Brasília, 29/09/2022 —
O escândalo de assédios sexual e moral na Caixa Econômica Federal
completou três meses, desde a revelação das primeiras denúncias, e a
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) ainda
aguarda retorno a ofício encaminhado à presidente do banco público,
Daniella Marques. No documento, a Fenae cobra informações sobre
resultados concretos das investigações, pela Caixa.
Conforme
observa a Federação, passados 90 dias do início das revelações [em 28
de junho] — que levaram à queda do então presidente da instituição,
Pedro Guimarães — banco e governo abriram apenas processos disciplinares
internos. Até agora, contudo, nada sofreram nem Guimarães nem outros
altos executivos acusados de assédio pelas dezenas de vítimas.
“Desde
28 de junho de 2022, as empregadas e os empregados da Caixa Econômica
Federal vivem sob um grande sentimento de apreensão e angústia”, destaca
o ofício, assinado pelo presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “(...) a
investigação iniciada não pode cair no esquecimento”, emenda o
documento, também endereçado ao presidente do Conselho de Administração
(CA) da estatal, Rogerio Rodrigues Bimbi.
Sergio
Takemoto destaca que, no Brasil, o assédio sexual é crime, definido no
artigo 216-A do Código Penal, com pena de um a dois anos de detenção.
“Se apurada e comprovada a culpa, não se pode ‘passar a mão na cabeça’
somente porque trata-se de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve
responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que assédio sexual é
um crime com pena prevista no Código Penal. Além disso, a legislação
trabalhista também prevê indenização para reparação do dano causado às
vítimas”, completa.
USO
POLÍTICO DA CAIXA — Neste período de espera por uma resposta do banco
sobre as denúncias de assédio, novas situações de uso político da
estatal aconteceram, em pleno período de campanha eleitoral. No último
dia 12, a diretoria da Caixa convocou coletiva de imprensa para
divulgação de números do programa ‘Caixa Pra Elas’. Para o empregado da
Caixa e dirigente sindical Rafael de Castro, da Confederação Nacional
dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), houve uso do
programa para fazer campanha eleitoral ao presidente Jair Bolsonaro.
O
dirigente observa que, naquela ocasião, o banco anunciou um incremento
de 65% na venda de cartões [para o público feminino]. Segundo o diretor,
desde o início de agosto até meados deste mês, foram realizados
aproximadamente 60 mil atendimentos relacionados a produtos que fazem
parte da cesta do ‘Caixa Pra Elas’.
“O
que dá, em média, 15 atendimentos por agência do banco: menos do que um
atendimento por dia”, esclarece. “Os números tendem a aumentar, uma vez
que os empregados estão sendo cobrados a atingir metas”, afirma Castro.
MAIS UM CASO — Rafael
de Castro também chama a atenção para notícia envolvendo outros aliados
do atual presidente. É o caso do vice-líder do governo na Câmara,
deputado Ubiratan Sanderson (PL). Embora uma empregada da Caixa tenha
procurado o parlamentar, ainda em 2020, detalhando situações em que
Pedro Guimarães a teria assediado, o vice-líder [que é policial federal
de carreira] não deu prosseguimento ao caso porque, segundo ele,
aguardava a vítima “retornar com provas”.
“O
deputado se omitiu diante do depoimento da vítima. Preferiu
desconsiderar a denúncia e exigir provas de um caso que, como sabemos, é
feito de maneira a não deixar vestígios”, critica o dirigente.
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