A Câmara oferece ao país, ano após ano, seja lá qual for o governo, um
dos seus mais bem montados espetáculos de falsa justiça que a malícia
política consegue colocar em cartaz. J. R. Guzzo, em sua coluna na Gazeta do Povo:
Um emprego de R$ 10 mil por mês não é algo que você encontra por aí,
jogado na rua. Milhões de brasileiros, em qualquer lugar do país, iriam
se se sentir realizados com um salário desses, na imensa maioria dos
postos de trabalho disponíveis hoje no mercado. Para falar a verdade, R$
10 mil mensais é o que uma boa empresa de tecnologia, por exemplo, paga
para um trabalhador já razoavelmente qualificado – várias delas,
inclusive, têm tido problemas para preencher as vagas que oferecem por
uma remuneração desse tamanho, pois as qualificações exigidas estão
acima da competência demonstrada pela maioria dos candidatos.
Sai de cena, à esta altura, o mundo real. Entra, em seu lugar, o
mundo da ficção. Um salário mensal de R$ 10 mil, ali, é visto com o
desprezo que você tem por uma moeda de 10 centavos, em peso argentino –
nem existe, aliás. Nesse mundo, o salário médio – não o mais alto, o
médio – é de R$ 24 mil por mês. Só que, para azar seu, essa ficção
existe. Pior: é você quem paga cada tostão gasto por ela. É a Câmara dos
Deputados da República Federativa do Brasil.
A injustiça mais perversa, como se sabe, é a falsa justiça – e a
Câmara oferece ao país, ano após ano, seja lá qual for o governo, um dos
seus mais bem montados espetáculos de falsa justiça que a malícia
política consegue colocar em cartaz. Vira e mexe socam para cima do
cidadão a palavra mágica que faz viver essa falsa justiça: “isonomia”.
Esqueça tudo o que os políticos lhe dizem sobre ela, por um excelente
motivo: é mentira, pura e simples.
No caso da Câmara de Deputados, segundo eles, isonomia quer dizer
“igualdade” de tratamento entre os funcionários – e quem poderia ser
contra uma coisa linda como essa? Conversa. “Isonomia” , na prática, é o
pé-de-cabra que usam para arrombar a porta da sua casa e ir buscar o
seu dinheiro. É simples: eles aumentam os salários da minoria que está
no topo da árvore, e daí, por uma questão de “justiça”, aumentam por
igual a massa que está agarrada nos galhos de baixo. Se não fosse assim,
onde iria parar a igualdade na nossa sagrada casa de leis? O resultado é
uma conta cada vez mais monstruosa apresentada ao contribuinte.
Talvez fosse menos safado, em termos puramente aritméticos, se isso
mexesse com um pequeno grupinho. Mas não se trata de um grupinho. A
Câmara dos Deputados, acredite se quiser, consegue ter no presente
momento mais de 16,5 mil funcionários – isso numa hipótese benigna, pois
pode ser mais. (Os donos do lugar desenvolveram, ao longo das décadas,
uma competência sem igual para embaralhar números, esconder informações e
falsificar a verdade.)
Há os efetivos, os de “natureza especial”, os contratados livremente
pelos deputados (olha aí a “rachadinha”), os terceirizados – vai pondo. O
salário mensal mínimo de um servidor concursado é de R$ 16,5 mil reais,
o salário máximo é de R$ 31,5 mil; eis aí a média de R$ 24 mil citada
acima, duas vezes e meia a remuneração dos sonhos do cidadão brasileiro
que faz trabalho de verdade, e que paga para encher o bucho desse povo
todo a cada vez que acende a luz, fala no celular ou põe um litro de
álcool no carro. O que recebe deles, em troca? Zero. Somando tudo o que
produzem durante um ano inteiro, não sai dali uma única caixinha de
chicletes.
Pode dar certo um negócio desses? O que existe aí, tirando a
enganação, é uma máquina montada para arrancar dinheiro de quem tem
menos e dar a quem tem mais. Misturam a prática da injustiça por má
intenção, o erro por incompetência e a inação por preguiça. Isso não é
mau governo. É o seu inimigo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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