Lula intensifica sua retórica de enquadramento dos cristãos (católicos e evangélicos), deixando muito claro que, num eventual terceiro mandato, só serão tidos por legítimos os cristãos que se comportarem de acordo com a etiqueta política do lulopetismo. Flavio Gordon para a Gazeta do Povo:
“O
comunismo é de fato materialista e anticristão; embora declarem às
vezes em palavras que não atacam a religião, os comunistas demonstram de
fato, quer pela doutrina, quer pelas ações, que são hostis a Deus, à
verdadeira religião e à Igreja de Cristo.” (Papa Pio XII, Decreto contra
o Comunismo, 1.º de julho de 1949)
“Foi
perguntado à Suprema Sagrada Congregação se é permitido aos cidadãos
católicos, ao elegerem os representantes do povo, darem o seu voto a
partidos ou a candidatos que, mesmo se não proclamam princípios
contrários à doutrina católica e até reivindicam o nome de cristãos,
apesar disto se unem de fato aos comunistas e os apoiam por sua ação. Os
Eminentíssimos e Reverendíssimos Padres, responsáveis pela proteção da
fé e da moral, responderam decretando: Não, segundo a diretiva do
decreto do Santo Ofício de 1.º de julho de 1949.” (Papa João XXIII,
Dubium, 25 de março de 1959)
É preciso jamais esquecer aquela cena marcante ocorrida em 2 de março de 1983, e registrada em vídeo,
quando o papa João Paulo II, de dedo em riste, admoestou severamente o
padre Ernesto Cardenal. O local do passa-moleque papal foi o aeroporto
de Manágua, capital da Nicarágua. Cardenal, militante da Teologia da
Libertação, ocupava então o cargo de ministro da Cultura do regime
sandinista. A junta governamental que fora receber o pontífice contava
também com a presença de Daniel Ortega, atual ditador da Nicarágua.
No
pequeno país caribenho, João Paulo II oficiou uma missa. Durante a
homilia, bandos de sandinistas gritaram palavras de ordem em favor da
revolução comunista, incluindo a afirmação de que “entre o cristianismo e
a revolução não há contradição”. Enfurecido com a algazarra política, a
toda hora o papa pedia silêncio. Um trecho da homilia
serviu de recado direto: “De fato, uma Igreja dividida, como já dizia
na minha carta aos vossos bispos, não poderá cumprir a sua missão (...)
Por isso, eu alertava sobre ‘o absurdo e perigoso que é imaginar-se como
ao lado da – para não dizer contra a – Igreja construída ao redor do
bispo, outra Igreja concebida só como ‘carismática’ e não institucional,
‘nova’ e não tradicional, alternativa e, como se preconiza ultimamente,
uma ‘Igreja popular’. Quero hoje reafirmar estas palavras, aqui diante
de vós. A Igreja deve manter-se unida para poder opor-se às diversas
formas, diretas ou indiretas, de materialismo que a sua missão encontra
no mundo”. A certa altura, o Santo Padre improvisou: “Cuidado com os
falsos profetas. Eles se apresentam em pele de cordeiro, mas por dentro
são lobos ferozes”. Tão logo os sandinistas terminaram de entoar o seu
hino revolucionário, João Paulo II foi levado de volta ao aeroporto.
Quase
40 anos depois do evento, materializa-se na Nicarágua o temor do papa:
uma Igreja dividida, enfraquecida e cismática. A parte infiltrada pela heresia da Teologia da Libertação
imiscuiu-se definitivamente na ditadura socialista, servindo-lhe de
chanceladora “espiritual”. Já a parte que, resistindo ao aparelhamento,
permaneceu fiel ao magistério da Igreja sofre hoje uma perseguição cada
vez mais implacável nas mãos de Ortega e correligionários. E isso
deveria, sim, servir de alerta ao Brasil, sobretudo quando o candidato
Luiz Inácio Lula da Silva – velho aliado do ditador nicaraguense, e ademais simpatizante declarado das estratégias revolucionárias chilena e boliviana
(que incluíram ondas de ataques a igrejas) – intensifica sua retórica
de enquadramento dos cristãos (católicos e evangélicos), deixando muito
claro que, num eventual terceiro mandato, só serão tidos por legítimos
os cristãos que se comportarem de acordo com a etiqueta política do
lulopetismo. Num contexto em que, partidário de Lula e autoproclamado
“iluminista” (talvez simpático, portanto, à proposta voltaireana de
“Écrasez l’Infâme”), um
ministro do STF restitui o mandato de um vereador cassado por invadir
uma igreja e violar com slogans revolucionários um espaço de culto, esse discurso em prol de uma igreja “companheira” deveria preocupar todos os cristãos.
Buscando
desfazer essa preocupação, que vem sendo obviamente explorada pela
campanha de Jair Bolsonaro, Lula recorre àquilo que socialistas ateus
(como Marcelo Freixo e Manuela D’Ávila, por exemplo) costumam fazer em
período eleitoral: a famosa (e canastrona) pose de santinho do pau oco.
No caso do ex-presidiário, todo o intelectual coletivo formado pela
imprensa amestrada, artistas, marqueteiros e influenciadores petistas
corre para requentar velhas mentiras. A primeira é a de que Lula é
pessoalmente um homem de fé, um católico. A segunda é a de que o próprio
PT surgiu da Igreja Católica.
Quanto
à primeira mentira, convém lembrar um episódio envolvendo justamente o
personagem com que iniciamos o artigo, o papa João Paulo II. Lula era o
presidente da República do Brasil quando o Santo Padre polonês faleceu,
no dia 2 de abril de 2005. Na missa de funeral do memorável pontífice, o
petista comungou sem antes haver se confessado. Até aí, nada de
extraordinário. Muito embora seja um pecado mortal, segundo o Catecismo
da Igreja Católica (n. 1415), a comunhão sem confissão é, infelizmente,
prática comum entre católicos de todo o mundo. Ocorre que, não contente
em pecar, na época o petista autoproclamado católico resolveu exibir
orgulhosamente o próprio pecado, escarnecendo da doutrina. Questionado
sobre sua atitude, declarou cinicamente ser “um homem sem pecado”, algo que nem mesmo o mais desleixado dos católicos faria. Não surpreende que, tempos depois, o mesmo sujeito afirmasse haver sido mais açoitado do que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.
Já
em relação à segunda mentira, é preciso esclarecer que o PT
definitivamente não surgiu da Igreja Católica. Assim como na Nicarágua,
sua origem também está ligada à heresia da Teologia da Libertação, que,
segundo a definição de um dos seus expoentes brasileiros, o “frei”
Leonardo Boff, “não é teologia dentro do marxismo, mas marxismo dentro
da teologia”. Ocorre que o magistério da Igreja afirma a total
incompatibilidade entre o materialismo de origem marxista e a fé
católica, e, nesse sentido, os “padres” da Teologia da Libertação são
tão “católicos” quanto Marcelo Freixo, Manuela D’Ávila e Luiz Inácio
Lula da Silva. A bem da verdade, como explica o padre (esse sim autêntico, sem aspas) Paulo Ricardo, da
paróquia Cristo Rei (Cuiabá-MT), a adesão, a apologia ou o
favorecimento ao comunismo são, segundo vários decretos da Igreja,
motivo de excomunhão automática (latae sententiae).
Seguiremos
daí no artigo da próxima semana, em que responderei ao pertinente
questionamento que me foi feito nas redes sociais. O autor mostrou-se
cético em relação à minha sugestão de que, seguindo o exemplo do que
ocorre em vizinhos latino-americanos comandados por partidos
socialistas, o Brasil corre, sim, o risco de, num eventual novo governo
lulopetista, ver recrudescer a perseguição às igrejas cristãs.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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