
Charge do Zé Dassilva (nsctotal.com.br)
Pedro do Coutto
O escritor Ian Fleming, autor da série 007, que alcançou e ainda alcança sucesso extraordinário, sobretudo nas telas, os diamantes são eternos. Tem razão. A frase sintetiza o meu modo de ver uma característica do comportamento humano em busca não só do sucesso, mas também da riqueza e do luxo.
Mas há caminhos diferentes. Existem as rotas legítimas, as não legítimas e as criminosas, como tem deixado claro os trabalhos da CPI presidida pelo senador Omar Aziz. Junto a isso, uma outra característica mais forte ainda do que o conteúdo que a frase título reflete que é o efeito muitas vezes alucinógeno do dinheiro e das ações não menos alucinadas dos ladrões.
INJUSTIFICÁVEL – Só a alucinação do dinheiro através da corrupção será capaz de explicar concretamente o que impulsiona o ânimo dos que se apresentaram como intermediários de maciças compras de vacinas, por preços superfaturados, muitos acima dos valores clássicos do mercado de imunizantes. São depoimentos absurdos em que personagens repetem seus discursos numa tentativa vã de justificar o que não tem explicação, pois nunca se viu uma chuva tão intensa de intermediários no caminho de vacinas ligadas à vida humana.
Mas, para os ladrões, a vida humana não representa nada: o que pesa para eles é o lucro ilegítimo à custa do tesouro público, da integralidade e da sobrevivência em meio a uma pandemia que no Brasil já matou 560 mil pessoas.O dinheiro para esse elenco justifica tudo, até mesmo os lances mais rudimentares do pensamento lógico.
No cenário que se descortinou, principalmente na última semana, pessoas que não se conheciam encontram-se em jantares na intenção de acertar negócios imundos. Tais personagens estarão sempre melhor situados no esgoto da percepção humana.Mas o alucinógeno não está apenas no dinheiro aparente.
CONTRA A DEMOCRACIA – O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre Moraes determinou a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson por incitamento à violência, ao crime pela ameaça à democracia brasileira. A reportagem de Aguirre Talento e Mariana Muniz, O Globo deste sábado, focaliza nitidamente o conteúdo da decisão e a sua importância constitucional e institucional.
Surpreende, portanto, segundo revelação de Marianna Holanda e Mateus Vargas, Folha de S. Paulo, que Roberto Jefferson tenha sido recebido por Bolsonaro dez dias antes de ser preso. Na foto contida em um dos vídeos que postou nas redes sociais, Jefferson aparece com uma pistola em cada uma das mãos, defendendo um confronto tanto político quanto pessoal. Espanta assim intensamente a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de anunciar recurso ao Senado, amanhã, segunda-feira, contra o comportamento de Alexandre Moraes e a atuação também do ministro Luís Roberto Barroso.
DEFENSOR DE JEFFERSON – Bolsonaro passou a impressão de que resolveu assumir a defesa de Roberto Jefferson no processo que é movido contra ele na Polícia Federal, transformada em prisão preventiva por Moraes. Surpreende também a reação do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, que contestou a decisão de Alexandre Moraes, classificando-a como censura prévia. Absurdo. Tanto não houve censura prévia que o presidente do PTB postou os vídeos que desejou nas redes sociais. A consequência da postagem é a melhor prova contra a adoção de censura prévia.
Com seu argumento, Augusto Aras, na prática, rompeu com o Supremo Tribunal Federal ao considerar ilegítima uma decisão da Corte contra a qual não lhe cabe argumentar. Sua função à frente da PGR não pode ser esta. Aras, na minha impressão, corre o risco de ter colocado em foco uma contradição intransponível: nunca se viu um episódio assim envolvendo o Supremo, o acusado, o presidente da República e o chefe da PGR que certamente entrou em choque, novamente, com os procuradores da República.
RESISTÊNCIA – No Congresso há resistência ao projeto do governo que reduz direitos trabalhistas e previdenciários, caminho do qual Paulo Guedes não se afasta. No Estado de S. Paulo, reportagem de Daniel Weterman, aponta a quebra de direitos trabalhistas constitucionais. Na Folha de S. Paulo, Thiago Resende e Bernardo Caram focalizam os reflexos negativos dos cortes dos direitos em relação ao FGTS e ao INSS.
Um dos absurdos iluminados está na ideia de que para obter a aposentadoria os trabalhadores tenham que substituir os empregadores em suas contribuições sociais. É um retorno a mais de um século da história do Brasil, a partir de 1888.
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