A pequena, mas crescente, participação feminina na direção de filmes brasileiros tem a sua importância destacada no livro “Mulheres Atrás das Câmeras – As Cineastas de 1930 a 2018”, lançado pela editora Estação Liberdade e organizado por Luiza Lusvarghi e Camila Vieira da Silva.

Buscando suprir uma lacuna na reflexão sobre o cinema do país, a publicação não só faz um levantamento histórico destas mulheres, que já estavam realizando longas-metragens nos primórdios da arte no Brasil, como também traz uma análise da produção dos principais nomes.

São diretoras que formaram um estilo, optaram por determinados temas e se transformaram em referência, lutando contra uma indústria geralmente machista, que deixa às mulheres uma participação de 2% entres os longas com 500 mil espectadores, feitos de 1970 e 2016.

Entre os nomes presentes no livro, em artigos assinados por professoras e críticas de cinema do país, estão as pioneiras Carmen Santos e Gilda de Abreu, que lançaram filmes na metade do século passado, e Helena Solberg, única mulher do movimento do Cinema Novo.

O livro mostra que, a partir da década de 1970, as mulheres tiveram mais oportunidades atrás das câmeras, principalmente com Ana Carolina, Teresa Trautman e Adélia Sampaio – primeira diretora negra a assinar um longa, com “Amor Maldito” (1984) – e Tizuka Yamazaki.

Após assinarem filmes voltados mais para o gênero drama, elas buscaram a diversificação, como Sandra Werneck, que fez a cinebiografia de Cazuza e a comédia “Pequeno Dicionário Amoroso”, e Tata Amaral, que se dedicou às questões urbanas que envolvem a classe trabalhadora.</CW>

No documentário, várias diretoras tomaram a linha de frente, como Lúcia Murat, Maria Augusta Ramos e Kátia Lund. Os prêmios se tornaram uma constante – Suzana Amaral é a diretora de “A Hora da Estrela” (1985), que deu a Marcélia Cartaxo o prêmio de atriz no Festival de Berlim.

Um momento marcante foi o lançamento de “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil” (1995), de Carla Camurati, símbolo da retomada do cinema nacional após o presidente Fernando Collor ter extinguido vários órgãos de apoio, como a Embrafilme.

“Que Horas Ela Volta?” (2016) foi o primeiro longa brasileiro dirigido por uma mulher a ser cotado para estar entre os indicados ao Oscar de melhor produção em língua estrangeira. Antes, só Suzana Amaral, com “A Hora da Estrela”, havia sido indicada como representante brasileira na premiação.

Outro destaque do livro é um glossário completo com 250 realizadoras que fizeram, pelo menos, um longa. Entre elas, as mineiras Letícia Sabatella, Beatriz Thelmann, Júnia Torres, Tânia Quaresma e Petra Costa, indicada ao Oscar de melhor documentário deste ano com “Democracia em Vertigem”.