Curiosamente, o aumento no escopo e duração da educação da população
desde a minha juventude parece coincidir com o declínio na civilidade do
discurso. Artigo de Theodore Dalrymple, traduzido para a Gazeta:
A adolescência não é a época nem do bom gosto nem da sabedoria, e sem
dúvida é por isso que alguns políticos querem reduzir ainda mais a
idade para que as pessoas possam votar. Afinal, o que muitos políticos
mais valorizam no eleitorado é sua credulidade.
Na França, uma menina de 16 anos conhecida apenas como Mila — embora
se saiba, por causa de suas redes sociais, que ela é lésbica, reclama do
país, tem um piercing no nariz e pinta os cabelos de vermelho — fez
comentários vulgares sobre a religião como um todo e especificamente
sobre o islamismo num vídeo.
Como era de se esperar, a crítica dela não era especialmente profunda
do ponto de vista filosófico. “Odeio religião”, disse ela. “O Corão só
tem ódio. O islã é uma porcaria (...). Sua religião é uma droga (...)”. É
aquele tipo de conversa de adolescente ou de bar que antes estava
restrita a um círculo. Hoje ela pode ser transmitida a milhões de
pessoas numa questão de segundos.
Naturalmente, Mila rapidamente se percebeu no olho de um furacão. Ela
recebeu centenas de mensagens ameaçadoras, incluindo ameaças de morte.
Ela deixou de ir à escola por questões de segurança. Na verdade, ela
fica escondida em casa, onde agora pretende continuar com seus estudos.
Uma autoridade do Conselho Francês da Fé Muçulmana, Abdallah Zekri,
disse no rádio que se opõe às ameaças de morte – mas acrescentou que
quem planta vento colhe tempestade. Em outras palavras, Mila está
recebendo o que merece. Pior ainda, a ministra da Justiça, Nicole
Belloubet, disse numa entrevista que “o insulto à religião é obviamente
um ataque à liberdade de consciência”. Esse comentário, por sua vez,
atraiu muitas críticas. As críticas de Mila talvez tenham sido rudes,
mas não afetaram a liberdade de ninguém. Não existe direito a não se
sentir ofendido. É difícil não acusar a ministra da Justiça de covardia.
Duas investigações policiais tiveram início, a primeira sobre Mila e a
segunda sobre os que a ameaçaram. A primeira, que jamais deveria ter
existido, foi rapidamente encerrada. Como disse a própria menina, os
muçulmanos não compõem uma raça e ela não incitou ninguém ao ódio –
exceto, talvez, contra ela mesma. Mila apenas expressou uma crença ou
atitude. Quanto à segunda investigação, sobre aquelas que a ameaçaram de
morte, tendo a apostar que não dará em nada.
Quando eu tinha a idade de Mila, eu era uma espécie de “ateu de
vila”, mas jamais me ocorreu me expressar como ela fez. Ao contrário, eu
tentaria refutar o argumento ontológico {o blogueiro corrigiu o
tradutor, que escreveu "antológico"} de qualquer um que o expressasse.
Curiosamente, o aumento no escopo e duração da educação da população
desde a minha juventude parece coincidir com o declínio na civilidade do
discurso.
Theodore Dalrymple é editor
colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no
Instituto Manhattan e é autor de vários livros.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário