Com mais de 170 mil casos registrados anualmente, câncer de pele é o
mais comum no Brasil; chances de cura são grandes para casos
diagnosticados no início
Foto: Reprodução
A chegada do verão vem, para muitos, com as sonhadas férias
na praia e descanso à beira mar. Todo o relaxamento, no entanto, não pode
significar desatenção com a saúde. Com o aumento da incidência solar natural da
época, os cuidados com a pele precisam ser redobrados, já que a exposição ao
sol aumenta os riscos do câncer de pele. Os últimos dados divulgados pelo
Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam que, até o final de 2019, mais de
171 mil pessoas terão sido diagnosticadas com a doença. O número diz respeito a
dois tipos de câncer: o câncer de pele não melanoma e o câncer de pele
melanoma, somados. Na Bahia, a estimativa é de cerca de 6.200 novos casos de
câncer de pele em 2019. Segundo o oncologista André Bacellar, do NOB (Núcleo de
Oncologia da Bahia) – Oncoclínicas, “o efeito cumulativo da exposição solar sem
proteção ao longo da vida é o principal responsável pelo desenvolvimento do
tumor cutâneo”.
O mais comum deles, o não melanoma, é responsável pela maior
parcela de casos, superando a marca de 165 mil novos diagnósticos ao ano, mas
possui altos índices de cura quando é detectado e tratado precocemente. Já o
câncer de pele melanoma, menos incidente, mas com alto grau de letalidade, pode
aparecer em qualquer parte do corpo, sendo subdividido em cutâneo (em geral na
pele), acral (palma da mão, sola do pé e debaixo das unhas), uveal (olhos) e de
mucosa (caso de boca, intestino, reto e qualquer outra mucosa do corpo).
Destes, o cutâneo é o mais frequente e o que tem a exposição solar como
principal fator de risco, aparecendo tanto em regiões foto-expostas
(ante-braço, colo, face, pernas, dentre outros) ou regiões que geralmente são
protegidas do sol.
Apesar de corresponder somente a 3% dos tumores malignos de
pele registrados no país, o melanoma é considerado o tipo mais grave por sua
capacidade de causar metástase. No Brasil, dos cerca de 7 mil casos registrados
por ano, foram quase 1.800 mortes relacionadas à doença.
“É necessário ficar alerta ao surgimento de alguma pinta
nova ou mudança no aspecto de alguma pinta pré-existente, como aumento de tamanho,
variação de cor, perda da definição de bordas ou ainda quando as bordas ficam
irregulares ou até mesmo sangramentos. Ao primeiro sinal de mudança, é
preciso consultar logo um especialista”, afirma a oncologista clínica do Grupo
Oncoclínicas, Carolina Cardoso.
Segundo ela, independentemente da classificação do câncer de
pele (se melanoma cutâneo ou não-melanoma), os fatores que aumentam o risco são
basicamente os mesmos: a exposição prolongada e repetida ao sol, sem uso de
proteção adequada. Ter a pele e olhos claros, com cabelos ruivos ou loiros, ou
ser albino (ou possuir histórico familiar) também figuram como fatores que
contribuem para o aumentos no risco. “A irradiação ultravioleta do sol -
conhecida como raio UV - é a principal vilã no câncer de pele. Continuada, ou
mesmo intermitente, como em períodos de férias, por exemplo, se feita de
maneira não protegida, pode ser considerada um fator de risco preocupante”.
Carolina ressalta ainda que, além das pessoas que
possuem histórico familiar e exercem profissões que exigem exposição solar
diária, os tabagistas também podem estar mais suscetíveis a desenvolver câncer
de pele. “Além disso, aqueles portadores de alguma imunossupressão também podem
ter seu risco aumentado. Porém, tais grupos de risco não invalidam a
necessidade de cuidado em todo o tipo de pele. Inclusive, a pele negra, quando
há desenvolvimento de melanoma, têm geralmente pior prognóstico”, pontua.
O protetor solar é a melhor forma de proteção. Ele deve ser
aplicado a cada duas horas e repassado, principalmente, após o contato da pele
com a água. Proteger bebês e crianças é especialmente importante. Antes
dos 6 meses de idade, eles devem ser mantidos fora do sol usando roupas,
chapéus, cobertores e persianas. Após os 6 meses, adicione protetor solar à
mistura, após consultar o pediatra. E não se esqueça dos óculos de sol para
crianças pequenas.
“Para se ter uma ideia, os raios de sol podem penetrar janelas,
atravessar a cobertura de nuvens e ainda são refletidos pela água, areia e
concreto. Ou seja: nem a sombra é completamente protetora”, descreve a Dra.
Carolina.
O médico André Bacellar também reforça a importância das
medidas fotoprotetoras. “O protetor solar não é passaporte para ficar por tempo
ilimitado sob exposição direta ao sol, especialmente nos horários de maior
incidência da radiação UV”.
Como detectar e tratar o câncer de pele
Os principais sinais e sintomas de câncer não-melanoma
são a presença de lesões cutâneas com crescimento rápido, ulcerações que não
cicatrizam e que podem estar associadas a sangramento, coceira e algumas vezes
dor e geralmente surgem em áreas muito expostas ao sol como rosto, pescoço e
braços.
É importante a avaliação frequente de um especialista para
acompanhamento das lesões cutâneas. “A análise da mudança nas características
destas lesões é de extrema importância para um diagnóstico precoce. O
dermatologista tem o papel de orientar uma proteção adequada para descobrir os
possíveis riscos que os raios solares podem causar na pele”, explica Frederico
Nunes, oncologista do Grupo Oncoclínicas.
O câncer de pele não-melanoma pode ser classificado em:
carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. O primeiro é o tipo mais
frequente, com crescimento normalmente mais lento. O diagnóstico se dá,
usualmente, pelo aparecimento de uma lesão nodular rosa com aspecto peroláceo
na pele exposta do rosto, pescoço e couro cabeludo. Já no carcinoma
espinocelular, mais comuns em homens, ocorre a formação de um nódulo que cresce
rapidamente, com ulceração (ferida) de difícil cicatrização.
Os casos de câncer de pele do tipo melanoma são, por sua
vez, geralmente os que se iniciam com o aparecimento de pintas escuras na pele,
que apresentam modificações ao longo do tempo. As alterações a serem avaliadas
como suspeitas são o “ABCDE”- Assimetria, Bordas irregulares, Cor, Diâmetro,
Evolução. “A doença é mais facilmente diagnosticada quando existe uma avaliação
prévia das pintas”, descreve a Dra. Carolina.
É recomendável a ressecção cirúrgica destas lesões por
especialista habilitado para adequada abordagem das margens ao redor do tumor.
Posteriormente, dependendo do estágio da doença, pode ser necessária a
realização de tratamento complementar. “Vale ressaltar que o tratamento para o
câncer de pele pode ser feito apenas através de cirurgia quando é detectado no
início. Já em casos mais avançados da doença pode ser preciso a realização de
terapias complementares”, pondera a médica.
“Quando diagnosticada
precocemente, quimioterapia, radioterapia imunoterapia ou terapias alvo são
raramente necessárias e a cirurgia é capaz de resolver a maioria dos casos”,
diz o Dr. Frederico.
Ele destaca ainda que diversos avanços têm melhorado a
qualidade de vida e sobrevida dos pacientes, com principal atenção às boas
respostas às novas terapias que revolucionaram o tratamento do melanoma, como
exemplo, os imunoterápicos, que estimulam o próprio sistema imunológico do
paciente a identificar e combater as células malignas.
“O que a gente observava, antes, é que os melanomas
avançados não tinham uma resposta boa aos tratamentos mais tradicionais,
infelizmente. A chegada da imunoterapia no câncer de pele vem apresentando
resultados fabulosos no tratamento dos pacientes com melanoma metastático.
Nestes casos, as respostas têm se mostrado sustentadas ao longo do tempo, com
importante qualidade de vida. É uma revolução. Ainda fazem parte dessa nova
etapa no tratamento oncológico com enorme destaque o tratamento com drogas alvo
molecular, por exemplo”, reforça o Dr. Frederico.
Mas o melhor tratamento ainda, segundo os oncologistas,
continua sendo a prevenção e o acompanhamento contínuo de possíveis alterações
que possam indicar o surgimento da doença, promovendo assim, o seu diagnóstico
em fase inicial. Eles recomendam que os cuidados sejam intensificados no verão,
com o uso de protetores solares, viseiras, chapéus e/ou bonés, bem como roupas
e óculos de sol com proteção UV, mas que devem seguir o ano inteiro. E não
deixar de se consultar com dermatologistas regularmente.
“Use proteção solar diariamente, como protetor solar,
chapéu, roupas com proteção UV e não fique exposto diretamente ao sol, principalmente
em períodos mais críticos no verão, como de 10h à 16h. Não se esqueça de
procurar um médico especialista de confiança e de examinar a própria pele
sempre. Quando identificado em fase inicial, o câncer de pele tem excelentes
respostas aos tratamentos e com altos índices de cura”, finaliza Dra. Carolina.
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