Alguns dos obituários que li chamavam meu pai de “gigante”. Ele era. Mesmo. Ele tinha 1,95m. Minha mãe e eu brincávamos que era fácil encontrar o papai na multidão. Bastava olhar para cima. Artigo de Devon Williams para o Daily Signal e (mal)traduzido para a Gazeta:
No
fim dos anos 1980, no auge da indústria do telemarketing, uma empresa
ligou para nossa casa durante o jantar. Atendi o telefone e o entreguei
ao meu pai. Eis o que o ouvi dizer:
- Não estou interessado. Não, não, obrigado. Bom... Eu não vou morrer nunca.
Daí
ele desligou. Minha mãe e eu nos entreolhamos e, com um ar de
incredulidade, ficamos esperando pelas palavras dele. Ele explicou que a
empresa estava vendendo seguro de vida.
Durante
muito tempo, acreditei nisso – que ele jamais morreria. Que ele estaria
derramando seu conhecimento sobre mim, minha família e todo o mundo
para sempre.
Sempre
vi meu pai como um professor, um professor universitário. E, em
essência, ele era exatamente isso: um professor. E ele adorava ensinar.
Então por que, nos dias que se seguiram, a morte do meu pai pareceu tão surreal?
Falei
sobre meu pai ao New York Times, The Washington Post e The Wall Street
Journal. Falei com um dos homens mais inteligentes e uma das mentes mais
prolíficas do país: Thomas Sowell. Conversei com o ministro da Suprema
Corte Clarence Thomas, com o empreiteiro Harlan Crow e com o empresário
Charles Koch. Li centenas de tuítes, posts e e-mails de estudantes,
políticos, educadores, filantropos, escritores e repórteres.
Você
talvez intua que essas conversas todas demonstram que o dr. Walter E.
Williams não era só um professor. Que talvez, por causa do efeito que
ele provocava em tantas pessoas, fosse algo mais do que isso.
Eu
diria que a essência do meu pai era a de um educador. Na verdade, há
muitos anos meu pai disse a Sowell: “Gostaria de morrer num dia em que
dei uma aula”. Ensinar era a paixão dele. Era seu dom. Era, depois de
sua família, seu maior amor.
Alguns
dos obituários que li chamavam meu pai de “gigante”. Ele era. Mesmo.
Ele tinha 1,95m. Minha mãe e eu brincávamos que era fácil encontrar o
papai na multidão. Bastava olhar para cima.
Atleta
até depois dos 70 anos, ele tirava proveito da estatura e dos membros
compridos para jogar tênis e basquete, mas seu esporte preferido era
mesmo o ciclismo. Minha mãe preparava um lanche para ele no dia anterior
e ele saia para pedalar de 50 a 80km por volta das 5 da manhã (quando
eu e ela dormíamos profundamente).
Acho
que ele gostava de ficar sozinho com seus pensamentos – e de andar de
bicicleta. Depois de uma volta, ele tomava banho, se vestia para
trabalhar em sua coluna distribuída para vários jornais ou na aula da
semana – com a cabeça limpa e disposto.
Mas
ele não era gigantesco apenas no físico; meu pai era também um gigante
intelectual. Ao longo de sua vida, ele escreveu dez livros, centenas de
artigos, resenhas, artigos para periódicos acadêmicos e mais de mil
colunas semanais. E, apesar de orgulhoso de suas realizações, sempre que
terminava um livro ele me dizia: “Acho que ainda não alcancei o Tom
[Sowell] (...) ele escreve com as duas mãos”.
Meu
pai também deu centenas de palestras pelo mundo — Johanesburgo,
Cambridge, Londres, Tóquio, Hong Kong — e outras tantas pelo país. Além
disso, era possível encontrá-lo na TV ou rádio. Ele chamava esses
veículos de “uma grande sala de aula”.
A
economia é uma disciplina desafiadora e abstrata que envolve cálculo e
análise sofisticada. Mas meu pai tinha a capacidade sobrenatural de
destrinchar ideias complexas e torná-las digeríveis a todos.
Como
pai, ele também era um professor. Meu pai me ensinou que o trabalho
duro supera o talento ou o dom natural todos os dias e duas vezes no
domingo. Ele me ensinou a dirigir como uma taxista da Filadélfia e a
fazer baliza em espaços apertadinhos. Ele me ensinou que o melhor
momento para procurar emprego é quando você está empregada e que as
oportunidades geralmente surgem disfarçadas de decepções.
Ele
me ensinou de que o lazer é necessário, mas que tudo se torna mais
divertido depois que você terminou seu trabalho. Ele me ensinou a amar a
vida e as pessoas. Ele me ensinou a beber vinho e não guardá-lo para
ocasiões especiais. E ele me ensinou que a família é sempre um porto
seguro.
Quando
meu pai estava na Filadélfia, longe de nós, que morávamos em
Washington, D. C., ele me ligava e perguntava: “Como está meu bebê?”. E
eu lhe respondia: “Estou bem, pai”, sabendo que ele estava perguntando
sobre meu filho. Eles eram unidos e me dói saber que passaram apenas
seis anos juntos.
Todos
sentiremos falta do dr. Walter Edward Williams. Mas gosto de pensar
que, por meio de sua dedicação ao magistério, da forma como ele atingia
os alunos e do efeito profundo que ele causava em tantas pessoas, o que
ele disse à pessoa que vendia seguros de vida talvez fosse verdade.
Devon Williams é filha de Walter E. Williams.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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