"Ele lê, ouve e vê o que quer. Quando não quer mais, vai embora e, em geral, não volta", escreve J. R. Guzzo.
Concordo que a imprensa possa ser parcial, mas se não não tenta
alcançar o máximo de objetividade - isto é, não busca relatar os fatos
sem vieses -, ficará perdida no mundo ideológico das narrativas. Este,
aliás, é o mundo de grande parte da imprensa brasileira:
O governo do presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) reclama, o tempo todo, que a mídia brasileira não é
imparcial. Ao contrário: toma sempre partido quando publica qualquer
informação, opinião ou análise, e esse partido é sempre contra o
governo.
A guerra não fica só no xingatório. Tem se manifestado em corte de
assinaturas, corte de verbas publicitárias, corte de acesso a
informações e por aí afora — incluindo uma tentativa de mudar a lei que
obriga as sociedades anônimas a publicar seus balanços em jornais.
A mídia, naturalmente, acha que tudo isso é uma tremenda indecência.
Nos seus protestos mais exaltados, fala em “atentado à liberdade de imprensa”, “ameaça à democracia” e sabe Deus que outros horrores mais.
Seria bom, em nome da clareza, olhar um ou dois minutos para os
fatos, nessa história toda — a menos que se queira, deliberadamente,
levar adiante um mal-entendido tamanho família. Primeiro fato: a
imprensa não é imparcial em relação ao governo. Ao contrário: detesta
sem nenhum disfarce, ou com disfarces realmente lamentáveis em sua
pobreza, o presidente da República, seu governo, sua família, suas
ideias, tudo o que faz, tudo o que não faz e até o que imagina que o
governo possa estar pensando. Isso aparece de ponta a ponta no
noticiário, nos editoriais e na seleção das opiniões.
Segundo fato: a imprensa não tem direito algum a dinheiro público na
forma de “verbas publicitárias”, e a lei que obriga a publicação dos
balanços é uma pura e simples safadeza, que não deixa de ser menos
safada apenas porque é velha.
Terceiro fato: dizer que a imprensa “está apenas cumprindo o seu
dever de informar” é hipocrisia em modo “extremo”. Ela está, ao
contrário, querendo prejudicar o governo em tudo o que for possível.
Vamos, agora, aos fatos do outro lado — que na verdade é um fato só. É
o seguinte: a imprensa não tem a menor obrigação de ser imparcial em
relação à coisa nenhuma — nem de ser parcial, obviamente. Tem, apenas, a
obrigação de ser livre. É o que diz a lei: todo mundo, e não só a
mídia, tem o direito de se expressar livremente em qualquer
circunstância.
O governo não tem de ser juiz da imprensa. O Congresso não tem de ser
juiz da imprensa. Só existe um juiz para a imprensa: o público. Ele lê,
ouve e vê o que quer. Quando não quer mais, vai embora e, em geral, não
volta. O resto é tudo uma monumental perda de tempo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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