A má gestão política logrou a façanha de transformar uma empresa monopolista numa empresa com elevados passivos que geraram altos riscos operacionais para a manutenção de suas atividades. Juliano Oliveira para o Instituto Liberal:
Em
artigo a respeito da desestatização dos Correios publicado no dia
06/07/2021, o jornal Correio Braziliense informou que “em março, o Poder
Executivo divulgou que a desestatização da empresa seria por venda
total ou majoritária das ações. Após avanços nos estudos, o governo
optou pela primeira opção, ao entender que não deve manter uma
participação minoritária nos Correios, afirmou o secretário especial de
Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia,
Diogo Mac Cord.”.
Em
resposta imediata a essa “ameaça”, o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da
Silva, como todo defensor aguerrido do modelo nacionalista-estatista de
condução econômica, publicou em seu twitter a seguinte mensagem:
“Se não for barrada, a privatização dos Correios marcará a destruição de uma empresa que está há mais de 350 anos a serviço do povo brasileiro”.
E
completou: “Em mais de 2 mil municípios onde não existem agências
bancárias, os Correios são a única instituição a atender moradores e
negócios locais. E quem vende ou compra pela internet sabe que pode
contar com uma eficiente rede de logística que abrange todo o território
nacional”.
Lula
considera que vender o monstrengo que, apenas sob a gestão petista,
acumulou perdas que, somadas, representam 90% de seu patrimônio líquido é
um crime contra os mais pobres. Como nos adverte a excelente obra do
economista e jornalista Rodrigo Constantino, Privatize Já, originalmente
publicada em 2012, há um método nesta narrativa que supostamente
defende os menos favorecidos. O método consiste em discursos repletos de
platitudes que objetivam, unicamente, garantir que as estatais sejam
mantidas para financiamento de campanhas políticas abjetas, compra de
apoio por meio da oferta de cargos e desvio de recursos para a
manutenção da governabilidade dos políticos da vez.
Um
dos principais argumentos utilizados exaustivamente pela esquerda
brasileira e repetido, também à exaustão, por seus asseclas, é de que
sem os serviços dos correios, pessoas mais simples, que não possuem
acesso aos grandes centros urbanos, ficariam sem receber suas cartas (um
instrumento cada vez menos utilizado por quem deseja se comunicar,
diga-se de passagem). Segundo o argumento, isso ocorreria porque não
haveria interesse por parte da iniciativa privada em fazer entregas aos
rincões do país ou, se as fizesse, o preço do serviço seria exorbitante,
em especial, por conta das longas distâncias a serem percorridas pelas
correspondências.
Estes
argumentos, no entanto, servem apenas aos interesses dos nacionalistas e
não possuem qualquer relação com a verdade. Como destaca o economista
Rodrigo Constantino em sua já citada obra: “A troca de cartas, para
começo de conversa, é cada vez mais algo do passado. Com o advento da
internet, esse tipo de serviço fica obsoleto à luz do dia. Telegramas
cedem lugar à mensagem de texto, e as cartas são substituídas pelo
e-mail. É verdade que nem todos possuem acesso à internet. Mas a
tendência é o século XXI bater à porta da maioria em breve,
especialmente se o governo retirar alguns obstáculos do caminho da
iniciativa privada. O argumento de que o setor privado não chegaria aos
mais pobres com cartas e pacotes não se sustenta quando observamos que
empresas de logística e de varejo distribuem seus produtos em inúmeras
favelas e nos mais distantes pontos de venda desse enorme país.
Encontram-se cigarros, cerveja e biscoitos em qualquer birosca do
Brasil. Por que não chegaria a esses locais uma encomenda ou carta”?
Ademais,
quanto aos custos necessários para a prestação de serviços postais,
convém ressaltar que a concorrência entre empresas privadas guiadas pelo
lucro tenderá, como é a regra em mercados desimpedidos, a gerar meios
de aperfeiçoamento de processos e a pressionar os preços dos serviços
para baixo. Afinal, ao contrário do que ocorre com empresas estatais,
guiadas unicamente por interesses político-ideológicos, empresas
privadas são geridas com base nas informações de preços que são enviadas
pelo mercado. Isso explica, em grande parte, porque, durante os anos de
2016-2017, a empresa objeto deste artigo teve seu lucro reduzido em 900
milhões de reais.
A
má gestão política logrou a façanha de transformar uma empresa
monopolista numa empresa com elevados passivos que geraram altos riscos
operacionais para a manutenção de suas atividades. Um artigo de 2019 da
Revista IstoÉ joga luz na questão e aponta que “somente entre os anos de
2011 e 2016, os Correios elevaram os gastos com salários e consignações
em R$ 180 milhões e as obrigações trabalhistas em mais R$ 124 milhões. O
curioso é que isso aconteceu apesar de a empresa ter desligado 6,1 mil
empregados no ano de 2017 num plano de demissões voluntárias. A crise
administrativa levou a empresa à bancarrota”.
Em
resumo, não há nenhum discurso, do ponto de vista moral e/ou econômico
que sustente a existência dos Correios (e milhares de artigos já
explicaram esse fato). O Estado, com sua suposta benevolência, quer
arrogar para si, como faz Lula, a responsabilidade por oferecer
assistência aos mais pobres que vivem em lugares pouco acessíveis.
Poderia ajudar de duas formas: primeiro, abandonando o monopólio pelo
“cuidado” com as estradas que tornam ainda mais difícil a vida de
empresas particulares que se esforçam para chegar nesses ambientes.
Segundo, privatizando tudo o que for possível para conferir maior
eficiência às atividades das quais dependem as pessoas que prometem
defender. Enquanto a intervenção estatal for a regra, no entanto, não
haverá cálculo racional de preços que permita uma gestão baseada em
lucros e prejuízos e qualquer político, por mais bem intencionado, só
irá infligir maiores danos à população.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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