Na Europa, os ditadores que começam guerras de ocupação suicidam-se politicamente. Putin não será uma exceção. Será uma questão de tempo e de muita destruição e sofrimento. João Marques de Almeida para o Observador:
Todos
os ditadores acabam por tomar decisões fatais para o seu futuro, quase
sempre prejudicando gravemente o seu país, e muitas vezes causando danos
e sofrimento a países vizinhos. Foi o que fez Putin no final de
Fevereiro.
Sem
qualquer razão, atacou a Ucrânia e iniciou uma guerra sem fim à vista.
Passados seis meses, já se percebeu que a Rússia não será capaz de
vencer a guerra, a não ser que use armas nucleares destruindo a Ucrânia.
As
ofensivas bem-sucedidas das tropas ucranianas mostraram dois problemas
sérios com as forças armadas russas. Em primeiro lugar, os seus soldados
estão desmotivados e com a moral em baixo. A maioria dos soldados
russos não partilha a visão imperial de Putin. Para eles, a Ucrânia é um
país independente. A maioria desses soldados, com menos de 30 anos,
nunca viu a Ucrânia integrada na Rússia. Sabem que estão envolvidos numa
guerra de conquista e que enfrentam tropas a defender o seu país, as
suas casas e as suas famílias. Por isso, fogem quando os combates se
tornam difíceis. Os combates serão ainda mais duros no Inverno, e a
guerra será um pesadelo ainda maior para as tropas invasoras.
Além
da desmotivação das tropas, o equipamento militar russo enfrenta
problemas graves. As sanções europeias afectam a capacidade tecnológica
russa e tornam muito difícil a substituição do material militar. Os
russos recorrem cada vez mais às armas das décadas de 1980 e de 1990.
Quando querem equipamento militar novo, têm que o comprar à Coreia do
Norte e ao Irão.
Os
mais optimistas começaram a falar de dois cenários possíveis. Uns
acreditam na possibilidade da Ucrânia vencer a guerra. Apesar dos
sucessos recentes, os ucranianos não têm a capacidade militar suficiente
para reconquistar o território ocupado pelas tropas russas. Só
aconteceria se ocorresse o descalabro no exército russo, o que é
improvável.
Outros
acreditam que o recuo militar dos russos pode forçar Putin a negociar
um acordo de paz. Foi isso que na terça feira o Chanceler alemão,
Scholz, pediu ao Presidente russo numa chamada telefónica de 90 minutos.
Obviamente, Putin recusou. E continuará a recusar negociações com
Zelensky. Um acordo com Kiev significará uma derrota política para
Putin. E a Ucrânia não aceitará o fim da guerra sem a retirada total das
tropas russas, o que Putin recusará.
Putin
meteu-se numa guerra sem fim. Ou melhor, a guerra só acabará quando
Putin chegar ao fim. Na Europa, os ditadores que começam guerras de
ocupação suicidam-se politicamente. Putin não será uma excepção. Será
uma questão de tempo e de muita destruição e sofrimento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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