O êxito ou o fracasso de seu governo dependerá em boa medida da capacidade de superar essas barreiras. William Waack:
Lula
ainda não assumiu, mas já é possível constatar o quanto está
emparedado. O êxito ou o fracasso de seu governo dependerá em boa medida
da capacidade de superar essas barreiras.
O
vai e vem em torno da fórmula para financiar o Bolsa Família pagando R$
600 por mês demonstrou como é estreita a margem de ação legal, embora
exista uma quase unanimidade política pela manutenção do benefício
social nessas dimensões. Demonstrou também como é estreita a margem de
atuação fiscal.
Esse
é um problema gritantemente óbvio e uma das principais heranças não só
de Bolsonaro. Até aqui Lula vem tentando escapar dessa parede – a
necessidade de uma âncora fiscal, ou seja, de um limitador de gastos –,
criando uma falsa dicotomia entre “responsabilidade fiscal” e
“responsabilidade social”, quando são a mesma coisa.
Agentes
econômicos que se preocupam com juros e inflação não compram essa frase
de palanque. Nem concedem ao presidente eleito o benefício da dúvida
quando constatam que os nomes que integram a equipe de transição são
água e óleo em termos de doutrinas econômicas.
Particularmente
nas questões que envolvem princípios ou “escolas de pensamento”
(economia e política externa, por exemplo) Lula, por enquanto, está
emparedado pela velha-guarda do partido. Ela já funciona como freio no
protagonismo de Geraldo Alckmin e o teste da solidez dessa parede virá o
mais tardar quando o presidente eleito nomear as prioridades.
Lula
enfrenta outra questão de emparedamento – a dos poderes ampliados do
Legislativo – que não é meramente circunstancial e que pudesse ser
eliminada via compromissos políticos acrescentando siglas partidárias à
“base”. O Brasil vive de fato uma situação de semipresidencialismo com
dois primeiros-ministros, da qual o orçamento secreto é apenas sua
expressão mais visível.
A
pior situação de emparedamento, contudo, é a profunda divisão política
do País. O novo governo provavelmente terá poucas dificuldades em lidar
com os protestos bolsonaristas, que persistem, mas têm limitado alcance,
e de apelo golpista sem perspectivas de êxito. Bolsonaro se mostrou
incompetente na articulação de uma “virada” institucional (eufemismo
para golpe) e seu receio de ser preso tem fundamento.
O
verdadeiro emparedamento é o mais difícil de todos. Surge da enorme
desconfiança em relação ao PT (um pouco menos em relação a Lula) nutrida
por vastos setores sociais (incluindo religiosos), políticos e
econômicos, com destaque para segmentos como a agroindústria. É grave
erro político igualar essa oposição ao alarido da extrema direita
bolsonarista.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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