Lançado
pela Editora Urutau, livro “Sândalo vermelho e os gatunos olhos dela”
trata de paisagens e tempos ancestrais, a partir de diários de viagens
pelo Leste Europeu e memórias da protagonista. Sessão de autógrafos acontece dia 22 de novembro, em São Paulo e contará com bate-papo com a escritora Gabriela Aguerre.
“Camilla Loreta nos leva pela mão por um tempo ancestral,
consciência alterada do corpo, linguagem lírica dos sinais.
É preciso saber ler, junto com os personagens, o que a vida desponta.
E chegando ao final, saímos com a certeza de que a travessia
é ao mesmo tempo individual e coletiva,
e se repete no tempo e no espaço”.
Carola Saavedra, escritora, na orelha da obra.
Por
meio de uma linguagem que passeia entre os diários de viagem, o onírico
e as conexões entre passado e presente, o romance “Sândalo vermelho e
os gatunos olhos dela” (Editora Urutau, 216 p.), de Camilla Loreta,
explora questões de ancestralidade e de linhagem materna. A autora, que
já havia feito incursões na poesia, estreia como romancista com uma
prosa ágil, ambientada na Polônia contemporânea.
Na
obra, acompanhamos a travessia e o inconsciente da protagonista Léia
Stachewski, filha de pai polonês e mãe brasileira, que nasceu e passou a
infância no Rio de Janeiro. Após misteriosos acontecimentos vividos
pela família, ela retorna à Polônia. No decorrer da narrativa, a
personagem decide iniciar uma viagem de carro sozinha pelo Leste
Europeu, rumo à Finlândia. Perdida em um território gelado, ela relembra
momentos de sua formação no Brasil, origens familiares e motivações.
O
romance começou a ser desenhado em 2016, quando Loreta foi convidada
para uma residência artística na Polônia, em uma pequena cidade chamada
Marianowo. “Quando recebi o convite foi uma surpresa, pois parte da
minha família paterna vem dessa localidade. Ao chegar lá, me deparei com
temas que me tocaram profundamente”, conta. O enredo também se baseia
na vida de duas mulheres: uma cigana polonesa, Papusza, que foi a mulher
de seu povo a escrever, mesmo que isso fosse de encontro aos costumes
tradicionais do povo romani; e Sydonia Von Bork, a última princesa da
Pomerânia, acusada de bruxaria e queimada na Inquisição após 15 anos de
julgamento.
Ambas
se manifestam, para a protagonista, como parte de sua essência e cujas
trajetórias despertam fascinação e interesse desde a graduação. Ao
iniciar a viagem que norteia a história, Léia descobre que as duas
também permeiam as anotações de James, um astronauta americano que
realiza pesquisas para a Nasa, durante um período de trabalho na
Polônia. Foi durante a residência artística que Loreta conheceu a
história das duas, de forma inusitada. “A casa onde me instalei era um
antigo monastério – e havia sido a última morada de Sydonia. Ali também
tomei conhecimento sobre a existência de Papusza e me interessei
instantaneamente por suas vidas. Comecei a pesquisar sobre ambas e foi
isso que me levou a iniciar a escrita”, lembra.
Após
uma oficina literária com a escritora Carola Saavedra, que assina a
orelha da obra, o enredo se transformou do que seria uma ficção
científica sobre o pós-morte da princesa da Pomerânia, para o romance
que acompanha a travessia de Léia Stachewski. De acordo com Saavedra, o
livro transita entre diferentes realidades: o corpo e o espírito,
passado e presente, matéria e reflexo. “A protagonista, Léia, tem um
Pai. Senta com ele à mesa da cozinha, come pão feito em casa e se
pergunta se ele sente falta da mulher, ausente, como se tentasse
resgatar nesse Pai alguma lembrança intransponível”, afirma.
Romance-travessia construído por meio de estilo poético e fragmentário
Os
sonhos têm espaço fundamental na obra. São eles que “modelam os dias,
não o revés”, como afirma um trecho, mas também atravessam o estilo
literário da autora, que se apresenta como poético, fragmentário e
inspirado no inconsciente. Ao trabalhar com a ancestralidade e histórias
de mulheres, Loreta constrói com originalidade imagens bastante
contundentes, a exemplo da frase escolhida para iniciar a obra:
“Acontece de uma pequena cobra se alinhar na coluna vertebral daqueles
que aceitam”.
A
autora ressalta que os principais temas do livro surgiram durante sua
pesquisa e passam pela sua própria memória ancestral. “Eu queria honrar
Sydonia, já que na Polônia até hoje ela é tratada como uma assombração.
Durante a escrita, questões históricas e sociais desta região ficam
aparentes, como o nazismo, a pobreza e as perdas de território. Tudo
isso também está intrinsecamente ligado a minha história familiar”,
pontua.
Outro
destaque do livro são as questões do idioma e como ele atravessa as
relações entre as personagens, como quando a protagonista precisa se
comunicar em português. “Falar em português era uma coisa muito
estranha, no meu dia a dia costumava conversar com meu Pai (...). Eram
cantos empoeirados, em que eu batia com força para invadir a dobra do
tempo e isso me fazia gaguejar, esquecer acentos, confundir
significados”, diz um dos trechos.
Para
Loreta, outro ponto que moveu a escrita do livro foi a ideia de que o
Brasil não tem passado matriarcal, pois este teria sido eliminado
durante a colonização. “Por isso a escolha deliberada pelo
desaparecimento da mãe da protagonista”, assinala a autora. A voz
narrativa se alterna entre primeira e terceira pessoa. Em alguns
momentos, a perspectiva é de Léia, em outros, acompanhamos a visão de
outros narradores, o que contribui para o estilo fragmentário da obra e
aos constantes incômodos da protagonista, que, apesar de ser avessa a
mudanças, desloca-se por diferentes cenários e países durante o enredo.
Referências literárias que vão de Duras a Murakami
Loreta
que considera que até “Sândalo vermelho e os gatunos olhos dela” a
poesia era sua principal fonte de trabalho. “Cheguei a publicar três
contos em antologias durante a pandemia, mas passei a escrever prosa
mesmo com este livro”, aponta. Entre as referências principais para a
construção da obra, estão os livros “Kafka à beira mar”, de
Haruki Murakami, e “O amante”, de Marguerite Duras. Mas a escritora, que
também é professora e diretora de obras audiovisuais, elenca outros
autores de referência, como Virginia Woolf, Matsuo Bashô, Ana Maria
Gonçalves, Gita Metha, Sophia de Mello Breyner Andresen, Emily Dickinson
e Ian McEwan.
O
processo de escrita durou ao todo quatro anos, entre 2016 e 2019, com
alguns hiatos. Em 2018, Loreta dedicou-se a um processo planejado e
rigoroso, com pelo menos duas horas diárias de escrita, por cerca de
cinco meses. “Fiz uma linha do tempo, determinei os personagens e
escrevi. Mas, durante o processo, as coisas mudaram, muitos personagens
sumiram, assim como alguns capítulos. A única ideia que se manteve do
início ao fim e se tornou central foi a de ser uma história on the road, pois eu queria colocar a personagem em movimento”, detalha.
A
publicação pela Urutau foi motivada pelo histórico da editora de
publicar livros de poesia. “Além de já admirar o trabalho deles,
considerei que esta é uma editora que tem proximidade com o estilo do
meu livro”, conta Loreta. Após o envio do original e aceite, o processo
de edição durou dois meses. Hoje a autora se dedica à escrita de um novo
romance, produzido como Trabalho de Conclusão de Curso na pós-graduação
em ficção literária. “Chamo esse projeto de comédia erótica. Será sobre
Sofia Bruner, uma roteirista que navega sobre sua vida amorosa e todas
as implicações que isso carrega”, adianta.
Camilla
Loreta é formada em Audiovisual e História da Arte, em São
Paulo. Pesquisa a escrita o corpo e a imagem através das artes gráficas e
audiovisuais. Dirigiu dois curtas-metragens, “Clara” e “O Silêncio das
Pedras”. Participou de diversas residências artísticas, entre elas: The Artist meeting,
em Marianowo (Polônia), onde iniciou a escrita do livro “Sândalo
vermelho e os gatunos olhos dela”, em 2016. Atualmente cursa a
pós-graduação do Instituto Vera Cruz para escritores de ficção.
Confira dois trechos do livro:
“É
estranho pensar que a estrada parecia não existir concretamente, ao
mesmo tempo em que era a única coisa concreta naquele momento. Mas eu
não conseguia enxergar nada, processar as paisagens, as fronteiras, o
céu. Ele estava azul? As nuvens caminhavam ou estavam estáticas? Talvez
me sentisse constantemente no ovo que eu mesma tinha construído há
tanto tempo para mim, e estar longe de casa indicava que era esse o
momento em que o abrigo se fazia mais necessário, e isso me levou a uma
espécie de transe”. (p. 36)
“
Um
guardião abre caminhos do afeto e quem atravessa a estrada olha além de
si. Assim corriam os animais, onças pintadas, cobras corais, abelhas
jataí, que ao passar deixam seus cheiros e rastros. Quem há de observar
tais marcas e, com os rumores desse mundo, contar histórias capazes de
derreter muros gelados que separam os seres?” (p. 63)
C
ompre no site da Editora Urutau:
https://editoraurutau.com/titulo/sandalo-vermelho-e-os-gatunos-olhos-dela
SERVIÇO
Lançamento do livro “Sândalo vermelho e os gatunos olhos dela” (Editora Urutau), de Camilla Loreta
Quando: 22 de novembro
Onde: Livraria Martins Fontes
Endereço: R. Dr. Vila Nova, 309 - Vila Buarque, São Paulo
Horário: 19h
Sessão de autógrafos e bate-papo com Gabriela Aguerre - Evento gratuito
com.tato - curadoria de comunicação
Assessoria de imprensa da escritora Camilla Loreta
Jornalistas responsáveis: Karoline Lopes e Marcela Güther
Contato para atendimento: marcela@comtato.co ou (47) 9.9712-5394 (Whatsapp)
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