O encerramento do terceiro dia da Bienal do Livro Bahia contou com a apresentação da filósofa e escritora Djamila Ribeiro. Autora de obras como Lugar de Fala, Quem tem medo do Feminismo Negro?, Pequeno manual antirracista e Cartas para minha avó, Djamila touxe para o Café Literário a palestra Avós, Filhas e Netas, onde falou sobre a sua relação com a literatura, as influências no seu caminho de escritora e, mais do que isso, sua formação enquanto leitora.
A mesa foi mediada pela jornalista Denny Finergut e lotou o Café Literário, um dos espaços da Bienal do Livro Bahia. A plateia contou com espectadores ilustres e que já se apresentaram na Bienal de Livros Bahia, como os escritores Itamar Vieira Junior e Ailton Krenak.
Djamila fez questão de destacar que a sua condição de escritora está diretamente ligada ao fato de ter crescido em uma casa onde a leitura era incentivada, sobretudo pelo pai. “Meu pai presenteava a gente com livros e nos apresentou outras possibilidades. Eu tive esse privilégio”, revelou.
A vida da autora, por sua vez, ganhou um novo significado quando ela foi trabalhar na ONG Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, cidade onde nasceu, e teve acesso às obras de diversas escritoras negras. "Descobrir a literatura de mulheres negras me salvou", disse.
Com o seu trabalho, além de vender os próprios livros e divulgar as próprias ideias, Djamila tem ajudado a resgatar diversas autoras negras que não tiveram o devido reconhecimento em suas épocas ou foram esquecidas pelo tempo. A exemplo da obra O olho mais azul, de Toni Morrison, cujo prefácio da sua edição mais recente publicada no Brasil é assinado por Djamila.
No bate-papo, ela trouxe também a importância daquelas mulheres que a originaram e são seus maiores exemplos de força e luta contra o racismo, no caso a sua mãe e a sua avó, a quem dedica o livro Cartas para a minha avó. “Meu pai me ensinou a estudar, mas foi minha mãe que me ensinou a andar de espinha ereta”, disse.
Outro ponto levantado no encontro foi a necessidade de se romper o estigma de que a mulher negra deve ser forte a todo momento e, por isso, não terem o direito de chorar ou expressar qualquer tipo de dor. “Quero me dar o direito de ser humana”, concluiu.
Raphael Montes e Tainá Müller, escritor e atriz da série “Bom dia, Verônica”, falam sobre a construção da história que é sucesso na Netflix
“É errado achar que o problema da violência contra a mulher é uma questão que as mulheres têm que resolver. É um problema do machismo, uma questão de toda a sociedade”. A declaração é do escritor Raphael Montes durante a conversa sobre o processo de construção do seu romance/série “Bom dia, Verônica”, que lotou a Arena Jovem neste sábado, na Bienal do Livro Bahia. A atriz Tainá Müller, que interpreta a protagonista da série, diz que essa é uma realidade de diferentes culturas, onde o patriarcado continua matando. “Todas as mulheres têm em comum a dor de ser mulher em um mundo que não foi feito para nós”, constata.
Raphael conta que ao adaptar o livro para a série com Illana Casoy, a proposta era levar apenas a essência. Ele acredita que as experiências devem ser complementares e garante que a Verônica do livro é diferente da Verônica da série. Tainá inclusive acredita que a personagem do livro desperta em alguns momentos a raiva dos leitores, ao contrário da Verônica da série. Para dar vida à personagem, a atriz diz que precisou aprender a lutar e até a atirar. E conta que está lendo o livro novamente por conta do audiobook que está sendo preparado.
A série foi lançada na pandemia e está entre as 10 mais vistas na plataforma de streaming onde é exibida. Segundo Raphael, a série brasileira é a 21ª mais vista no mundo. Tainá diz que é emocionante ver o engajamento do público. A atriz admite que faz terapia e tenta se resguardar um pouco por conta da carga de energia negativa dos problemas abordados (feminicídio, estupro, tráfico de menores) que, infelizmente, fazem parte da realidade de milhares de mulheres.
Via Press
Assessoria de Comunicação da Bienal do Livro Bahia 2022
Elaine Hazin, Gabriel Monteiro, Ana Geisa Lima, Josie Novaes,Cristina Apulto e Saulo Miguez
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