Lamentavelmente, o Paulo Guedes que se viu foi o militante político, o bolsonarista radical, o arauto de um cenário que só existe nas narrativas oficiais. Alexandre Borges para a Gazeta do Povo:
É
papel dos ministros da economia tentar atrair investimentos externos
para o país e, neste sentido, a viagem de Paulo Guedes aos EUA é
meritória, especialmente se considerarmos o caos deixado pelo seu
governo nos índices de renda, emprego, inflação, crescimento do PIB,
entre outros. Quem quebrou as pernas do país, que ao menos consiga uma
muleta.
O
Posto Ipiranga, o doutor pela Universidade de Chicago, o ex-banqueiro
de inegável sucesso, poderia ter mostrado aos investidores e principais
agentes econômicos do mundo como o Brasil vai voltar a crescer e se
tornar o melhor destino para bilhões de dólares em busca de
oportunidades, tão necessários e escassos por aqui. Mesmo que o momento
atual não seja animador, ao menos que se mostrasse, de forma convincente
e persuasiva, como seremos, de uma vez por todas, o país do futuro.
Lamentavelmente,
o Paulo Guedes que se viu foi o militante político, o bolsonarista
radical, o arauto de um cenário que só existe nas narrativas oficiais.
Seu discurso, é preciso registrar com pesar, era um castelo de cartas
que não resiste ao primeiro sopro de realidade.
Como
disse Reagan, o problema não é o que você não sabe, mas o que você acha
que sabe mas não é bem assim. No quadro pintado pelo ministro, o Brasil
é um sucesso de vacinação que supera os EUA, o que deve gerar
sentimentos contraditórios nos "patriotas" anti-vacina. Vamos aos fatos.
Segundo
o Our World in Data, 72% dos brasileiros receberam ao menos uma dose de
vacina contra o novo coronavírus, contra 65% dos americanos. O que o
ministro não mencionou é que estes números foram conquistados apesar de
seu governo, que não economizou esforços para protelar a compra de
vacinas, espalhar desinformação, criar falsas expectativas sobre
tratamentos ineficientes, demonizar o trabalho de governadores e
prefeitos, entre outras medidas negacionistas. Como se não bastasse, o
número mais baixo dos americanos não se deve à falta dos imunizantes,
mas ao insano movimento anti-vacina daquele país.
Guedes
também disse que as projeções e análises dos especialistas em relação
ao Brasil estão erradas porque eles, tão inocentes, se deixaram
contaminar pelo "barulho político". E quem causa o tal political noise?
Segundo o ministro, todas as principais autoridades do país contribuem,
como se fosse o Brasil fosse uma grande praça com crianças brincando sem
supervisão. Ele realmente acredita que alguém não sabe quem causa a
instabilidade política no país? O tal barulho político é um fenômeno
meteorológico natural? Ele evidentemente não citou que a depreciação do
real, com tantas consequências nefastas para a vida de quem não tem
dinheiro em off-shores, é explicada em parte pela ação do seu chefe.
O
ministro ainda disse que, a despeito do estardalhaço, as instituições
do país funcionam e que temos uma "democracia vibrante", seja lá o que
isso signifique. Não há como discordar que as instituições democráticas
do Brasil têm mostrado uma resiliência admirável, mas esta solidez é
diariamente testada pelos ataques frontais do presidente ao parlamento,
ao judiciário, ao sistema eleitoral, aos programas de vacinação
implementadas pelas autoridades locais com a orientação das melhores
práticas utilizadas em todo mundo. O Brasil é democrático apesar do
governo a que Guedes pertence.
Guedes
foi apresentado como um técnico, mas age cada vez mais como esbirro das
narrativas do governo, assim como Marcelo Queiroga, entre outros. A
importâncias destas viagens é inegável, mas é preciso mais que discursos
para atrair capital de qualidade para o Brasil. O FMI, o G20 e os
fóruns econômicos internacionais não cabem no cercadinho.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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