MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Política atual lembra 1930, quando a imprensa também fez uma cobertura nojenta das eleições

 



Eleições de 1930

Na charge, Vargas derruba Júlio Prestes da Presidência

Bruna Frascolla
Gazeta do Povo

Nos últimos dias, a geopolítica interna do Brasil só me lembra 1930. Temos um líder aclamado pelas massas urbanas, como em 30. São Paulo está rachada, como em 30. Para dar um gás na eleição daquele que é benquisto pelas massas, aposta-se nas lideranças mineiras – que acabaram entregando menos votos do que o previsto.

A base do líder popular era um verdadeiro saco de gatos que incluía militares, liberais e adeptos da luta contra a corrupção. E para assegurar o poderio, o lado contrário recorre à Bahia, que entrega os votos prometidos. Mas isso não bastou: para deter o candidato das massas, o dono da caneta usou de todas as ferramentas possíveis para impedi-lo de fazer campanha.

NA ELEIÇÃO DE 1930 – Como em 1930, a imprensa carioca e parte da paulista, que estavam no conluio, fizeram uma cobertura nojenta das eleições e revoltaram os partidários do candidato popular. Ao final, Júlio Prestes e Lula venceram, respectivamente, as eleições mais apertadas da República Velha e da Nova República. Mas em 1930 o processo eleitoral, com o engajamento do eleitorado de Vargas e Bolsonaro, levou o país a convulsões.

Algumas diferenças saltam aos olhos, porém. A primeira delas é que o Exército de hoje não é o Exército de 30. Outra é que, na cisão de São Paulo, Vargas levou a capital e Bolsonaro levou o interior. (Quando se fala de Vargas, os paulistas têm à mente a fracassada Revolução de 32, contra ele. No entanto, os mesmos que repudiaram Vargas em 32 saudaram-no em 30, e até custearam a Revolução exitosa.)

Outra diferença, também gritante, é que Bolsonaro conseguiu ser um presidente anti-establishment, coisa absolutamente impossível na República Velha.  E o crescimento do Judiciário nas democracias transferiu para o Supremo a caneta.

BAHIA ONTEM E HOJE – Last, but not least, a Bahia da República Velha ainda não tinha entrado na mais franca decadência econômica. Tinha muita gente, porém era mais um estado agrário num país agrário. A Bahia de hoje é um estado agrário pobre e arcaico dentro de um país agrário tecnológico e moderno. É bancada pelo país, mas seus coronéis acharam que seria uma boa ideia decidir a eleição contra o setor produtivo.

O eixo econômico que salva a balança comercial do país se estende do Centro-Oeste rumo ao Sul, a São Paulo e ao oeste do Nordeste (a região de divisas estaduais conhecida como Matopiba).

Como mostrou esta Gazeta, Lula venceu em 8 das 20 maiores cidades do país. No topo está São Paulo, com seus 12 milhões de habitantes. Para efeito de comparação, a Bahia, que é o maior colégio eleitoral do Nordeste, está perto de 15 milhões de habitantes. Só a cidade de São Paulo já vale quase uma Bahia inteira, em termos de população.

DIZ O PRECONCEITO – Nessas horas, sempre aparece o paulista que diz que São Paulo é cheia de nordestinos. Quanto a isso: (1) Bolsonaro venceu em Maceió, mas nenhum gênio vai dizer que paulistas infestam a capital alagoana; (2) Haddad ganhou em São Paulo nos bairros das nobres e pobres; (3) Guarulhos, Rio de Janeiro e Brasília também são cheias de nordestinos, mas ainda assim Bolsonaro ganhou nessas cidades; (4) o Nordeste foi a única região em que o PT teve menos votos do que em 2018.

Precisamos então começar a admitir que existem diferenças regionais que não podem ser limitadas a “pobres querendo auxílio que votam no PT” x “setor produtivo que quer Estado eficiente”.

Creio que duas coisas tiveram peso inegável na queda do eleitorado de Bolsonaro no Sudeste: a inflação e a imprensa. Pessoas mais esclarecidas sabem que o governo foi ótimo na gestão da inflação porque têm em vista o cenário internacional.

“EMENDAS DE RELATOR” – No entanto, num país continental como o Brasil – e sobretudo numa região que não faz fronteira com outro país –, as pessoas tendem a comparar a situação atual à situação passada; não à situação dos vizinhos.

Quanto à imprensa, limito-me a apontar que um importante jornal do Sudeste passou a chamar o “orçamento secreto” de “emendas de relator”. Quando as redes sociais confrontaram o perfil do jornal no Twitter, ele mentiu que só as colunas de opinião usavam a expressão “orçamento secreto” e correu para editar as matérias informativas passadas. Quando é Bolsonaro, é “orçamento secreto”; quando é Lula, a mesma coisa virou “emendas de relator”.

No mais, Bolsonaro era genocida por causa da Covid e ia acabar com as girafas da Amazônia. Se a imprensa quisesse, poderia ter mostrado Lula agradecendo à natureza pela criação do coronavírus.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

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