MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Apesar de derrota de Bolsonaro, a direita está ganhando força no país, mas é heterogênea

 



Pin em Esquerda e direita

Charge reproduzida do Arquivo Google

Rafael Galdo
O Globo

A vitória da frente ampla formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para derrotar Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial desacelera, mas não estanca a guinada do país à direita. Esse movimento já se mostrava nos temas que mobilizaram o eleitorado na campanha e se materializou na composição do Congresso que saiu das urnas em 2 de outubro.

Os 58 milhões de votos, quase metade do total, obtidos por Bolsonaro nas urnas reforçaram esse cenário, que tende a empurrar Lula mais ao centro, dizem analistas. Sustentar as pautas defendidas na campanha exigirá do novo presidente maior disposição para a negociação com o Legislativo e o diálogo com a sociedade.

MAIORIA NO CONGRESSO – Em Brasília, a esquerda terá como antagonistas os partidos que vão ocupar 63% das cadeiras da Câmara dos Deputados. Trata-se de uma predominância nunca vista no período de redemocratização, capaz inclusive de formar maioria para aprovar emendas constitucionais.

No Senado, que ofereceu maior resistência aos projetos do bolsonarismo, nomes como o da ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) e do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR) chegam para reequilibrar as forças. O PL de Bolsonaro terá a maior bancada — 14 senadores—, tomando o posto que há 25 anos era do MDB.

Pesquisador do Centro de Estudos Legislativos (CEL), o cientista político Carlos Ranulfo ressalva que a direita que se tonifica agora é heterogênea, vai dos campos moderados aos mais extremos. Ele elaborou uma metodologia que aponta maioria absoluta de deputados dessas correntes na Câmara, classificando as legendas como esquerda, centro ou direita com base em estudos do CEL e em artigos acadêmicos.

BOLSONARISMO – O pesquisador avaliou a correlação de forças na Casa desde 1982, ponderando mudanças em siglas como o PTB, que virou à direita em 2014. Ele avalia que, se a esquerda elegeu este ano sua menor bancada desde 2002, foi o centro, onde situa siglas como MDB e PSDB, que teve seu pior desempenho em décadas.

Na direita, Ranulfo destaca a consolidação e o avanço do bolsonarismo, que se pulveriza entre várias siglas e não representa a totalidade nem do PL do atual presidente.

— O bolsonarismo não é um partido, mas um movimento descentralizado, coordenado pelas redes. Faz parte de um projeto de extrema direita mundial, articulado, que transforma tudo numa guerra ideológica. A direita tradicional brasileira é muito mais pragmática, e não se move tão ideologicamente — diferencia Ranulfo.

BASE ALIADA – Para o cientista político, além de seus aliados, é também com esses setores que Lula precisará abrir interlocução. Ele diz serem significativos sinais de partidos como o União Brasil e o PSD, que nacionalmente liberaram seus integrantes a escolherem a quem apoiar. “A direita fora da bolha bolsonarista tem receio do crescimento excessivo do bolsonarismo raiz” — diz.

Mas não é só no Congresso que os campos políticos revelam novas configurações. Ainda no Legislativo, desde 2018 a direita se sobressai em assembleias estaduais, como a de São Paulo (Alesp) e a do Rio (Alerj), onde o centro ficou relegado à minoria.

O mapa dos governadores eleitos também tende mais à direita a cada pleito. Com os resultados deste segundo turno, ano que vem serão 14 com essa orientação, sete ligados à esquerda, e seis de centro.

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