Apesar do que dizem os protestos e as manchetes de jornal, os números
insistem em mostrar que a liberdade econômica é melhor do que o
socialismo, escreve Alexander Hammond para a Foundation for Economic
Education, com tradução para a Gazeta do Povo.
Basta lembrar as tentativas de erradicar o capitalismo no século
passado, que resultaram em regimes totalitários: nazismo, comunismo e
fascismo (ideologias sanguinárias):
Não dá para ignorar. O capitalismo tem uma imagem ruim.
Na sexta-feira (29), milhares de manifestantes anticapitalistas foram
às ruas em importantes cidades do mundo. Usando máscaras inspiradas no
personagem do filme V de Vingança (a maioria fabricada na China), os
manifestantes autointitulados que se consideram “antissistema”
participaram da Marcha das Milhões de Máscaras anual e buscaram
expressar sua insatisfação com o sistema capitalista e as injustiças que
ele supostamente gera.
Grandes protestos anticapitalistas como os que foram vistos na
sexta-feira não são incomuns, claro. Em agosto, a polícia francesa usou
canhões d´água e gás lacrimogênio para dispersar milhões de manifestante
anticapitalistas que protestavam a cidade litorânea de Bayonne durante a
reunião do G7 que era realizada num resort ali perto.
Mas não é apenas em protestos que vemos o desdém pelo capitalismo.
Nos jornais há manchetes como “O capitalismo está em crise”, “O
capitalismo está fracassando” e, recentemente, “O capitalismo está
morto” — em referência a uma frase do bilionário CEO da Salesforce, Marc
Benioff, que fez fortuna graças ao sistema capitalista.
A opinião pública sobre o socialismo
O ataque constante ao capitalismo em nossa imprensa e ruas culminou
uma pesquisa recente realizada pelo instituto YouGov mostrando que quase
metade de todos os millennials e membros da chamada Geração Z têm uma
visão positiva do socialismo. A mesma pesquisa descobriu que mais de 70%
dos millennials poderiam votar num candidato socialista.
Ser socialista está na moda, assim como está moda exaltar os males do
capitalismo. Mas essa condenação persistente do capitalismo se sustenta
depois de uma análise?
Todos os anos, o Fraser Institute, um grupo de estudos canadense,
publica o relatório Liberdade Econômica do Mundo para descobrir quais os
países mais livres (isto é, mais capitalistas) do mundo. O relatório
lista o nível de liberdade de 162 economias usando 43 índices como
tamanho do governo, sistema jurídico, direito à propriedade privada,
moeda forte, liberdade de comércio exterior e regulamentações.
A ideia por trás do relatório é a de que se você conseguir
identificar os países mais capitalistas do comum, você pode depois usar
essa informação para saber se os países mais capitalistas têm resultados
melhores para os cidadãos em comparação com os países mais socialistas
(ou menos livres). Para analisar essa correlação entre liberdade
econômica e bem-estar, o relatório divide os 162 países em grupos com
base em seu nível de liberdade econômica. E os resultados são
impressionantes.
A renda média entre os países mais livres é seis vezes maior, em
termos reais, do que a renda média nos países menos capitalistas
(US$36.770 e US$6.140, respectivamente). Entre os mais pobres, essa
diferença é ainda maior. Os 10% mais pobres nos países capitalistas
ganham, em média, sete vezes mais do que os 10% mais pobres nas
economias menos livres.
Da mesma forma, mais de 27% das pessoas nas economias mais
socialistas vivem na pobreza extrema (definida pelo Banco Mundial como
uma renda inferior a US$1,90 por dia), enquanto apenas 1,8% das pessoas
nas economias mais livres vivem na extrema pobreza – número que ainda é
alto demais (o ideal seria zero), mas muito melhor do que o nível que
persiste nos países menos livres.
Comparando as economias capitalistas e socialistas
Deixando de lado os números, as pessoas que vivem nos países mais
capitalistas também vivem, em média, 14 anos mais, têm uma taxa de
mortalidade infantil seis vezes menor, gozam de mais liberdades
políticas e civis e, até onde é possível medir esse tipo de coisa, são
também mais felizes em comparação com as economias menos capitalistas.
Pegue Hong Kong, a economia mais livre do mundo. Em 1941, a
jornalista e escritora Martha Gellhorn visitou a cidade-estado com o
marido, o também escritor Ernest Hemingway, e escreveu: “a Hong Kong de
verdade (...) tem a pobreza mais cruel, pior do que qualquer coisa que
já vi. Pior ainda por causa de um ar de eternidade; a vida sempre foi
assim e sempre será”. Mas poucos anos depois da visita de Gellhorn, a
rendição dos japoneses em 1945 fez com que os britânicos voltassem a
governar a ilha e, com isso, o liberalismo passou a ser implantado na
economia da cidade.
Em 1950, o cidadão médio de Hong Kong tinha renda equivalente a
apenas 36% da renda do cidadão médio no Reino Unido. Mas, à medida que
Hong Kong aceitou a liberdade econômica (de acordo com o relatório, Hong
Kong é considerado a economia mais capitalista do mundo todos os anos
desde 1970), ele se tornou mais rico. Hoje, a renda per capita de Hong
Kong é 68% maior do que no Reino Unido. Como escreve Marian Tupy,
editora do site HumanProgress.org, “a pobreza que Gellhorn testemunhou
desapareceu – graças à liberdade econômica”.
Podemos ver diferenças ainda maiores quando comparamos países
capitalistas e países socialistas: Chile x Venezuela, Alemanha Ocidental
x Alemanha Oriental, Coreia do Sul x Coreia do Norte, Taiwan x China
maoísta, Costa Rica x Cuba, e assim por diante. (Sim, eu sei, nenhum
desses exemplos são socialistas “de verdade”. Se bem que eles são sempre
socialistas de verdade, até deixarem de ser).
Exaltar os males do capitalismo num cartaz ou numa manchete de jornal
é uma moda que não parece prestes a desaparecer, mas, quando nos
depararmos com ideias sem base como essas, temos de nos lembrar de que
os dados simplesmente não sustentam os anticapitalistas.
Alexander C. R. Hammond é
pesquisador de um grupo de estudos de Washington D.C. e membro da
African Liberty. Ele também é colaborador da Young Voices e costuma
escrever sobre liberdade econômica, desenvolvimento da África e
globalização.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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