E isso vira uma questão política por causa de artigo no 'Wall Street' comentando que o pedantismo soa “fraudulento, para não dizer cômico”. Vilma Gryzinski:
Melania
Trump foi tratada como carreirista, aproveitadora, tola, deslumbrada,
sem noção e, numa reportagem que lhe valeu uma indenização judicial,
garota de programa.
Com a grande imprensa maciçamente comprometida com a eleição de Joe Biden, sua mulher, Jill, também ganhou blindagem cerrada.
A
única exceção foi um artigo no Wall Street Journal, assinado pelo
desconhecido professor Joseph Epstein, que fez carreira na Norhwestern
University, apelando à futura primeira-dama para que não insista em usar
o tratamento de “doutora”.
Epstein
realmente usou um tom condescendente, pensando em fazer um artigo
engraçado no qual critica a banalização dos títulos de doutorado.
Na
opinião do professor, só médicos deveriam ser tratados como “doutores”
(imaginem se vivesse no Brasil, onde basta ser “importante” para ganhar o
tratamento)
O mundo caiu na cabeça dele, inclusive a própria universidade, onde “deu aulas durante trinta anos sem ter doutorado”.
“Não
vou fazer comentários, fora dizer que achei ter feito um artigo
ligeiramente bem humorado, mas receio que não tenha sobrado muito humor
no mundo, principalmente entre os politicamente corretos”, suspirou
Epstein.
O
Wall Street pelo menos não condenou o responsável pela publicação, o
editor de opinião Paul Gigot, que ironizou: o artigo “desencadeou uma
enxurrada de críticas na mídia e no Twitter, incluindo pedidos de que eu
me retrate, peça desculpas pessoalmente à senhora Biden, exile o senhor
Epstein por todos os tempos, peça demissão e reflita sobre meus
pecados”.
Jill
Biden ganhou o doutorado em ciências da educação quando já tinha 55
anos e só pode ser elogiada pela conquista. Mas é realmente um tanto
pernóstico que exija o tratamento de doutora.
No
Brasil, Ruth Cardoso também queria ser tratada assim na época em que o
marido, Fernando Henrique, foi presidente. Fora os sicofantas de praxe,
ninguém cumpriu a exigência.
Com
razão, a antropóloga abominava o título de “primeira-dama”, um
anacronismo difícil de se dispersar mesmo numa época em que esposas de
presidentes têm suas próprias carreiras, mas precisam virar esposas
padrão, dedicadas unicamente a montar recepções e ficar bem na foto.
Até
Melania Trump, a “esposa troféu”, como dizem os americanos para
designar as beldades que se casam com milionários mais velhos, reclamou
de ter que fazer a decoração de Natal na Casa Branca.
“Quem é que liga para essa •••••?”, desabafou para uma falsa amiga que, perfidamente, gravava tudo.
Jill
Biden, uma mulher de 69 anos bem conservados, quer continuar a dar
aulas de inglês num “community college”, instituição de ensino superior
do tipo que só existe nos Estados Unidos, geralmente voltada para cursos
vocacionais. Foi esse o tema de sua tese de doutorado.
Quando
o marido foi vice-presidente, ela continuou na sua atividade, com
agentes do serviço secreto disfarçados de alunos para garantir a
segurança.
Se ela conseguir seu intento, será um ótimo exemplo.
Jill
Jacobs, seu nome de solteira, lembra Nancy Reagan, pelo olhar de
adoração dirigido ao marido, mas é uma mulher da época pós-emancipação
feminina. Conciliou exemplarmente carreira e vida familiar.
Quando
se casou com Joe Biden, ganhou uma família complicada: marido e dois
filhos pequenos, traumatizados pelo acidente de carro que matou a mãe e a
irmãzinha de apenas um ano.
O presidente eleito gosta de contar que ela só aceitou seu pedido na quinta vez.
Os
dois se conheceram num, muito americanamente, num encontro às cegas.
Joe, um jovem viúvo, viu uma publicidade em que a bela loira aparecia e
comentou seu interesse com o irmão. Acabou com seu número de telefone.
Arriscou.
Jill
disse que ficou impressionada com o senador bonitão. “Estava acostumada
com cabeludos que usavam jeans e tamancos. Ele apareceu de paletó
esporte e mocassins”.
Um
desses cabeludos, Bill Stevenson, tinha sido seu primeiro marido.
Casou-se com ele com apenas 18 anos, numa relação que dificilmente daria
certo.
Hoje,
Stevenson alega que Jill e Joe conheceram-se muito antes da data
oficial e estavam tendo um caso extraconjugal quando a primeira mulher
do senador morreu no acidente.
Confidências
de ex-maridos (ou ex-mulheres) nem sempre devem ser levadas ao pé da
letra, embora Stevenson diga que votou em Barack Obama – e, por
extensão, em Joe Biden. Depois mudou para Donald Trump.
Jill
trata como seus os filhos do marido, que a chamam de “mom” (usam
“mommy” para a mãe que morreu). Com Biden, teve Ashley, hoje com 39
anos.
Sofreu
com a morte precoce do mais velho, Beau Biden. E certamente conhece o
potencial de encrenca de Hunter, o filho-problema, que teve uma menina
só reconhecida por exame de DNA com uma dançarina de striptease e está
sendo investigado por negócios suspeitos na Ucrânia e na China.
Com
uma família assim e um marido que assume a presidência aos 78 anos,
Jill Biden tem que tomar cuidado para não parecer o poder por trás do
trono como aconteceu quando Woodrow Wilson teve um derrame e sua mulher,
Edith, assumiu o controle total de quem podia vê-lo ou não.
O título de doutora, mesmo que pedante, não vai atrapalhar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário