O futuro da Lava jato de Curitiba ainda não foi decidido pelo
procurador-geral Augusto Aras, que age como inimigo da força-tarefa.
Reportagem da Gazeta:
A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba chega nesta quinta-feira (10)
ao seu "Dia D" amparada por uma liminar e cercada de incertezas sobre a
continuidade do trabalho. A autorização para que o grupo continue
trabalhando com exclusividade nos casos da operação vence neste dia 10
de setembro e o procurador-geral da República, Augusto Aras, ainda não
decidiu o futuro das investigações.
No início de setembro, a subprocuradora Maria Caetana Cintra dos
Santos, do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF),
concedeu uma liminar que prorroga por mais um ano a força-tarefa em
Curitiba. A decisão pode ser questionada judicialmente, mas para
integrantes da força-tarefa trata-se de uma situação que aumenta o peso
político da decisão sobre o futuro das investigações.
Maria Caetana atendeu a um pedido feito pela força-tarefa ao Conselho
Superior. A subprocuradora frisou a “evidente importância do trabalho e
dos resultados alcançados, e da necessidade de não interromper
investigações em prol do interesse público, do Erário e da sociedade
brasileira”.
Antes da liminar de Maria Caetana, uma hipótese era de que a
força-tarefa fosse renovada por Aras por apenas mais 60 dias. Esse prazo
seria prorrogado por igual período enquanto as discussões sobre a
criação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado
(Unac) avançam no Conselho Superior — a unidade deve centralizar as
investigações da Lava Jato em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, além
da Operação Greenfield, com outras investigações complexas de
corrupção.
A possibilidade preocupou integrantes da Lava Jato. Outra preocupação
era uma eventual decisão de Aras de retirar a exclusividade dos
procuradores do caso, o que diminuiria o ritmo de trabalho. Atualmente,
dos 14 procuradores que integram a força-tarefa, apenas metade tem
exclusividade para investigar casos da Lava Jato. Os demais dividem as
investigações do escândalo da Petrobras com outros casos de suas
atribuições.
Enquanto passa pelo momento de incerteza sobre a continuidade do
trabalho, a Lava Jato ostenta recordes nas investigações. Em um ofício
encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), os procuradores
alegam que desde 2014, o volume de trabalho cresceu 1.647%. Desde o
início da operação, mais de R$ 4 bilhões foram recuperados aos cofres
públicos.
Segundo o documento, tramitam atualmente cerca de 400 investigações
com base em materiais colhidos pela força-tarefa. A Lava Jato também
argumenta que há quatro fases pleiteadas pelos membros da força-tarefa
já autorizadas pela Justiça Federal, com cumprimento dependente apenas
de ajuste operacional por parte da Polícia Federal. Há, ainda, pelo
menos mais 15 linhas de investigação que, segundo a força-tarefa, tem
“bom potencial de amadurecerem no curto e médio prazo para novas fases”.
Liminar a favor da Lava Jato causou surpresa
Integrantes da Lava Jato foram pegos de surpresa pela decisão de
Maria Caetana e há dentro do grupo a interpretação de que o Conselho
Superior não tem prerrogativa para deliberar sobre a renovação de
forças-tarefas.
O procurador-geral pode acionar a Justiça para resolver o imbróglio.
Para a Lava Jato, uma discussão judicial sobre o futuro da força-tarefa
pode ser positiva. Os procuradores acreditam que, com a judicialização
da questão, pode haver um constrangimento em sufocar as investigações,
além de suscitar a discussão pública sobre o tema.
Os procuradores ressaltam que, se o caso for parar na Justiça, já
haverá três decisões a favor da continuidade das investigações: a
liminar de Maria Caetana; um ofício enviado à PGR pela 5ª Câmara de
Coordenação e Revisão do MPF recomendando a renovação da força-tarefa; e
um ofício enviado à PGR por oito dos 10 integrantes do Conselho
Superior colocando-se a favor da renovação da equipe.
Mesmo que o desfecho judicial não seja favorável à Lava Jato, os
procuradores acreditam que a discussão nos tribunais superiores pode
aumentar o peso político de asfixiar o combate à corrupção no país.
Conselheiros do CSMPF ouvidos pela Gazeta do Povo acrescentam, ainda,
que levar o caso à Justiça pode criar uma tensão “desnecessária” no
colegiado. Eles afirmam que judicializar a questão pode criar “uma
situação complicada dentro do Ministério Público”. O ideal, segundo os
conselheiros, é construir uma solução dentro do Conselho Superior, de
preferência chegando a um consenso.
Quem pode renovar a força-tarefa da Lava Jato?
Conselheiros ouvidos pela Gazeta do Povo destacam que a discussão
sobre quem tem prerrogativa para prorrogar ou não o trabalho da
força-tarefa é uma zona cinzenta. A Lei Complementar nº 75/1993,
conhecida como Lei Orgânica do Ministério Público da União, não dispõe
sobre essa questão.
A lei orgânica incumbe ao Conselho Superior a tarefa de autorizar
procuradores regionais da República a atuarem em outras instâncias e há
uma discussão sobre essa prerrogativa ter uma abrangência maior, sobre
toda a força-tarefa.
Por enquanto, os conselheiros afirmam que falta regulamentação sobre o
tema. Há no Conselho Superior duas tentativas de regulamentar o
assunto. Uma delas é a criação da Unac, que centralizaria as
investigações mais complexas em andamento no país. Há, ainda, uma
discussão paralela para se regulamentar as forças-tarefas.
PS.: Aras acaba de prorrogar a força-tarefa, mas por apenas mais quatro meses. Saída pela tangente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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