Voluntarismo de Bolsonaro e Guedes – segue-se a lei fiscal só quando interessa – é o mesmo de Lula, Dilma e Mantega. Com essa turma, a crise econômica nunca é acidental. Editorial do Estadão:
Os
apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva não gostam que o seu líder seja
comparado ao presidente Jair Bolsonaro. Lula seria inteiramente
diferente de Bolsonaro, o que invalidaria eventual cotejo entre as
respectivas propostas e práticas políticas. Esse discurso pode até soar
atraente para a militância petista, tão afeita a atribuir imaculada
superioridade moral e cívica ao ex-presidente Lula. Mas os fatos, no
entanto, insistem em aproximar o ex-sindicalista do ex-capitão – os
fatos e, deve-se reconhecer, o próprio Lula.
Não
é apenas o fato de que o exercício da Presidência da República tenha
trazido, tanto a Lula como a Bolsonaro, sérias questões penais. Os dois
teimam em ser igualmente desleixados no cuidado das contas públicas
quando o assunto tem impacto eleitoral. Quando lhes interessa,
esquecem-se de que existe legislação protegendo a responsabilidade
fiscal e, principalmente, fazem vista grossa para os efeitos perniciosos
do desequilíbrio das contas públicas sobre o desenvolvimento social e
econômico do País.
No
momento em que o País tem de lidar com a irresponsabilidade populista
de Jair Bolsonaro, era de esperar que a oposição pudesse funcionar como
contraponto, impedindo o governo de transformar um programa social de
transferência de renda em ferramenta eleitoral. No entanto, apesar de os
petistas negarem veementemente, Lula, neste caso, está longe de ser
oposição a Bolsonaro. O líder petista é igualmente irresponsável.
Um
dia depois de o governo federal ter anunciado que o novo Bolsa Família –
o Auxílio Brasil – terá um valor médio de R$ 400, sem ter indicado como
financiará, dentro das regras fiscais, o aumento, Lula apoiou a tática
bolsonarista, sinalizando que faria o mesmo, e até mais. “Estou vendo
agora Bolsonaro dizer que vai dar um auxílio emergencial de R$ 400 que
vai durar até o final do ano que vem. E tem muita gente dizendo ‘não, a
gente não pode aceitar porque é um auxílio emergencial eleitoral’. Não,
eu não penso assim”, disse Lula em entrevista à rádio A Tarde, de
Salvador.
Para
Lula, não apenas deve haver aumento, como o auxílio teria de chegar a
um valor médio de R$ 600. O ex-presidente petista não explicou como o
Estado financiaria esse valor, tampouco se ele está em conformidade com a
legislação. Tal como Bolsonaro, a preocupação de Lula é anunciar
aumento do valor do benefício do programa social porque, segundo suas
palavras, “o povo merece”.
De
fato, o povo sofrido merece muitas coisas, a começar por um governo que
não o iluda com milagrosas transferências de renda custeadas por
irresponsabilidade fiscal, cujo efeito é a degradação da capacidade de
investimento do Estado, uma inflação crescente e juros nas alturas –
situação que prejudica, sobretudo, os pobres, que passam a depender
cronicamente do populismo descarado de políticos que nunca descem do
palanque. É esse círculo vicioso que alimenta o bolsonarismo e o
lulopetismo.
Não
são os críticos do PT, portanto, que igualam Lula a Bolsonaro. É o
próprio Lula que o faz, de maneira acintosa, sem nenhum pudor. Trata-se
da banalização do uso da máquina pública para fins eleitorais, como se
fosse coisa normal e, pior, como se isso beneficiasse a população.
Já
o governo de Jair Bolsonaro faz um esforço adicional, verdadeiramente
hercúleo, para emular o pior do lulopetismo. O ministro da Economia,
Paulo Guedes, por exemplo, está cada vez mais parecido com Guido
Mantega, o mago da contabilidade criativa nos governos petistas.
Ao
explicar a manobra fiscal que financiaria o aumento do benefício
social, Paulo Guedes disse: “Seria uma antecipação da revisão do teto de
gastos, que está (prevista) para 2026, ou mantém, mas por outro lado
pede um waiver, uma licença para gastar com essa camada temporária de
proteção”.
É
assim que os populistas enfrentam suas responsabilidades. O
voluntarismo de Bolsonaro e Guedes – segue-se a lei fiscal apenas quando
interessa – é o mesmo de Lula, Dilma e Mantega. Com essa turma, a crise
econômica nunca é acidental.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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