ansiedade. Embora as pesquisas atuais estejam concentradas nos efeitos
metabólicos, o papel da Akkermansia no eixo intestino-cérebro já desperta interesse e novas evidências devem surgir com o avanço dos estudos.
Quando uma pessoa pode/deve buscar suplementação para melhorar a presença desse probiótico?
A suplementação com Akkermansia muciniphila
pode ser indicada quando há sinais de desequilíbrio metabólico, como
resistência à insulina, gordura no fígado, colesterol elevado,
sobrepeso, inflamações intestinais ou histórico de doenças relacionadas à
microbiota. Pessoas que não respondem bem apenas à mudança alimentar
também podem se beneficiar.
Além
disso, quem faz dietas muito restritivas ou usa medicamentos que afetam
a flora intestinal pode apresentar queda natural dessa bactéria. Nesses
casos, a suplementação — sempre com acompanhamento profissional — pode
ajudar a restaurar o equilíbrio e favorecer um metabolismo mais
saudável.
Hoje
já existem testes genéticos da microbiota intestinal que analisam a
presença e o equilíbrio de diversas bactérias, incluindo a Akkermansia. Esses exames podem identificar desequilíbrios específicos e orientar uma suplementação mais personalizada, especialmente útil em quadros crônicos ou de difícil resposta clínica.
Sobre Paula Molari Abdo
Paula Molari Abdo
é farmacêutica bioquímica pela USP, diretora técnica da Formularium,
especialista em Atenção Farmacêutica pela USP, membro da ANFARMAG
(Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), da SBRAFH (Sociedade
Brasileira de Farmácia Hospitalar), da ABC (Associação Brasileira de
Cosmetologia) e da APhA (American Pharmacists Association).
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