MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Frente aos novos dados do IPCC, indústria da Moda precisa de ações mais significativas para diminuir emissões

 


Como destaca o relatório Fios da Moda, setor é responsável por 4% das emissões totais de gases de efeito estufa e precisa adotar alternativas como algodão agroecológico e poliéster reciclado, além de novos modelos de negócio. Uma das autoras do relatório alerta ainda para a diferença entre compensação e redução de emissões.


No último dia 09/08, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu mais recente relatório, o relatório AR6 WG1. O documento trata das causas das alterações climáticas e foi categórico em dizer que precisamos de ações significativas para conseguirmos manter o aquecimento da Terra em até 1,5ºC até 2030- se não quisermos presenciar cenas piores do que aconteceram, por exemplo, na Grécia, na Argélia, na Turquia, nos EUA, no Brasil, na China, nas últimas semanas. Dado o atual contexto político e econômico, e a escassa ação das lideranças políticas e empresariais, somado à ascensão de governos negacionistas, o relatório reconhece a dificuldade de se conseguir um cenário de emissões zero no tempo necessário, mas reforça a necessidade da ação dos tomadores de decisão nesse sentido.


Como destacado no relatório Fios da Moda: Perspectivas Sistêmicas Para Circularidade, lançado em fevereiro deste ano pelo Instituto Modefica em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces) e a consultoria para moda circular Regenerate Fashion, a moda é responsável por cerca de 4% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs), o que equivale ao total de todas as emissões da França, Alemanha e Reino Unido combinadas. Cerca de 70% desse total são emitidos durante as atividades classificadas como upstreams, que são as atividades necessárias para a composição de um produto, como processamento de materiais e produção.

 

Nesse sentido, o relatório Fios da Moda faz uma análise dos impactos ambientais da produção das três matérias-primas mais utilizadas na indústria têxtil e de confecção brasileira: algodão, poliéster e viscose - e destaca como cada uma dessas fibras contribui negativamente para o colapso climático, sobretudo por conta do volume produtivo e formas de produção desses materiais. A publicação destaca as emissões da extração do petróleo para a produção de poliéster, bem como a pressão que a produção brasileira de algodão e viscose, em esquemas de monoculturas e uso intensivo de agrotóxicos, exerce sobre biomas importantes para o equilíbrio climático, como o Cerrado. 


Na esteira da publicação do IPCC, e reconhecendo seu papel de grandes contribuintes para o aquecimento global, diversas empresas da moda lançaram planos de emissão zero por vias de compensação de carbono. Entretanto, o relatório do IPCC destaca a necessidade de redução de emissões, algo que tem se mantido de fora das ações das principais empresas da moda. A compensação de carbono - o que faz uma empresa se autoproclamar carbono neutro - se dá por meio de compensar por vias diversas as emissões. “É um toma lá, dá cá. Uma equação de resultado zero, significa que não saímos do lugar”, comenta Marina Colerato, diretora do Instituto Modefica. “Além disso, há uma série de problemas com os esquemas de compensação de carbono em se tratando de justiça social e climática, demonstrando que os esquemas de compensações, muitas vezes, são mais um nicho de mercado do que uma ação efetiva para combater a crise climática”, alerta Colerato. 


No topo disso, enquanto algumas empresas estão se dando prazos como 2050 e 2060 para compensar suas emissões na totalidade, a demanda do mundo real tem outro tempo: o IPCC é enfático em dizer que precisamos de redução das emissões e que precisamos fazer isso no prazo de 5 ou 10 anos, no máximo. “Não só as empresas estão indo pelo caminho da compensação, e não da redução, como estão se auto concedendo um prazo completamente fora da realidade. Não temos até 2050 ou 2060, e não é só o relatório do IPCC que está dizendo, é a própria Terra. Basta olharmos as notícias do último mês, onde parte do globo pegou fogo e outra parte foi inundada, para vermos que as ações precisam ser para ontem. Falamos de alteração climática há pelo menos 40 anos, as marcas já tiveram bastante tempo para se adaptar. Agora não temos mais 40”, completa a diretora.  


O mais importante: o relatório Fios da Moda mostra como produções alternativas, sobretudo do algodão, bem como incentivos para reciclagem têxtil, podem contribuir positivamente para as reduções de emissão. O uso do algodão agroecológico reduz em até 46% as emissões de gases de efeito estufa enquanto a utilização de poliéster reciclado significa um decrescimento de 25 a 75%, dependendo do tipo de tecnologia empregada. “Temos alternativas que vão desde implementação de novos modelos de negócios, menos dependentes da superprodução e do consumismo, assim como temos alternativas de produção que podem ser escalonadas se receberem incentivos sistemáticos, tanto por parte dos governos quanto das empresas”, finaliza Colerato. 


Por fim, as perdas econômicas relacionadas às mudanças climáticas são significativas para todos os setores, com destaque para o agronegócio brasileiro (cujo algodão é carro chefe junto com a soja e o milho) - que representa 26,6% do PIB nacional e que já sente perdas bilionárias pela mudança do clima. Se não pelo âmbito ético e moral da responsabilidade compartilhada, as perdas econômicas devem ser uma força motriz para as tomadas de ações. No mundo, as perdas podem chegar a 10% do valor econômico total até a metade do século. 

Sobre o Modefica

Organização de mídia, pesquisa e educação que atua por justiça socioambiental e climática com uma perspectiva ecofeminista. Desde 2014, o Modefica produz e dissemina conteúdo multimídia sobre questões socioambientais que normalmente não são veiculadas na grande mídia. Entendemos que vivemos em uma emergência ambiental e climática - e que as consequências da destruição ambiental podem ter impactos profundos na luta por justiça social, grandes rupturas nos processos sociais democráticos e atingir de forma mais dura determinados grupos em situação de vulnerabilidade social e econômica, como as mulheres e as pessoas não-brancas. Procuramos fazer do jornalismo, da pesquisa e da educação ferramentas de transformação, colaborando com as causas sociais e ajudando a construir uma narrativa de responsabilização de autoridades públicas e privadas. Nossa missão é aumentar a percepção sistêmica sobre os problemas socioambientais para promover relações de equidade e justiça entre seres humanos, não-humanos e Natureza.


Sobre o FGVces

O Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) é um espaço aberto de estudo, aprendizado, reflexão, inovação e de produção de conhecimento, composto por pessoas de formação multidisciplinar, engajadas e comprometidas, e com genuína vontade de transformar a sociedade. O FGVces trabalha no desenvolvimento de estratégias, políticas e ferramentas de gestão pública e empresarial para a sustentabilidade, no âmbito local, nacional e internacional. Seus programas são orientados por quatro linhas de atuação: (i) formação; (ii) pesquisa e produção de conhecimento; (iii) articulação e intercâmbio; e (iv) mobilização e comunicação. 


Sobre a Regenerate Fashion 

Regenerate Fashion LLC é uma consultoria que auxilia empresas de moda e produtores têxteis globais na integração de práticas sustentáveis. Suas principais áreas de trabalho incluem avaliação de sustentabilidade, criação de estratégias para produtos e negócios, treinamento e capacitação, além de avaliação de têxteis de baixo impacto. A consultoria usa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) como princípios orientadores para fornecer uma abordagem integral em seus serviços, e apresentou seu trabalho nos principais eventos do setor, como as conferências NEONYT, Copenhagen Fashion Summit, Textile Exchange Conference, entre outros.


Para maiores informações, agenda de pautas e entrevistas com as representantes do projeto entre em contato com a equipe da Voice 176: 

Larissa Henrici - lari@voice176.com - whatsapp 11-945560826

Nathalia Anjos - nathalia@voice176.com 

Todos os direitos reservados

Modefica

Endereço

Rua Harmonia, 542 - 54 - Sumarezinho - São Paulo - SP


Não deseja mais receber nossos e-mails?

Você pode descadastrar seu e-mail

Nenhum comentário:

Postar um comentário